Um dos homens que denúnciou a situação análoga à escravidão em uma vinícola no Rio Grande Sul prestou depoimento ao Ministério Público do Trabalho, afirma ter ouvido uma ordem de "matar os baianos". Ele também alega que foi espancado com um cabo de vassoura, mordido e teve spray de pimenta jogado contra ele na véspera da fuga.
A vítima prestou depoimento junto a outros que também denunciaram o caso em vídeo. Em depoimento, os trabalhadores resgatados contaram sobre o cotidiano na empresa Fênix - que produzia mão de obra terceirizada para vinícolas Aurora, Salton e Cooperativa Garibaldi. As informações são do jornal O Globo.
CONDIÇÃO ANÁLOGA À ESCRAVIDÃO
Os homens recebiam R$ 400 reais para gastar em um estabelecimento comercial do dono da empresa. Lá, era cobrado um valor acima do comum de mercadorias. A situação sanitária deles também era insalubre - havia apenas quatro sanitários para mais de 200 pessoas. Eles viviam em quartos pequenos, dormindo em beliches, sem limpeza.
A roupa de cama e o travesseiro eram as próprias roupas dos trabalhadores. A marmita deles possuía um "cheiro azedo e desagradável", disse uma das vítimas de 23 anos em depoimento.
Havia ainda agressões. Segundo uma vítima de 20 anos, eles eram acordados com choques de laser. Para a colheita das uvas, os equipamentos não eram apropriados. Os trabalhadores utilizavam luvas de pano e botas rasgadas. "No contrato dizia que receberíamos óculos de sol e protetor solar, o que não aconteceu", disse.
Em depoimento, eles contam ainda que após o desmaio de um dos trabalhadores durante a colheira, ele recebeu uma carona ao hospital de um dos funcionários. Entretanto, teve que caminhar quatro quilômetros na volta.
Um trabalhador alega que presenciou também o momento que um colega foi espancado por motoristas e um segurança da empresa. Segundo a vítima de 22 anos, "todos andavam armados".
ENTENDA O CASO
Vindos da Bahia, os trabalhadores chegaram em Bento Gonçalves (RS) e assinaram o contrato de prestação de serviços. Seriam 45 dias de trabalho, no valor de R$ 3 mil reais. No contrato estava acordado que seriam 15 horas diárias de jornada. Ninguém foi pago.
As vítimas decidiram fugir no dia 22 de fevereiro. Eles pularam uma laje de dois metros e se jogaram de outros cinco metros de altaram até o chão. Eles caíram em um jardim e não se feriram. Um dos homens tinha um celular escondido que foi usado para chamar um carro de aplicativo e pedir dinheiro às famílias.
O Ministério Público do Trabalho realizou audiência nesta terça-feira (28), com os representantes legais do empresário Pedro Augusto de Oliveira Santana, da empresa Fênix. O MPT-RS pede que seja pago aos funcionários cerca de R$ 600 mil, além do R$ 1 milhão em verbas rescisórias fixadas. A empresa tem até meio dia de quinta-feira (2) para apresentar a comprovação dos últimos pagamentos.