Conheça marcas cearenses que trabalham com o slow fashion, tendência da sustentabilidade

Prezar pela qualidade das peças e valorizar o trabalho de quem produz são algumas características do conceito da moda que prega um consumo mais consciente

Desacelerar é palavra de ordem para os millenials, conhecidos também como a geração da internet. Os fluxos do dia a dia e o consumo desenfreado levaram jovens a questionar sobre esse modelo de compra que tanto instiga quanto descarta em pouco tempo. Seja na moda ou na alimentação, o movimento slow surge como alternativa para quem quer testar uma outra realidade, que pensa em quem faz, em quem compra e também no que é consumido.

Foi desse desejo que a designer Celina Hissa fundou a Catarina Mina. Há mais de uma década, a marca conquistou os amantes da moda com bolsas e acessórios em crochê. Além da produção ser feita por artesãs cearenses, todos os custos são abertos.

Sob medida

Neste mês, Catarina Mina explorou novas possibilidades e lançou a primeira coleção de roupas, criadas pelas mãos de artesãs do município de Aracati. Vestidos, saias, blusas e kimonos compõem a 'Ventoeste'.

"O grupo do crochê tinha essa vontade de ter uma coleção e nós criamos pensando nessa possibilidade, que é um novo olhar sobre o artesanato feito por elas", explica Celina.

Trabalhando com o "slow", a coleção é vendida em lotes, por encomenda, e entregue cerca de 45 dias depois da compra. Essa escolha, de acordo com Celina, respeita o tempo da produção das artesãs e torna o valor das peças mais acessíveis aos clientes. Não trabalhar com estoque também se relaciona com a sustentabilidade ao não gerar mais resíduo têxtil do que o necessário.

Na proposta de Celina, a ideia é, portanto, evitar grandes volumes de peças e construir um sistema sustentável, em que tudo é produzido é consumido. Outro fator é a valorização do trabalho manual com o pagamento justo da mão de obra. "Lá na ponta você começa a entender que esse consumo é um ato político, o não-consumo passa também a ser importante e o que consome é uma decisão que impacta", aponta a designer.

Esse conceito da encomenda é um dos serviços oferecidos pelo Ateliê Sankofa, idealizado por Larissa Carvalho. A marca surgiu como uma forma de valorizar o trabalho de costura da mãe e da avó, além de estampar as cores e os padrões que remetem à cultura africana e à identidade negra.

Além de prezar por essa produção mais lenta, todos os retalhos não usados são doados para que outras artesãs possam transformá-los em outros materiais, a exemplo de bordados.

"A gente buscou ser slow fashion, pois priorizamos valorizar os trabalhadores e uma produção de maior qualidade", explica a jornalista.

Essa preocupação com a qualidade, inclusive, gera uma maior durabilidade das peças, fazendo com o que descarte também seja menor.

Refletir

Essa moda lenta também foi explorada por Orleanne Barreto, com o Brechó Retroagir. O que começou por necessidade há cinco anos, se tornou um negócio online que conta atualmente com quase 20 mil seguidores no perfil do Instagram.

Um dos benefícios da compra de brechó é justamente essa busca pelo consumo consciente. Não há estoque, as peças são únicas e a proposta é de pensar a moda como atemporal. Quem garimpa, encontra roupas cheias de história.

Além da moda, a tendência slow é levada para a vida de Orleanne na tentativa de estar menos conectada com o ambiente on line. Por ter um trabalho que depende das redes sociais, a designer de moda acaba caindo na armadilha de sentir-se obrigada a produzir conteúdo quase que o dia todo.

"Estou tentando respeitar mais meu tempo, porque antes eu tirava uma folga e ficava me culpando, com peso na consciência, pensando no que eu poderia estar fazendo. Eu estava ficando com crise de ansiedade, então, eu tive que me dar esse puxão de orelha", reflete.