A história da mulher de 64 anos que optou por viajar pelo mundo e enterrar a imagem de avó vira peça

No Que Nem Tu, a mochileira Josefa Feitosa e a atriz Ana Marlene conversam sobre etarismo, machismo, maternidade e o espetáculo Egoísta

Mochileira, viajante, passageira do mundo. Aos 64 anos, Josefa Feitosa - conhecida como Jô- já conheceu mais de 60 países. Com o tempo ela parou de contar. Essa jornada começou depois que a assistente social e professora se aposentou. Ela deixou uma vida dedicada aos filhos e ao trabalho para viver o sonho de menina: viajar. Inspiração para muitas mulheres que também buscam por liberdade e uma voz ativa contra o etarismo, a história de Jô chegou ao teatro. No espetáculo "Egoísta", produção da Peixe-Mulher, a atriz  Ana Marlene sobe ao palco como a mulher do cabelo azul e faz também uma jornada pessoal: seu primeiro solo depois de mais de 30 anos de teatro.

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O encontro dessas duas mulheres acontece no episódio do Que Nem Tu desta quinta-feira (20). Jô e Marlene contam um pouco sobre suas vidas e mostram onde há pontos em comuns em que as trajetórias das duas encontram. Ao mesmo tempo, as diferenças se potencializam. No teatro, uma história construída em cima da vida de uma mulher comum que optou por ganhar mais cor após os 60 anos.

A história de Jô já ganhou as páginas de jornais. Em algumas entrevistas, a cearense de Juazeiro do Norte pontuava a decisão por se aposentar do trabalho no sistema penitenciário cearense e cair no mundo, conhecer os países que ela sempre ouviu falar. E para isso, optou por uma vida minimalista, nômande e simples. Os filhos e o neto ficaram no Brasil. Ela negou a função de avó que fica em casa cuidando dos netos. Depois de uma vida dedicada aos outros, ela decidiu que era hora de cuidar dela e de seus sonhos e vontades. Acabou ganhando fama de "egoísta". Jô não reclama. Ela diz que pode ser tão egoísta quanto os homens o são durante toda a sua vida.

O tempo, ensina Jô, é um detalhe. Para ela, a decisão veio aos 60 anos junto com a aposentadoria. E decidir quando se chega a essa idade foi também quebrar paradigmas sobre as inúmeras formas de viver que uma pessoa idosa pode ter. A Jô que quebra o patriarcado também ensina sobre etarismo.

"Um grito de liberdade. Foi uma coragem danada. Sair pelo mundo, aventurando, perdendo o medo e ignorando as normas do patriarcado em função da sua liberdade. Existe outra forma de viver, ter uma vida boa, sem ser essa de ser avó, cuidadora. A gente não precisa mais trabalhar, não precisa mais cuidar de filho que já cresceu. O que  agente tem que fazer é voltar a brincar, sorrir, a ter liberdade. A gente não tem mais obrigação e não é mais criança para ninguém dizer o que tem que fazer. Se as pessoas entendessem que depois dos 60 a vida se torna um playground. Se todo mundo descobrisse esse caminho e descesse pra esse parquinho era ótimo", diz Jô.

Para a atriz Ana Marlene, interpretar parte dessa jornada foi inspiração. Para levar essa história real para o palco, ela optou por não imitar a mochileira. “Não é uma imitação. Uso algumas características físicas dela para dar mais veracidade, mas é a atriz Ana Marlene contando a história da Josefa Feitosa”, explica.

Egoísta fez sua estreia, em duas sessões no Teatro do Dragão do Mar, no fim de semana passado. Contou com a presença de Jô e sua família na plateia. Em seguida, o espetáculo faz uma temporada maior no Rio de Janeiro, com 16 apresentações entre julho e agosto na unidade do Sesc Tijuca. O sonho de Marlene é que ela possa fazer como sua personagem e cair no mundo com o espetáculo.