A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vem atrasando desde o início do ano as entregas de doses da vacina contra a Covid-19, produzida a partir de parceria com a AstraZeneca, que representa apenas 1 a cada 6,5 doses aplicadas no Brasil. As informações são do jornal Estadão.
Conforme dados do Ministério da Saúde, 46,4 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 foram aplicadas no país - 11 milhões do imunizante da Universidade de Oxford/AstraZeneca e 35,4 milhões da Coronavac.
E 4 milhões das doses aplicadas da vacina de Oxford/AstraZeneca foram importadas já prontas da Índia. Dessa forma, a produção da Fiocruz equivale a 15,3% do total.
O Governo Federal assinou o acordo com a AstraZeneca em julho de 2020. A vacina foi aprovada para uso emergencial no país em 17 de janeiro e, em abril, recebeu registro definitivo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O contrato anunciado pelo governo prevê incorporação da tecnologia e produção do imunizante localmente na fábrica da Fiocruz. Mas, até 5 de maio, o contrato para transferência de tecnologia não foi assinado e a produção depende da importação do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) da China.
Em setembro, a previsão da Fiocruz era de produzir 265 milhões de doses da vacina em 2021. Posteriormente, a estimativa foi reduzida para 210,4 milhões de doses - 100,4 com IFA importado e 110 por produção 100% local.
Em janeiro, a fundação anunciou a entrega de 50 milhões de doses até abril. Na realidade, foram entregues 22,5 milhões - menos da metade do previsto. No mês de março, houve entrega de 2,8 milhões de doses, apenas 18,7% do que havia sido prometido.
A primeira entrega das doses produzidas aqui, a partir de insumo importado, ocorreu apenas em 17 de março. E o prazo para entrega de vacinas produzidas com insumo nacional também está sendo sistematicamente adiado - passando de agosto para outubro.
Falha em previsões
Na última sexta-feira (7), a Fiocruz fez outra previsão. O vice-presidente da instituição, Mario Moreira, afirmou em entrevista coletiva do Ministério da Saúde que a produção com IFA local deve começa em 15 de maio neste sábado.
A Fiocruz não se pronunciou sobre os atrasados detalhados na reportagem. Nos últimos meses, a fundação justificou o adiamento na entrega com o atrasado da chegada do IFA da China e 'dificuldades burocráticas e diplomáticas'. O adiamento da entrega prevista para março ocorreu por problemas em uma máquina, afirmou o órgão.
Um virologista que trabalha num centro desenvolvimento de vacinas, não identificado, afirmou ao jornal que a Fiocruz falhou ao anunciar previsões que não poderiam ser alcançadas.
“Desde o início, as projeções da Fiocruz para a produção da vacina Oxford/AstraZeneca no Brasil pareceram excessiva e perigosamente otimistas”, afirmou o especialista.
“A gente sabe que a instalação de uma infraestrutura para produzir uma vacina nunca produzida no País precisa de mais tempo e de uma readequação mais intensa da linha de produção do que apontavam as projeções prometidas pela Fiocruz.”, disse o cientista.