Cearense de Ipueiras, indígena tabajara é destaque em Festival Nacional de Contadores de Histórias

Auritha Tabajara participa nesta quinta-feira (18) de evento virtual e gratuito, com contação e oficina de grafismo indígena

Em 2019, o ator Ademir Apparício Júnior conheceu aquela que ele identifica hoje como “a indígena de sua vida”: a escritora cearense Auritha Tabajara. Na ocasião, uma feira do livro em Ponta Grossa (PR), os dois consolidaram uma amizade e parceria profissional que rende frutos até agora, a exemplo do 1º Festival Nacional de Contadores de Histórias no Ciberespaço. Idealizado por Apparício, o evento, on-line e gratuito, acontece até domingo (20), com participação de Auritha já nesta quinta-feira (18).

“Quando pensei na curadoria dos contadores de histórias, pensei nas pessoas que mais me afetaram na minha jornada onírica e queria trazer uma diversidade de assunto importantes que precisam ser contados no atual momento, como a desmistificação das histórias afro, a valorização da mulher, o respeito a nossa cultura popular, a importância da infância, como as histórias são necessárias em nossas vidas ao longo dos nossos anos e claro, toda a admiração, respeito e valor que temos que dar aos povos indígenas”, introduz Apparício.

Natural de Ipueiras, a 300km de Fortaleza, Auritha morou de 2009 a 2020 em São Paulo, mas está de volta à comunidade de origem desde junho passado, em virtude da pandemia. A agenda da indígena tabajara, assim como a de todos os artistas, adaptou-se ao formato virtual, e é dessa forma que ela vai colaborar com o evento do colega Apparício.

Contação de história e oficina cearense

A partir das 14h, será disponibilizada no canal do YouTube do festival a contação de história “A onça pintada que nasceu no pescoço da kunhataim”. “Todas as histórias que conto nos eventos são histórias tradicionais, contadas pela minha avó. Essa explica porque a onça é nossa protetora, um animal sagrado”, adianta Auritha, sem entregar tanto da narrativa para que o público assista a produção. O vídeo ficará disponível mesmo após o fim do festival.

“Escolhi contar essa história pra dizer que nossa relação é tão forte com a natureza, que a gente não tá sozinho. Precisamos nos fortalecer, hoje a coisa tá tão complicada. Se a gente não tiver esse pensamento de fortalecimento, a gente pira. Tem que fortalecer se apegando ao sagrado, àquilo que a gente acredita”, reforça a contadora.

Mais tarde, às 19h, ela também ministrará uma oficina ao vivo (vagas encerradas) com o tema “Grafismo indígena”, pintura corporal traçada e marcada pela identidade de cada povo. Com 2h de duração, a formação se propõe a mostrar como essa arte pode ser um recurso ao contar e escrever histórias.

“A tecnologia nos proporcionou esse momento. Sei que tem gente que usa pra fazer coisas tristes, mas a gente tem que saber como usar. Nessa época da pandemia, tenho feito muitos eventos online, já participei de festivais das escolas, lives do instagram”, reflete a indígena.

Apesar do desafio de não ter o contato direto com o público, Apparício também identifica vantagens no ambiente virtual. “Fico feliz com os comentários, compartilhamentos e curtidas nas redes sociais. Mesmo pelo digital, o encanto das histórias está chegando e os corações estão se sensibilizando. Um fato no digital, é chegar em lugar que no presencial talvez, num primeiro momento, seria impossível”, reconhece.

Vale ressaltar que todos os espetáculos contam com recursos de acessibilidade, como tradução em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e audiodescrição. Quando pensou neste evento, apoiado pela Lei Aldir Blanc, o intuito do artista era exatamente transcender fronteiras, no que foi bem-sucedido, com participantes inclusive de Portugal, Angola e México.

 “O festival é feito com muito afeto para realmente afetar as pessoas nesse momento, com o poder que as histórias trazem como conhecimento, superação, amor, sensibilidade, energia, força arte e cultura”, conclui Apparício, abrindo as portas para você conferir o evento.

Veja programação completa:

18/03 – 10h: Ê boi! A lenda do bumba meu boi.

Contadora: Cia. Forrobodó de Teatro (Aline Alencar)

18/03 – 14h: A onça pintada que nasceu no pescoço da kunhataim.

Contadora: Auritha Tabajara

19/03- 10h: Atividade: A mulher que fazia chover

Contadora: Joana Chagas

19/03 – 14h: Histórias da Encantaria Amazônica

Contador: Joca Monteiro

20/03 – 14h Encerramento: “A história de Maria Dançarina ou A menina que desafiou o demo”

Com: Tem História na linh@! (Ademir Apparicio Júnior, Fabiana Massi, Andrés Felipe Giraldo e Cimara Gomes Ferreira Fróis)

OFICINAS

18/03 – 15h: A arte de contar histórias

Ministrante: Aline Alencar - Duração: 2h

Público Alvo: Contadores de Histórias, atores, estudantes de teatro, professores e interessados na arte de contar histórias.

18/03 – 19h: O Grafismo Indígena

Ministrante: Auritha Tabajara – Duração: 2h

Público Alvo: Contadores de Histórias, atores, estudantes de teatro, professores e interessados na arte de contar histórias.

19/03 – 15h: Nós, As Matintas

Ministrante: Joana Chagas - Duração: 2h30

Público Alvo: Mulheres a partir de 16 anos (estudantes, mães, avós, professoras, contadoras de histórias e mediadoras de histórias).

19/03 -19h: A Interpretação para a Arte de Contar histórias

Ministrante: Joca Monteiro - Duração: 3h

Público principal: Contadores de histórias, professores e agentes de leitura (a partir de 12 anos)

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