A história de amor e arte que uniu cearense, argentina e uma vira-lata em uma kombi pelo mundo

No episódio desta quinta (26) do Que Nem Tu, os artistas circenses Felipe Abreu Pereira e Romina Sanchez contam como é a vida itinerante e as aventuras que viveram na viagem de Fortaleza à Patagonia a bordo de um motorhome

Já são mais de 10 anos rodando o Brasil e diversos países apresentando espetáculos que levam a arte do circo e da palhaçaria para todos os lugares. Foi esse sonho que uniu o cearense Felipe Abreu Pereira à argentina Romina Sanchez na Cia Laguz Circo e Teatro. E, como tudo pode virar palco para os dois, eles se inspiraram na tradicional arte de rua itinerante para viver sua última aventura: rodar 31.229 km por cinco países em dois anos a bordo de uma kombi adaptada de motorhome.

No Que Nem Tu desta quinta-feira (26), a dupla contou como foi a preparação e a vida durante a  jornada, intitulada de “Travessia Ceará - Patagônia”. Com  135 apresentações realizadas em 166 cidades do  Brasil, Uruguai, Argentina, Chile e Paraguai, Felipe e Romina experimentaram uma troca única com muitos públicos. 

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Os artistas-viajantes fizeram a viagem ao lado da cachorrinha Lamparina, uma vira-lata que completa a trupe e é super adaptada a essa rotina nômade. "Ela estava muito acostumada a viajar com a gente porque a gente pegou ela naquela primeira viagem de Fusca, em 2015". Sim, Felipe e Romina fizeram uma viagem anterior. A primeira durou nove meses, partindo de Florianópolis até Fortaleza. O carro-casa foi um fusca. E foi nesse trajeto que a dupla conheceu Lamparina, então com dois meses, e a adotaram.

Romina conta que um dos momentos mais memoráveis da viagem ocorreu quando o casal conseguiu uma permissão especial para que Lamparina embarcasse no "Trem do Fim do Mundo", uma atração que normalmente não aceita cães. “Neste dia, um vagão foi liberado para que Lamparina aproveitasse o passeio com a gente". Lamparina deu ao casal um efeito ainda mais chamativo durante o percurso. "A pessoa ou se aproxima pela kombi, ou se aproxima pela lamparina, ou se aproxima pelo circo, então a gente tem todos os chamados de atenção das pessoas", conta Romina.

Preparação para a viagem até o fim do mundo

O casal já tinha experiência na estrada. Mas para a jornada até a Argentina exigia ainda mais preparação e produção prévia. O primeiro passo foi viabilizar o motorhome. Em 2018, compraram a kombi para viabilizar as apresentações circenses. A pandemia veio e trouxe algumas reflexões que desengavetaram o sonho. No início da reabertura, a Laguz focou suas apresentações no Parque Adahil Barreto, focando as famílias que iam até lá em busca de lazer em meio a tantas incertezas. Foi esse público que ajudou a companhia a passar por esse período e ter verba para começar as adaptações do automóvel no futuro lar dos três.

Além das apresentações ao estilo "chapéu", o casal lançou um financiamento coletivo que permitiu a compra de um reboque, que serviu para o transporte dos equipamentos. Com apenas três ferramentas – parafusadeira, lixadeira e anticorte –, videos no Youtube e um sonho, Felipe montou a casa sobre rodas.  Coube a Romina fazer o roteiro e entrar em contato com teatros, escolas, secretarias de cultura e centros culturais das cidades por onde eles passariam para acertar as apresentações. Algumas aconteciam em troca de cachê, outras em troca de hospedagem. 

Com o pé na estrada, a trupe se deparou com muitas realidades diferentes. Mas o que marcou  foi a generosidades das pessoas que passaram por eles. Dos presentes que receberam, da acolhida, da oferta para usarem banheiro ou lavarem roupa (o motorhome não tem banheiro), as ajudas e também contratos, Romina e Felipe são categóricos: "Existem mais pessoas boas no mundo".

A vida nômande permitiu que eles enxergassem muito além da superficialidade. "Muita informação no decorrer do dia, do quanto estão acontecendo muitas coisa ruim, o quanto o mundo está louco,,. O viver em função do medo, né? E aí muitas pessoas não se permitem talvez arriscar a conhecer outros lugares, outras culturas, porque tem medo de que aconteça algo. E no caminho a gente também foi ganhando coisas, né? Isso também é muito simbólico. Porque as pessoas te dão, se dão, dão até o seu tempo, dão a sua casa para você entrar, ou te dão algo que ela tem, que pode ser útil para você. Aí você percebe que entra uma coisa e outra coisa tinha que sair", explica a argentina que mora no Ceará há quase 10 anos.

O Circo e as múltiplas linguagens

Além da experiência com a viagem, o casal também contou como acontece a formação dos artistas circenses, como se conheceu durante cursos no Rio de Janeiro e o desafio de dividir vida pessoal e trabalho em poucos metros quadrados. A experiência foi tão forte que eles resolveram manter a vida minimalista sobre rodas mesmo situados em Fortaleza. Hoje, a casa de Felipe, Romina e Lamparina é a kombi. É nela que eles planejam os próximos trabalhos.

Desta viagem, a dupla retornou com o anseio de novos projetos. Pensam em escrever um livro infantil com ilustrações da argentina. Desenvolvem um novo espetáculo inspirado nas experiências vividas nesses dois anos, abordando temas como itinerância e a questão da água, recurso que se mostrou escasso em diversas localidades visitadas. E também estão criando um jogo de tabuleiro que conta essa experiência e, ao mesmo tempo, ensina as crianças sobre mapas e localidades, com curiosidades e informações.

Viagens, por enquanto em curtas distâncias. Nesse momento, a Laguz se desloca do Ceará para o Rio de Janeiro- na kombi- para apresentações em terras cariocas. Eles seguem cobrando por políticas públicas mais eficazes para artistas como eles.