‘Nem acreditava que estava ao lado dele’: cearenses entrevistados por Jô Soares relembram emoção

Edmilson Filho, Falcão, Niara Meirele e Chico Pessoa protagonizaram momentos hilários ao lado do escritor, humorista e apresentador, falecido nesta sexta-feira (5)

O sofá largo, a bancada espaçosa, o papo descontraído e inteligente. Jô Soares está entre os gigantes da televisão e da cultura brasileira. Na seleta galeria de personalidades entrevistadas pelo escritor, humorista e apresentador – falecido nesta sexta-feira (5), em São Paulo – estão vários nomes cearenses, de diferentes segmentos e ofícios. Em cada fala, a emoção.

“Nem acreditava que estava ao lado dele contando as minhas histórias”, divide o comediante e ator Edmilson Filho. Tendo participado do programa em 2013 – na ocasião do lançamento do filme “Cine Holliúdy” na região Sudeste – o astro considera Jô uma referência para todos os comediantes brasileiros.

“E não só pela comédia, mas pela inteligência e o caminho que trilhou dentro da arte nacional. Pra mim, quando fui ao encontro dele naquele ano, foi uma experiência incrível”. De fato, o diálogo regado a diversos causos e risadas ocupou dois blocos da atração, garantindo hilários momentos.

Edmilson explicou, para um Jô e uma plateia encantados com as peculiaridades de nosso chão, o significado de algumas palavras em cearensês. Do mesmo modo, comentou sobre a vida pessoal e profissional.

“Era aquela coisa de você saber que agora estava no rol dos artistas, das pessoas entrevistadas pelo Jô Soares. Foi um sonho realizado estar lá conversando com ele. [A partida dele] é uma perda gigante para o Brasil todo – não apenas pelo artista que foi, mas pelo pensador, gênio da raça dos artistas do País”.

Nosso Leonardo da Vinci

Falcão compartilha do mesmo pensamento. Pudera: esteve oito vezes com o mestre, na ocasião do lançamento de cada disco. A estreia aconteceu em 1992, quando Jô ainda ocupava a grade do SBT. O cearense comenta o quanto o jornalista adorou o trabalho dele, travando uma amizade e admiração insuspeitas.

“Ele saiu espalhando tanto meu nome por aí que algumas pessoas de São Paulo vinham falar comigo e diziam: ‘Rapaz, eu encontrei com o Jô em um restaurante tal e ele só falou de você’”, conta. “Sempre fui muito fã porque, na adolescência, eu já o assistia como humorista no ‘Faça amor, não faça guerra’ e no ‘Viva o Gordo’”.

O fato de Jô ser bastante politizado, intelectual e preocupado com a cultura brasileira só aumentou o fascínio de Falcão por ele. Há, inclusive, uma experiência bastante emblemática relembrada pelo multi-artista. “Ele estava entrevistando o Tim Maia; quando terminou a gravação, me chamou e me apresentou. Disse: ‘Você conhece esse cara aqui?’. O Tim Maia olhou e disse: ‘Já ouvi falar’”, ri.

“Esse era o Jô. Um cara muito gentil, educado e generoso. Quando ele gostava, realmente puxava da pessoa. Dirigia o papo para que o entrevistado brilhasse. Agora, quando ele não gostava, também dava umas cortadas. No meu caso, sempre me tratou muito bem”.
Falcão
Ator, apresentador, humorista, músico e arquiteto

O último encontro entre os dois ocorreu no início dos anos 2010. Na ocasião, os papéis foram trocados: era Falcão o entrevistador de Jô, para um projeto de São Paulo. “Fiz apenas três ou quatro perguntas. Ele já estava um pouco debilitado. Considero-o uma espécie de Leonardo da Vinci. Mexeu em tudo que é coisa. E sempre fazia tudo perfeitamente, com vontade de fazer mesmo. Por isso, me influenciou”.

Vontade tão grande a ponto de mudar o rumo da TV nacional. A popularização dos talk shows no Brasil, por exemplo – formato pelo qual Jô é mais lembrado – aconteceu por meio de Soares, após dar uma pausa na carreira de humorista para investir nesse segmento. “É um legado realmente impressionante”, considera Falcão.

Sempre uma selfie

Igualmente fã inveterada de Jô, a apresentadora Niara Meirele não nega a tietagem. Sempre que havia oportunidade, trocava um abraço, um papo, uma selfie com ele. “Sabe quando você vê os seus ídolos na TV – Hebe Camargo, Faustão, Xuxa – e acha que são pessoas que só existem na tua cabeça, que nunca vai ver pessoalmente? Essa foi a sensação quando fiquei cara a cara pela primeira vez com o Jô Soares”.

Simpático e generoso são adjetivos recorrentes no relato dela, além do carinho expresso em falas e gestos. Na primeira vez que se encontraram, em 2012, conversaram longamente. Jô quis saber a história de Niara, quem era ela e o que fazia. Na sequência, passou a incentivá-la.

“Falava para mim, ‘você tem que ser nacional, que aparecer, tem que vim mais pro Sudeste, as pessoas precisam te conhecer’. Ele sempre deu um jeitinho de me colocar em alguma coisa, de ajudar de alguma forma”, rememora Niara. “Em 2013, os meninos do Cine Holliúdy foram dar uma entrevista pra ele e eu acompanhei essa turma. Fiz uma entrevista pro Se Liga dentro do estúdio dele, envolvendo a plateia, interagindo... Foi um momento único”.

Outro instante especial foi em 2014. Niara dessa vez estava entre o público, assistindo à gravação do programa. Trajando vestido curto em meio ao frio do estúdio, a cearense pediu à produtora para que saísse do lugar onde estava, mas notou uma movimentação estranha por parte de Jô. Era tudo combinado: a intenção era conversar com Niara dali mesmo, na plateia.

“Foi lindo, um momento singular na minha vida. Assim que eu soube da partida dele hoje de manhã, chorei muito. Porque não é todo mundo que é assim, né? Não é todo mundo que tem essa boa vontade de mostrar a gente, estender a mão, de dar oportunidade. Ele foi tudo isso e muito mais”.

O cheiro e a presença

Quem também esteve ao lado do autor do bordão “Beijo do Gordo” foi o cantor e compositor Chico Pessoa, em 2009. Foi talvez a primeira aparição do artista a nível nacional, fato festejado por ele diante do privilégio de ter sido ao lado de Jô. 

“Ele me abriu muitas portas. Até aquele momento, tinha passado apenas um vídeo meu no programa da Ana Maria Braga, cantando uma música sobre Fortaleza. O programa do Jô foi o pontapé para que as pessoas conhecessem meu rosto, para além das músicas”, situa.

Tendo colocado nas redes sociais a frase “Jô eterno” em homenagem ao apresentador, Chico recorda ainda do cheiro dele. Segundo o músico, Jô gostava de ser elogiado por essa característica. “E, de fato, ele era muito cheiroso. Um crianção, tinha cheiro de talco”.

“Como todo cearense, levei castanha para ele quando fui ao programa. Foi muito engraçado vê-lo com dois pacotes de cada lado do braço. Ele deixava o entrevistado super à vontade. Eu estava muito apreensivo por estar com o Jô, com aquela capacidade toda dele, inteligentíssimo. Mas, no desenrolar da entrevista, foi perfeito”, vibra.

Várias outras personalidades cearenses relembraram na internet o legado de Jô Soares. A Governadora do Ceará, Izolda Cela (sem partido), lamentou a morte do artista. “Que Deus conforte o coração da família, amigos e fãs”, expressou. 

Por sua vez, o prefeito de Fortaleza, José Sarto Nogueira (PDT), exaltou o talento do gênio. “Uma referência da nossa televisão”.

Além de Edmilson Filho, Falcão, Niara Meirele e Chico Pessoa, também estiveram ao lado de Jô os cearenses Belchior (1946-2017); Valéria Vitoriano – intérprete da personagem Rossicléa; a modelo Vanessa Vidal; o comediante José Netto, intérprete de Zé Modesto; entre outros.