Para adentrar a casinha cor de salmão que fica ao número 34 da rua Paracuru — no Centro de Fortaleza, mas num refúgio de calmaria em meio à correria do bairro —, é preciso tocar um sino para anunciar a própria chegada. Uma vez recebido por um dos membros da equipe do local, é feito um pedido: “Por amor, deixe aqui seus sapatos”.
Do soar do instrumento aos pés descalços, o processo de entrada ajuda a imergir na experiência proposta pelo restaurante Annapurna, espaço que oferta diversas opções de pratos vegetarianos e veganos baseado em princípios da cultura indiana. O convite é por outra forma de encarar o ato da alimentação.
Sagrada e com bondade
Quem rege o Annapurna é o cearense Nitya Sukhi Romero, 61 anos, que materializa no empreendimento diversas filosofias e experiências vivenciadas por ele ao longo das décadas. “Saí do Brasil em 1985 e fui morar nos Estados Unidos, acabei no Havaí”, inicia.
A saída do País é fato central para a criação do restaurante, uma vez que foi pelo mundo que Nitya, por exemplo, se aproximou do movimento hare krishna, do trabalho com gastronomia e das bases indianas que norteiam o espaço.
“Se diz que o hare krishna é a religião da cozinha”, ressalta Nitya, que explica que o Annapurna promove a chamada dieta sáttvica: “Alimentação no modo da bondade”, resume. Com ingredientes naturais e buscando insumos sem violência, o restaurante traz opções veganas e vegetarianas.
É comida “bonita, gostosa e sadia, que ajuda a pessoa a ter paz”, como ele costuma brincar — ainda que com bastante verdade. Annapurna, na cultura hindu, é a deusa da alimentação. “É coisa sagrada”, atesta.
Início do Annapurna
Nas andanças pelo mundo, Nitya trabalhou em cozinhas, angariando conhecimentos diversos. “Meu aprendizado foi autodidata e na prática, seguindo receitas”, diz. Ao voltar para Fortaleza, em 2010, passou a partilhar o que aprendeu pela cidade.
Primeiro em feirinhas, nas quais oferecia de samosas — espécies de pastéis indianos — a bolos. Com dedicação e esforço coletivos, o projeto cresceu e passou a ocupar a casa na qual segue até hoje, um imóvel de família em uma agradável ruazinha sem saída entre a Cidade da Criança e a Praça Pajéu.
De terça a domingo, o espaço abre para almoço ofertando a R$ 26 refeições que incluem suco e, de entrada, dahl — uma tradicional sopa indiana que, no Annapurna, é geralmente feita com base de ervilha e legumes.
Diversidade de opções
Apesar de ter a Índia como base e norte para o espaço, o cardápio do Annapurna promove um passeio por sabores do mundo todo com as opções de pratos principais.
É possível experimentar os pratos indiano, árabe, italiano, mexicano, tailandês, oriental e regional, que vêm sempre acompanhados de arroz, feijão e salada de legumes e vegetais. Há, ainda, o veggie burger, feito de grão de bico ou ervilha, e o sanduíche de falafel no pão árabe.
“O Havaí é muito diverso, tem gente de todas as partes do mundo, então tive a oportunidade de comer comida mexicana feita por mexicanos, árabe por árabes, indiana por indianos”, contextualiza Nitya. “A gente decidiu diversificar o cardápio para agradar a todos os paladares e atrair mais pessoas”, avança.
Além do uso na gastronomia, o Annapurna também agrega lado religioso e cultural. Nitya diz, por exemplo, que atua também na tradução de escrituras do sânscrito para o português. Há, ainda, um grupo virtual dedicado a estudos da cultura védica.
“Para mim, o restaurante não é uma atividade comercial. Já tenho 61 anos, o tempo de querer ganhar dinheiro e ficar rico — e eu nunca me dediquei muito a isso — já passou. Então, chega esse estágio da vida onde você quer fazer alguma coisa que se sinta bem fazendo, que dê algum benefício às outras pessoas”, celebra.
Centro Cultural Annapurna
Quando: funcionamento de terça a domingo, de 11h às 14h30
Onde: rua Paracuru 34, Centro; disponível também no iFood
Quanto: pratos a R$ 26
Mais informações: no Instagram @annapurnairacema ou no Facebook