A partir da união entre comédia, drama, ficção científica e fantasia, o longa “Pobres Criaturas” apresenta os caminhos da jovem Bella Baxter (Emma Stone), que, na prática, é um experimento do heterodoxo cientista Godwin Baxter (Willem Dafoe).
Exalando impulsos de humanidade, no entanto, a protagonista se lança em uma tortuosa jornada, tanto íntima quanto social, em busca de se tornar um indivíduo. A obra estreia nos cinemas no próximo dia 1º de fevereiro.
No filme — uma adaptação do livro de 1992 do autor Alasdair Gray com roteiro de Tony McNamara e direção do cineasta Yorgos Lanthimos —, a jovem vive sob a guarda do solitário Godwin, considerado, ao mesmo tempo, brilhante e insano pelos pares.
As circunstâncias da história pregressa da protagonista não são explicadas, mas é possível compreender que ela passou por alguma experiência de trauma e foi "acolhida" pelo cientista.
Numa Inglaterra vitoriana repleta de aspectos fantásticos, “Pobres Criaturas” lança mão de elementos reconhecíveis dos gêneros que mistura. Pelas informações dadas, é possível compreender que Bella, em verdade, “voltou à vida” pelas mãos de Godwin, ecoando o clássico “Frankenstein”.
A jovem, no entanto, parece estar vivendo-a pela primeira vez: aprende palavras, como se portar à mesa e até a se equilibrar com as duas pernas. Os desenvolvimentos físico, social e emocional dela são não somente controlados pelo cientista, mas acompanhados por Max McCandles (Ramy Youssef), pupilo dele.
Esse panorama é compartilhado na porção inicial do filme, que esteticamente traz uma forma que acentua não só a fantasia, mas também funciona a serviço da estranheza. Em preto e branco, os planos são por vezes apresentados com distorções nas extremidades a partir do uso de lentes conhecidas como “olho de peixe”, por exemplo.
Com um tempo de evolução singular, Bella vai saindo das fases de aprendizados mais básicos e instintivos e, de repente, passa a contar — indo de encontro à realidade de quase clausura que vive — com desejos próprios. Entre eles, um guia a pulsão da jovem: conhecer o mundo.
A concretização desse desejo parece estar presente no livre e bon-vivant advogado Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo), que se soma à então fechada vida da jovem. Nele, Bella vê uma oportunidade de alargar as próprias experiências.
Entre conhecimentos bem específicos adquiridos — como descobrir as formas que consegue “ser feliz”, ou chegar ao orgasmo, sozinha — e série de inadequações sociais — que incluem abordar aspectos da sexualidade de maneira sem filtros em público —, Bella vai “se esgueirando” pelas brechas que ora encontra, ora abre no próprio caminho.
Neste momento, a estética do filme assume cores fortes e novos níveis de fantasia refletidos na artificialidade acentuada dos cenários e paisagens. As situações narrativas propostas também flertam com o absurdo e o peculiar.
Apesar da abertura alcançada para expressar a si e aos desejos que possui, a jovem não deixa de esbarrar nos moldes e limites que existem pelo mundo. Das descobertas iniciais de palavras, sensações e desejos, os aprendizados chegam, então, a duras verdades do que, também, significa ser humana.
Encontrar incompreensão e também não compreender, ter que escolher, sentir raiva, se moldar por circunstâncias externas, se julgar insuficiente frente às mazelas da realidade. São muitas as intempéries que surgem no caminho da personagem.
Há uma série de elementos na trama que contextualizam o passado de Bella, o contexto que a aproximou de Godwin e ainda mais, mas o que se impõe nessa jornada é menos o lado “explicativo” da história e mais, justamente, o que há de humano nela: o entendimento das dores e das delícias que passamos para nos tornamos, enfim, o indivíduo que somos.
Confira o trailer de "Pobres Criaturas"
Pobres Criaturas
Quando: estreia em 1º de fevereiro
Mais informações sobre sessões, valores e locais: no site Ingresso.com