Opinião: Por que, mesmo após 40 anos, Apocalypse Now permanece como um dos melhores filmes de guerra

Uma das obras-primas de Francis Ford Coppola, estreada em outubro de 1979, atravessa gerações de cinéfilos com sua incontornável narrativa

Começa com uma floresta de palmeiras, cena quase familiar. Podia ser no Brasil, talvez no Ceará. Não por coincidência. Narra uma história nos trópicos. Empanando a visão das árvores vem fumaça, estranha porque amarelada. Entra o tom de um instrumento de corda. De surpresa uma bola de fogo a tudo envolve, fazendo sentido à letra da música de fundo: This is the end.

A 26 de outubro de 1979 estreou nos cinemas brasileiros Apocalypse Now. Hoje cult, o filme de Francis Ford Coppola atravessa gerações de cinéfilos e é virtual unanimidade nas listas dos melhores filmes de guerra.

Talvez porque não seja exatamente de guerra. Nem mesmo sobre a guerra do Vietnã. Seu enredo veio da experiência de um polonês a serviço dos belgas que décadas antes recebera uma oferta de emprego no rio Congo, na África.

Passou pouco tempo, porém o suficiente para recolher material para uma novela traduzida no Brasil como No Coração das Trevas (Heart of Darkness), sob o nome literário de Joseph Conrad.

Da novela de Conrad veio o enredo do filme, a colonização – é preciso agentes que a façam na prática – o chamado serviço sujo. Um desses agentes enlouquece. Torna-se disfuncional para o sistema. Um segundo agente é chamado para fazer outro serviço sujo – eliminar o colega. Para isso, sobe um rio, em um barco.

Nessa viagem o agente (o capitão Willard, no filme) passa pelo horror. Que pode ser aquele das guerras em geral; daquela guerra em particular; do colonialismo; ou das trevas do coração humano.

A cena inicial (This is the end) mostra os helicópteros estadunidenses a bombardear uma terra distante numa guerra perdida. Lembra talvez outro Fim: o da própria Humanidade, confrontada hoje por problemas climáticos de solução difícil. E essa pode ser mais uma interpretação.

*Paulo Avelino é contista e romancista cearense