Conheça ma i.a, primeira cantora virtual cearense criada por artista de Maracanaú

Desenvolvida em 3D por Arquelano, a artista virtual já participou de um single. Ela também faz parte de um coletivo real de música eletrônica da capital cearense

Com a virtualização das relações acelerada pela pandemia de Covid-19, talvez não seja tão difícil imaginar um artista cearense lançando um single com uma cantora que só existe em 3D, certo? Pois bem. Foi isso que Arquelano fez no finalzinho do ano passado, com a divulgação de um trabalho em parceria com ma i.a (lê-se Maya).

Negra e com traços indígenas, ela teve visuais desenvolvidos por meio da tecnologia MetaHuman - aplicativo que cria personagens humanos digitais -, e  vocais estabelecidos no FL Studio - um dos softwares mais usados em produções musicais no mundo.

“ma i.a. traz em si algumas questões contemporâneas, atravessadas por sua vivência negra e nordestina. Uma narrativa transmídia. Explorando em sua sonoridade a rica cultura musical brasileira com influências de elementos da música eletrônica e hyperpop”, explica.
Arquelano
Cantor e compositor

O artista criador a considera uma extensão da própria trajetória, na qual explora as vertentes da música eletrônica, com influências da MPB, Pop, R&B e Soul.  Jovem negro, LGBTQIA+ e periférico, Arquelano tem realizado o próprio percurso criativo entre duas cidades cearenses: Maracanaú e Fortaleza, onde vivencia diferentes realidades.

Ele já tem no portfólio um EP (Ponto, 2019), produzido com a tutoria da cantora e produtora musical Mahmundi, dentro do Laboratório de Música do Porto Iracema das Artes. Ao longo de 2021, se dedicou a uma versão remix deste trabalho, e na busca por parcerias, veio a inspiração para ma i.a.

Os esboços da artista virtual começaram em abril e, em dezembro, Arquelano apresentou a canção “Mãos” remixada e com a participação da cantora, deixando mais explícitas as influências de trap, ambiente hyperpop.

Na música, a voz de ma i.a é apresentada ao público a partir de 1’24’’, quando ela entona os versos: “mãos que tocam/ mãos que sentem/ mãos que queimam/ mãos”. Confira:

Inspirações

Entre as referências de Arquelano para desenvolver ma i.a estão artistas virtuais como Gorillaz, Miquela e War Nymph. A banda britânica formada em 1998  por quatro membros animados (2-D, Murdoc, Noodle e Russel) soma hoje mais de 15 milhões de discos vendidos em todo mundo, e o sucesso não deixa de inspirar algumas criações mais recentes.

A cantora canadense Grimes, por exemplo, lançou em 2020 uma espécie de alterego digital, War Nymph, avatar cujo objetivo era permitir um afastamento da artista do ambiente das redes sociais, possibilitando-a “existir” e trabalhar virtualmente enquanto passava pelos últimos estágios da gravidez.

Já Miquela é uma personagem norte-americana apresentada ao público por meio de um perfil no Instagram, em 2016, e atua como influenciadora digital de marcas da moda, outra característica que a cearense ma i.a deve apostar em breve.

“Isso é algo que ainda se encontra em desenvolvimento, pois é um longo caminho até o momento de influenciar. Mas ela é apaixonada por artes, música, moda e games, e apoiará iniciativas que valorizem a tecnologia brasileira, como ilhas digitais, ONGs e etc”, explica Arquelano sobre o que planeja para sua  criação.

No Brasil, o cearense lembra de um artista virtual de popularidade: Dogão, rapper criado pelo produtor musical Rick Bonadio e pelo rapper Suave, em 2004, mas que teve as últimas canções lançadas em 2005.

“É uma realidade que já foi possível por aqui, apesar de ainda não conhecer atualmente uma iniciativa nacional semelhante. Mas, mundialmente, é algo que vem em crescente desenvolvimento, juntamente com o universo gaming, NFT e tecnologia. É uma realidade ainda recente, mas que já vem recebendo investimentos de grandes gravadoras no mundo. Então, em breve veremos mais artistas virtuais por aí”, aposta.
Arquelano
Cantor e compositor

Ainda que não sejam referências diretas para ma i.a, cantoras virtuais no Japão e na China também já movimentam um mercado bilionário, que inclui séries de TV, quadrinhos e até shows. Basta lembrar da estrela holográfica virtual do pop japonês Hatsune Miku, responsável por abrir os shows da turnê de Lady Gaga na América do Norte, em 2014.

Investimentos

Os caminhos da cearense, porém, vão sendo trilhados aos poucos. Para Arquelano, todo o tempo e energia gastos nisso significam um investimento financeiro. “ma i.a. ainda é uma semente de uma nova possibilidade, de uma nova lógica. Tornar o virtual em algo real, que conecta, que faz você sentir. Além de em breve explorar o mercado das NFT com as suas criações”, projeta.

Um single autoral e um videoclipe com ma i.a já estão em produção e devem ser disponibilizados no mês de março. Além disso, a cantora virtual já é membro da 1992 (@dezenovenovedois), um coletivo real de música eletrônica da capital cearense.

“Moradora da região metropolitana (ou metaverso) de Fortaleza, ela experimenta as possibilidades da tecnologia do nosso tempo, unido à tecnologia ancestral. Uma tecnologia nascida no nosso tempo sobre uma uma narrativa de futuro”, compara Arquelano, certo de que este trabalho está apenas começando.