Filme do cearense Karim Aïnouz é aplaudido por 15 minutos após exibição no Festival de Cannes

O momento também foi marcado por protesto contra Bolsonaro e a vidas perdidas na pandemia de Covid-19

Exibido no Festival de Cannes, na França, nesta sexta-feira (9), o filme "Marinheiro das Montanhas", do cineasta cearense Karim Aïnouz, foi aplaudido por 15 minutos pela plateia. Produção foi convidada para a mostra Sessão Especial.

"O que eu poderia esperar mais de um filme do que esse tipo de recepção? Foi um calor maior do que o calor de Fortaleza", comemorou o diretor em entrevista ao portal G1.

O filme é diário de viagem gravado na primeira ida de Karim à Argélia, país de origem de seu pai. "O Marinheiro das Montanhas" reúne registros da viagem, filmagens caseiras, fotografias de família, arquivos históricos e trechos de super-8.

Aïnouz relatou que foi "uma emoção gigante ter feito o filme" e se disse emocionado com a recepção e a oportunidade de exibição.

Protesto contra Bolsonaro 

O pós-exibição do longa nesta sexta-feira também foi marcado por protesto contra o presidente Jair Bolsonaro e as vidas perdidas na pandemia de Covid-19.

"Não posso deixar de lembrar que, enquanto estou aqui celebrando com vocês, milhares de brasileiros estão morrendo por absoluto descaso deste governo fascista na condução da pandemia. A democracia brasileira respira por aparelhos", disse o diretor após a exibição do

Filme narra memórias familiares

A produção é narrada inteiramente por Karim, que lê uma carta para a sua mãe, já falecida, transformada em uma companheira imaginária de viagem. Enquanto relata e comenta episódios da jornada, ele reativa memórias familiares e revela os muitos sentimentos contraditórios que marcam o seu percurso.

O longa opera uma costura fina entre a história de amor dos pais do diretor, a Guerra de Independência Argelina, memórias de infância e os contrastes entre Cabília (região montanhosa no norte da Argelia) e Fortaleza, cidade natal de Karim e de sua mãe, Iracema. 

Karim Aïnouz em Cannes

A trajetória de Karim é marcada pelo Festival de Canees, que foi responsável pela estreia dele com "Madame Satã" (2002) e pelas aplaudidas sessões de ‘O Abismo Prateado’ (2011), na "Quinzena dos Realizadores", e "A Vida Invisível" (2019), vencedor de Melhor Filme na mostra "Um Certo Olhar".

Por "A Vida Invisível", Karim se tornou primeiro cineasta cearense a conquistar um prêmio no festival francês. Foi também a primeira vez que um brasileiro venceu essa categoria, uma espécie de competição paralela à Palma de Ouro.