No final de uma tarde, em julho de 1995, um marco cultural iluminava o Distrito de Mangabeira. Nascia naquele momento a primeira biblioteca da região e o sonho do professor Francisco lvonildo Dias da Silva tornava-se uma realidade.
Hoje, com 15 mil obras no acervo, a Sala de leitura José Cândido Dias preserva a missão de atender o público estudantil e a comunidade de uma maneira geral. Sem aporte público, o espaço vê essa trajetória render frutos no campo da leitura.
Com aproximadamente cinco mil habitantes, o distrito fincado no município de Lavras da Mangabeira (418 km de Fortaleza) foi palco recentemente da primeira Feira Literária de Mangabeira (Fliman). Ao comentar a história da biblioteca comunitária, o professor Dias da Silva ressalta a força coletiva que ergueu o lugar.
“Papai cedeu um terreno encostado na casa dele. Ficou alegre com a ideia. E com a ajuda do povo, um dava telha, um tijolo, construímos o prédio para abrigar estes livros”, relembra. Nestes quase 30 anos de atividade, não só o distrito, como os estudantes de cidades vizinhas também foram beneficiadas.
Ofertar o acesso ao universo das letras permitiu mudanças significativas naquele território, reflete o idealizador. “Você nota, pelo entusiasmo, sobretudo de pais de família, com filho na escola. Notamos o valor que eles dão naturalmente ao livro e a Sala, pois, realmente, eles sentem o filho pesquisar na biblioteca”.
Encontro com os livros
O nome da Sala de Leitura José Cândido Dias homenageia o pai do fundador. Afinal, a partir da doação paterna o equipamento pode ser efetivado. Curiosamente, enfatiza Dias da Silva, o ambiente em sua família não era de livro, não havia isso.
Por compreender essa realidade, o escritor, editor e crítico literário percebeu a urgência de criar a biblioteca. “Àquela altura, a localidade contava com duas escolas públicas. Alunos e professores não tinham onde pesquisar para fazer um texto, um estudo qualquer, não tinham fontes”, situa.
Dias da Silva bancou as despesas de funcionamento e manutenção do equipamento. Reconhecido nas letras cearenses, sua contribuição com o ensino em Mangabeiras é motivo de orgulho para os moradores. “Vamos ter que expandir, pois não comporta os livros que recebemos de doações, é uma biblioteca para o povo”, defende.
A realização da Feira Literária de Mangabeira (Fliman) representa, em certo ponto, a luta da Sala de Leitura José Cândido Dias. Professor Dias da Silva parabeniza o evento e comemora o fato da iniciativa ser realizada a cada dois anos.
Do início nos anos 1990 ao momento hoje com bienal de literatura, a pequena comunidade respira os benefícios do acesso ao saber. “A maneira de prolongar a existência do livro é abrindo livro, a leitura é quem faz e prolonga a existência. O livro guardado na gaveta, sem que alguém pegue e leia, ele não existe. O livro é sagrado”, compartilha Dias da Silva.
É hora da Fliman
Para o escritor e um dos nomes à frente da Fliman, Pedro Luiz Oliveira, a Sala de Leitura José Cândido Dias permitiu a atmosfera cultural e o sentimento para que a feira acontecesse. Realizada entre os dias 15 e 16 de julho, a atividade reverberou na região sul do Ceará (Cariri, Lavras da Mangabeira, Cedro, Várzea Alegre, Aurora, entre outros municípios).
Gratuita, a primeira edição da Fliman apresentou caráter plural. Reuniu várias atividades, como apresentações literárias, lançamentos de livros (com oito obras apresentadas), palestras, além de shows com artistas locais e convidados.
“Mangabeira é um distrito, comunidade pequena, cinco mil habitantes, mas que tem tradição literária. Catalogamos 40 escritores de vários gêneros: poesias, crônicas, contos e historiografias. Essa Feira estava latente para acontecer, de fato, agora concretizou-se", comemora Pedro Luiz Oliveira.
O objetivo para o futuro é organizar uma edição a cada dois anos, demarcando assim espaço no calendário cultural do Ceará. Com o tema “Mangabeira, história e afeto”, a primeira edição da Fliman foi considerada um sucesso pela organização.
Para Pedro Luiz Oliveira, acontece em um momento decisivo para os jovens do lugar. “É fundamental para a comunidade, sobretudo agora que tivemos a pandemia e cresceu a distância entre alunos e a sala de aula”, finaliza.