A criação do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza celebra 15 anos em 2023. Para comemorar o aniversário, será realizada entre os dias 21 e 24 de novembro a 13ª Mostra Unifor de Cinema, que destaca parte da produção realizada no curso em exibições gratuitas no Cinema do Dragão.
14 curtas produzidos em diferentes esferas da formação universitária compõem a programação do evento, que conta ainda com debates com realizadores após as sessões todos os dias. São ficções, documentários, obras híbridas, experimentais e até uma animação. As produções foram fruto de atividades de disciplinas, trabalhos de conclusão de curso e, ainda, dos projetos Cine Experiência Lab e Lab.doc.
“Dentro da estrutura de matriz do curso, a gente tem dois laboratórios — de desenvolvimento de documentário e de ficção — e articula as disciplinas teóricas e práticas a partir dessas duas experiências”, explica Bete Jaguaribe, professora e coordenadora do Curso de Cinema e Audiovisual da Unifor.
Neste sentido, a curadoria deste ano aposta no destaque às diversidades. “Mais do que buscar uma unidade estética entre os filmes, a gente pensou em dar um olhar mais panorâmico para os diferentes processos de realização que o curso abriga hoje em dia”, resume Isaac Pipano, professor do curso e curador da mostra ao lado de Andreia Pires e Samuel Brasileiro.
A partir dessa pluralidade de formas de fazer, Bete aponta que “a produção do curso ganhou uma potência muito grande”. Contando com 2023, as cinco edições mais recentes da MUC somam um total de 74 filmes produzidos por estudantes e egressos do curso. O número inclui produções de repercussão em festivais cearenses e nacionais como “Tommy brilho”, de Sávio Fernandes; “Do Tanto de Telha no Mundo”, de Bruno Brasileiro; e “Entre o Passado”, de Larissa Estevam.
“O curso de cinema da Unifor faz com que a gente entre produzindo, realizando”, atesta Leão Neto, egresso que apresenta na MUC o curta “Circuito”, co-dirigido com Alan Sousa. A também egressa Nicole Nasser faz coro: “A exibição dos filmes é muito importante porque, além de promover os projetos, também incentiva os alunos a fazer cinema”, afirma a diretora de “A parte que falta”.
Tanto o filme de Leão quanto o de Nicole foram frutos do Cine Experiência Lab em diferentes momentos. Ele descreve o projeto como um “mergulho num processo criativo durante dois anos para desenvolver, produzir e finalizar um curta-metragem de ficção”.
“Foi um processo bem extenso, mas de muito aprendizado e amadurecimento. Toda semana havia conversas e tutorias com profissionais e professores, que ajudavam dando direcionamento melhor para as nossas histórias”, acrescenta ela.
“O MUC é muito importante não só nesse aspecto da experiência de ver um filme numa sala de cinema, como também numa projeção dos alunos no mercado, porque é um evento que fomenta janelas para novos realizadores daqui do Ceará”, ressalta Leão.
Criação de janelas
Um movimento recente que reflete o fortalecimento do curso e da produção advinda dele foi a migração da realização da mostra, que saiu da própria universidade para ocupar o Cinema do Dragão — onde ocorre de forma gratuita e aberta ao público.
“A mostra funciona como uma espécie de vitrine, mesmo, que dá visibilidade ao que é produzido. Ao mesmo tempo, é aberta ao público, favorecendo o encontro, o debate”, destaca Bete. Descrevendo a distribuição como “o ponto mais importante, ou tenso” do audiovisual no Brasil, Isaac reitera a missão do evento.
“A gente já superou a perspectiva de que não haveria produção nos estados fora do eixo Rio-São Paulo, mas ainda sofre com a ocupação das salas. Nesse sentido, uma mostra de cinema é fundamental como parte de formação de público. Temos que ofertar espaços qualificados de exibição, como o Cinema do Dragão, para que o público possa ter acesso a outros repertórios”, defende o curador.
Encantar o cinema
Além dos curtas produzidos no âmbito do curso da Unifor, a MUC acolhe uma exibição especial nesta terça (21), a partir das 18h30min, do longa “A Flor do Buriti”. Com direção assinada por Renée Nader e João Salaviza, a produção foi realizada de forma coletiva e colaborativa com a comunidade indígena Krahô, de Tocantins.
A exibição do longa é uma das novidades da MUC em 2023, ancorada por sua vez na também inédita adoção do chamado “operador poético” que norteia a edição do ano: “Encantar o Cinema”.
Baseada em matrizes do pensamento indígena brasileiro, a ideia é concretizada não apenas na sessão especial, mas ainda no debate posterior à exibição, com o roteirista Francisco Hyjnõ Krahô e a produtora Júlia Alves, e na própria seleção de curtas produzidos por estudantes e egressos da Universidade.
“A gente gostaria de fazer uma analogia para pensar qual lugar o cinema tem no nosso mundo e como ele é alvo de processos de colonização e homogeneização. A ideia do encantamento convoca a pensar uma pluralidade de possibilidades de criação do cinema”, elabora Isaac.
A escolha do recorte curatorial manifesta, na visão dele, a “pluralidade de gestos cinematográficos e criações que escapem ao roteiro pré-programado dos grandes estúdios e de certo tipo de cinema”.
“Contra a hegemonia de um cinema único, o cinema encantado seria esse que se abre a múltiplas possibilidades”, resume. O recorte curatorial, explica o pesquisador, faz “um aceno à possibilidade de que os processos de formação permitam o surgimento de novas formas cinematográficas”.
Graduação pioneira
Como a primeira graduação em Cinema e Audiovisual do Ceará, o curso da Unifor acompanhou o desenvolvimento e o fortalecimento do setor como um todo no estado, das formações às políticas públicas de fomento à produção. “Ele é um curso pioneiro (e surge) num ambiente em que, naquele momento, havia mais cursos livres. Nossas gerações de cineastas se formavam até então nos próprios sets”, contextualiza Bete.
“O curso de cinema da Unifor, pioneiro na região, é uma conquista do campo audiovisual. O ambiente da universidade favorece o pensamento crítico, é um espaço de reflexão sobre o que se faz. A universidade é muito importante porque não é só a técnica que se aprende, mas especialmente o lugar de encontro e troca de experiências, elaboração”, avança a coordenadora.
“Nesse período de 15 anos, a gente vê o impacto. Esse atual momento é bastante diferente daquele período, hoje a gente tem uma configuração de formação muito potente no Ceará, experiências diversas que se complementam”, ressalta.
Ecoando o olhar ampliado para o marco da instituição, Isaac define a comemoração dos 15 anos do curso como “também uma celebração das políticas do campo cultural no Estado”. “A gente está falando na perspectiva de um curso universitário, mas o pensamento é cada vez mais direcionado à constituição de um ecossistema de realização audiovisual. O curso faz parte de uma cadeia — que envolve também produção de pensamento acadêmico e científico”, aponta o curador, que ressalta o “êxito” geral das políticas formativas no Estado.
“O Ceará é uma referência no país no que tange à formação em audiovisual, ele se destaca não só pela quantidade de espaços formativos, mas pela qualidade. Essa é uma celebração não só do curso de cinema da Unifor, mas de Fortaleza, do Ceará. Um aceno para que as políticas se mantenham e possam sempre se ampliar”, finaliza.
CONFIRA A PROGRAMAÇÃO
Terça, 21, a partir de 18h30, no Cinema do Dragão
- Abertura oficial e exibição de “A Flor do Buriti”, de Renée Nader e João Salaviza, seguida de debate com o roteirista Francisco Hyjnõ Krahô e a produtora Júlia Alves
Quarta, 22, às 19 horas, no Cinema do Dragão
- Exibição dos curtas “A parte que falta”, Nicole Nasser; “Parada solicitada”, de Valdir Gomes; “Limiar”, de Évelyn Raquel e Dayanara Braga; “Para ti, princesa”, de Júlia Moreira de Araújo; e “Gaivotas”, de Kyra Gomes, Lucas Rocha, Lênin Cabral, Emília Rêgo e Bia Monteiro
Quinta, 23, às 19 horas, no Cinema do Dragão
- Exibição dos curtas “Águas passadas”, de LP Arruda; “Cidade ruína”, de Mabi Sousa e Izaaaki; “Figuras no espelho”, de Nathan Ary e Marina Parente; e “Quem sabe nesse carnaval”, de Davi Jaguaribe
Sexta, 24, às 19 horas, no Cinema do Dragão
- Exibição dos curtas “Coloria a minha vida”, de Erik Roque; “Memórias de acesso”, de Bruno Lobo La Loba; “A voz do Brasil: Edição especial”, de Lucas Sá; “Sabiaguaba: Paraíso em extinção”, de Delano Almeida; e “Circuito”, de Alan Sousa e Leão Neto
13ª MOSTRA UNIFOR DE CINEMA
Quando: de 21 a 24 de novembro, com sessões sempre às 19 horas
Local: Cinema do Dragão (rua Dragão do Mar, 81, Praia de Iracema)
Quanto: acesso gratuito, com retirada de até dois ingressos por pessoa na bilheteria uma hora antes de cada sessão
Mais informações: @cinemaunifor e @cinemadodragao