Após a Justiça de São Paulo soltar Alexandre Nardoni, condenado por envolvimento na morte da própria filha, Isabella Nardoni, de 5 anos, a mãe da menina, Ana Carolina Oliveira, classificou a decisão como sendo "um absurdo". Preso há 16 anos, o homem havia progredido para o regime semiaberto em 2019, e desde segunda-feira (6) passou cumprir a pena de 30 anos em liberdade.
A mãe da vítima definiu o parecer do judiciário como "lamentável", em entrevista nessa terça-feira (7) ao programa Morning Show, da Jovem Pan.
Minha filha não vai voltar, e ele está em total liberdade de fazer o que quiser, de continuar a vida, de estar aí pelas ruas, assim como eu, assim como você. Então, é dolorido para quem é da família, é triste, é lamentável ver que a nossa Justiça permite com que isso aconteça."
Na ocasião, Ana Carolina falou sobre a possibilidade de encontrar Alexandre ou Anna Carolina Jatobá — ex-esposa do pai de Isabella e também condenada por envolvimento na morte da menina —, já que ambos cumprem pena em regime aberto.
"Saber que posso andar na rua e posso encontrar com ela, saber que a pessoa que matou a minha filha está aí, livre. E a minha filha nunca vai voltar. Nunca vou ter esse privilégio de poder ir à formatura dela", lamentou.
A mãe da menina ainda questionou as possibilidades previstas em lei que permitem a progressão de regime, e também defendeu que os condenados pela morte de Isabella deveriam cumprir a sentença integral em regime fechado.
Lamentável, um absurdo. Acho que hoje o mínimo que a gente tem que fazer, que é a minha luta, que é o que penso e idealizo, você pegou uma pena, precisa cumpri-la, pelo menos o período que você foi condenado."
MP recorre de decisão
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) entrou com recurso contra a decisão da Justiça que permitiu a saída de Alexandre Nardoni da prisão em cumprimento do regime aberto. O órgão também entrou com medida cautelar, com efeito suspensivo, em que pede a volta imediata do réu para o regime semiaberto no presídio, até o julgamento do recurso. A defesa do homem disse que agirá para "evitar qualquer injustiça".
Condenado a 30 anos de prisão pela morte da filha, Isabella, o acusado deixou a penitenciária de Tremembé no fim da tarde da segunda-feira.
O MP-SP protocolou um recurso de agravo contra a execução ainda na segunda-feira, no Departamento Estadual de Execução Criminal da 9ª Região Administrativa, em São José dos Campos, alegando que o réu não comprovou, cabalmente, que não representa risco para a sociedade.
A promotoria do caso considera que Nardoni praticou "crime hediondo bárbaro ao matar a filha de 5 anos, demonstrou frieza emocional, insensibilidade acentuada, caráter manifestamente dissimulado e ausência de arrependimento".
O documento cita ainda indicação psiquiátrica de que o réu possui "impulsividade latente", além de exibir elementos de transtorno de personalidade.
O Ministério Público argumentou pela sustação da progressão ao regime aberto, com a manutenção de Nardoni em regime intermediário e submissão ao teste de Rorschach e a exame psiquiátrico profundo e conclusivo, que possa averiguar possível transtorno de personalidade e a possibilidade de progressão ao regime aberto.
O teste de Rorschach, popularmente conhecido como "teste do borrão de tinta", é uma técnica de avaliação psicológica que consiste em dar respostas sobre o que se parecem manchas de tinta apresentadas em pranchas com linhas simétricas. A partir das respostas, seria possível obter um quadro amplo da dinâmica psicológica do indivíduo testado.
RELEMBRE O CASO
Alexandre Nardoni e a então esposar Anna Carolina Jatobá foram acusados e condenados pela morte da filha dele e enteada dela, Isabella, morta em março de 2008.
A menina, então com 5 anos, teria sido jogada do 6º andar do edifício onde a família morava, na Vila Guilherme, em São Paulo. O crime causou grande repercussão.
Anna Jatobá foi condenada a 26 anos e 8 meses de prisão, cumpriu 15 anos e obteve progressão para o regime aberto em junho do ano passado.
Alexandre foi condenado inicialmente a 31 anos e 1 mês, mas conseguiu reduzir a pena em cerca de um ano por trabalhar e estudar na prisão.
Ele obteve progressão para o regime semiaberto, com direito à saídas temporárias, em abril de 2019.