Começa com uma floresta de palmeiras, cena quase familiar. Podia ser no Brasil, talvez no Ceará. Não por coincidência. Narra uma história nos trópicos. Empanando a visão das árvores vem fumaça, estranha porque amarelada. Entra o tom de um instrumento de corda. De surpresa uma bola de fogo a tudo envolve, fazendo sentido à letra da música de fundo: This is the end.
A 26 de outubro de 1979 estreou nos cinemas brasileiros Apocalypse Now. Hoje cult, o filme de Francis Ford Coppola atravessa gerações de cinéfilos e é virtual unanimidade nas listas dos melhores filmes de guerra.
Talvez porque não seja exatamente de guerra. Nem mesmo sobre a guerra do Vietnã. Seu enredo veio da experiência de um polonês a serviço dos belgas que décadas antes recebera uma oferta de emprego no rio Congo, na África.
Passou pouco tempo, porém o suficiente para recolher material para uma novela traduzida no Brasil como No Coração das Trevas (Heart of Darkness), sob o nome literário de Joseph Conrad.
Da novela de Conrad veio o enredo do filme, a colonização – é preciso agentes que a façam na prática – o chamado serviço sujo. Um desses agentes enlouquece. Torna-se disfuncional para o sistema. Um segundo agente é chamado para fazer outro serviço sujo – eliminar o colega. Para isso, sobe um rio, em um barco.
Nessa viagem o agente (o capitão Willard, no filme) passa pelo horror. Que pode ser aquele das guerras em geral; daquela guerra em particular; do colonialismo; ou das trevas do coração humano.
A cena inicial (This is the end) mostra os helicópteros estadunidenses a bombardear uma terra distante numa guerra perdida. Lembra talvez outro Fim: o da própria Humanidade, confrontada hoje por problemas climáticos de solução difícil. E essa pode ser mais uma interpretação.
*Paulo Avelino é contista e romancista cearense