Esqueça a ideia de que o erudito é para poucos. Em Fortaleza, a realidade é bem diferente. A expressiva lotação em concertos atesta a força dessa linguagem musical entre nós. Do Theatro José de Alencar aos palcos da Universidade de Fortaleza, passando pelo Cineteatro São Luiz e as Universidades Federal e Estadual, a adesão é máxima e bonita.
Mas, afinal, por que as pessoas se sentem cada vez mais atraídas por esse tipo de apresentação? Quem responde são os próprios responsáveis por alguns dos principais grupos de orquestra da cidade. Para o maestro Alfredo Barros, diretor e regente titular da Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual do Ceará, a quantidade de público cativo em concertos dessa natureza é desproporcional ao que vemos em outras cidades.
“Os eventos sempre atraem o público. Na verdade, no ramo da música de concerto, música sinfônica e semelhantes, o que falta mesmo aqui no Estado é atenção pública governamental face à absurda e incompreensível carência de formação”, reflete. O mesmo pensamento acompanha a professora Liu Man Ying, uma das idealizadoras da Camerata de Cordas da Universidade Federal do Ceará.
Segundo ela, as pessoas naturalmente têm sede e fome por boa música, seja ela sinfônica, erudita ou popular. No caso do Ceará, cabe uma análise. É um dos poucos Estados do Nordeste que não tem uma orquestra sinfônica nem de cordas patrocinada pelo poder público. A título de comparação, alguns estados vizinhos possuem não apenas uma, mas duas orquestras estatais.
“Seria de supor que esse fato se devesse ao desinteresse da população quanto à música erudita e sinfônica. Mas os locais de espetáculos repletos com filas de pessoas sem conseguir entrar por já ter atingido a lotação máxima quando das apresentações da Camerata de Cordas da UFC e outros grupos sinfônicos, nos provam o contrário”.
Qual a diferença entre as orquestras?
Outro ponto importante: o que diferencia uma orquestra sinfônica de uma filarmônica? E uma camerata? Maestro da Camerata Unifor, Marcus Vinicius Cardoso explica tudo. De acordo com ele, a camerata, por exemplo, tem por característica principal ser uma formação musical de cordas friccionadas – violinos, violas, violoncelos e contrabaixo.
Apresenta-se como uma pequena orquestra de cordas, sempre contando com os instrumentos mencionados em número menor de componentes em relação às orquestras. A quantidade pode variar de 15 a 20 integrantes.
As orquestras clássicas, por sua vez, são chamadas sinfônicas ou filarmônicas. Ambas possuem a mesma composição de instrumentos – cordas friccionadas, madeiras, metais e percussão. A distinção reside no meio de manutenção. As sinfônicas são mantidas pelo poder público; as filarmônicas, pela sociedade.
No caso particular da orquestra sanfônica, da Unifor, possui um título sui generis por se tratar de um trocadilho da palavra sinfônica com o nome popular do instrumento sanfona. O grupo é composto por acordeons juntamente com instrumentos de percussão, a exemplo do triângulo e da zabumba.
Tudo compreendido, vamos conhecer os principais grupos de orquestras atuantes na Capital.
Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Ceará
Formada em 2015, a Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Ceará é vinculada ao curso de Licenciatura em Música da instituição. Conforme Leandro Serafim, professor do curso e maestro do grupo, a orquestra não é profissional, mas direcionada à qualificação dos alunos do curso e de extensão. Ou seja, possui finalidade pedagógica. Ao longo do ano, realizam concertos com repertórios diferenciados. Instrumentos de cordas friccionadas, sopros e metais integram a Orquestra. Não possui recursos financeiros. Os integrantes tocam sem receber nada por isso, apenas buscando uma formação na qualificação.
Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual do Ceará
Sediada na universidade estadual, a Osuece atua com função pública e acadêmica, visando ensino, pesquisa e extensão. Está ativa há 14 anos ininterruptos. É formada por cerca de 65 integrantes, distribuídos entre os naipes das madeiras, metais, percussão e cordas. A direção e regência titular é do prof. Alfredo Barros, maestro e compositor. Neste mês, em clima de festa, o grupo realiza o Concerto de Aniversário no dia 31 de agosto, às 19 horas, no Cineteatro São Luiz. Os ingressos, a preços populares, estão à venda na bilheteria do Cineteatro e no site da Sympla por R$20 (inteira) e R$10 (meia).
Orquestra Sanfônica da Unifor
Ministrada pelo professor Pedro Feitosa, a Orquestra Sanfônica da Universidade de Fortaleza é ação de responsabilidade social idealizada em julho de 2014 pelo chanceler Airton Queiroz. Desde a época, é realizada em parceria entre a Escola de Aplicação Yolanda Queiroz e a Unifor. O projeto trabalha a sensibilidade por meio da música, beneficiando 50 alunos de 7 a 12 anos da Escola de Aplicação. A ação contribui para o desenvolvimento a partir da sanfona. O projeto foi ponto de partida para aulas de outros instrumentos musicais, a exemplo de violino, piano e flauta transversal.
Orquestra Jacques Klein
A Orquestra Jacques Klein é um grupo jovem e versátil que vem pouco a pouco ocupando espaço no cenário cultural de Fortaleza. O repertório abrange diversos segmentos musicais, de clássicos a populares. Em termos de tamanho, trata-se de uma orquestra de câmera com ênfase em instrumentos de cordas friccionadas, podendo atuar com instrumentos de sopros e percussão. É formada por alunos do Instituto Jacques Klein, entre 14 e 18 anos. Desde 2020, a direção artística e regência do grupo está a cargo do Maestro Luis Maurício Carneiro.
Camerata de Cordas da Universidade Federal do Ceará
A Camerata de Cordas da Universidade Federal do Ceará foi fundada em 2016 pelas professoras Liu Man Ying e Dora Queiroz. Trata-se de uma camerata de cordas friccionadas, formada pelos naipes ou seções de primeiros violinos, segundos violinos, violas (eruditas de arco), violoncelos e contrabaixos. São cerca de 20 integrantes, indo da música erudita à popular, de Bach ao video game. Por sinal, estão abertas as inscrições para os cursos de extensão em Violino, Viola erudita, Violoncelo e Contrabaixo acústico da UFC. Elas acontecem até 3 de setembro. Para participar, basta preencher o link do formulário eletrônico.
Banda Sinfônica da Universidade Estadual do Ceará
O projeto da Banda Sinfônica da Uece surgiu como necessidade de formar um grupo exclusivamente instrumental. À época, ano de 2006, não existia nenhum grupo artístico dessa natureza. O trabalho, assim, completa 16 anos obtendo bons resultados e cada vez maior público, almejando ir cada vez mais longe.
Camerata Unifor
A Camerata da Universidade de Fortaleza foi formada em 1996 e é sempre motivo de alegria para os admiradores da música erudita. É composta pelo maestro Marcus Vinicius Cardoso e outros 14 músicos, entre violinos, violas, violoncelos, contrabaixo, flauta transversa e um regente. A Camerata Unifor participou da gravação de oito discos, com destaque para as parcerias com o sanfoneiro Waldonys e o contratenor português Luís Peças.
Orquestra Contemporânea Brasileira
Além de aproximar o público da música erudita por meio de inesquecíveis apresentações, a Orquestra Contemporânea Brasileira tem se voltado à formação de novos instrumentistas e à ampliação do mercado de trabalho, com o intuito de absorver novos profissionais. Por isso criou dez núcleos de educação musical no Estado.. Eles têm possibilitado a centenas de jovens o aprendizado da música de concerto. A cada apresentação, a orquestra prepara um repertório diferenciado e que possa envolver o público. No dia 11 de setembro, haverá uma apresentação prevista no Cineteatro São Luiz a partir do Concerto da Orquestra Contemporânea Brasileira.
Orquestra Filarmônica do Ceará
Em 2022, a Orquestra Filarmônica do Ceará completa 24 anos – todos regidos pelo maestro Gladson Carvalho, discípulo de Eleazar de Carvalho (1912-1996). Com 50 membros, o grupo vai além de um conjunto: é espaço de aprendizado para os integrantes. Sempre buscando pela reinvenção, já realizou concertos nos quais o foco era Elvis Presley, Tim Maia, Beatles e até Iron Maiden, sem deixar de contemplar, claro, os clássicos da música erudita.