Livro 'O Menino Marrom', de Ziraldo, é recolhido de escola em Minas Gerais por pressão de pais

Parentes de estudantes afirmaram que a obra possui conteúdo "agressivo"

A Secretaria Municipal de Educação de Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais, suspendeu a utilização do livro "O Menino Marrom", de Ziraldo, nas escolas do município. A medida ocorreu após pais de estudantes criticarem a obra, afirmando que se tratava de conteúdo "agressivo". As informações são do g1.

Um dos trechos citados pelos pais fala sobre um possível pacto de sangue entre os personagens, que acaba não sendo concluído. "'Temos que fazer o pacto de sangue!'. Um deles foi até a cozinha buscar uma faca de ponta para furar os pulsos", diz a passagem. Os protagonistas acabam optando por tinta no lugar do sangue.

Através das redes sociais, a prefeitura se pronunciou sobre o caso. "O livro é um recurso valioso na educação, pois promove discussões importantes sobre respeito às diferenças e igualdade", diz um trecho da nota.

"Lamentamos que tenham havido interpretações dúbias acerca do mesmo e levando em conta nosso respeito aos pais e a comunidade escolar, a Secretaria Municipal de Educação de Conselheiro Lafaiete, diante das diversas manifestações e, divergência de opiniões, procedeu a solicitação de suspensão temporária dos trabalhos realizados sobre o livro 'O Menino Marrom', do autor Ziraldo, a fim de melhor readequação da abordagem pedagógica evitando assim interpretações equivocadas", ressalta.

"O Menino Marrom" foi escrito pelo mineiro Ziraldo e lançado em 1986. A obra conta a história de dois amigos, um negro e um branco, que buscam entender as diferenças relacionadas a sua cor de pele.

CASO AVESSO DA PELE

O livro "O Avesso da Pele" também foi recolhido em março deste ano no Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul após reclamações de estudantes e famílias. 

Na época, o Paraná foi o primeiro a recolher "O Avesso da Pele", sendo seguido pelo estado de Goiás. Ambos os governos justificaram a retirada da obra das escolas para realizar uma "análise necessária" do livro, pois encontraram "expressões, jargões e descrições de cenas de sexo explícito". 

A Companhia das Letras classificou a medida como um “grave ataque à liberdade de expressão e ao pluralismo de ideias”, defendendo ainda o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).

Já o autor Jeferson Tenório classificou a retirada como “censura” ao livro. “O mais curioso é que as palavras de 'baixo calão' e os atos sexuais do livro causam mais incômodo do que o racismo, a violência policial e a morte de pessoas negras. Não vamos aceitar qualquer tipo de censura ou movimentos autoritários que prejudiquem estudantes de ler e refletir sobre a sociedade em que vivemos”, disse.

Em abril, o governo do Paraná e Goiás anunciaram que a obra iria retornar às escolas dos estados.