Entregador denuncia racismo ao ser impedido por moradora de usar elevador em prédio no RJ

Lei municipal do Rio proíbe qualquer tipo de discriminação no uso dos elevadores na cidade

Um entregador denuncia ter sido vítima de racismo após ser impedido por uma moradora de um condomínio em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, de usar um dos elevadores do prédio. João Eduardo Silva de Jesus fazia uma entrega de garrafas de água mineral quando a mulher barrou a entrada dele com ela no equipamento e exigiu que ele usasse o "de serviço". As informações são do g1

O caso ocorreu no último domingo (4) e foi registrado na delegacia como injúria por preconceito. Ela será chamada para prestar depoimento na 32ª DP (Taquara).

No prédio, há dois elevadores e apenas um botão para chamá-los. Segundo moradores, é normalmente usado o primeiro que chega, independentemente de a pessoa morar no local, ser trabalhador em serviço ou visitante.

Imagens feitas por João Eduardo mostram a mulher, identificada por testemunhas como Cláudia, dizendo para ele usar o elevador "de serviço". "Você não vai subir aqui não", impõe a moradora. "Por que não vou subir?", questiona o jovem. "Pela sua ousadia", responde a mulher. "Me fala onde está a ousadia", rebate o entregador. "[de falar] que não existe mais elevador de serviço", diz a moradora. 

Lei municipal

A lei municipal do Rio 3.629/2003 proíbe qualquer tipo de discriminação no uso dos elevadores na cidade, seja em virtude de raça, sexo, cor, origem, condição social, idade, porte ou presença de deficiência e doença não contagiosa.

Durante a discussão no elevador, o jovem citou a lei. "Isso é uma lei agora [não haver discriminação no uso do elevador]. A senhora não sabe? Se a senhora não sabe, está sabendo agora. E eu vou subir, sim", afirmou João.

Enquanto a moradora e o entregador discutiam, outros moradores e visitantes chegaram para usar o elevador e tentaram ajudar João Eduardo, mas sem sucesso. Hildeia Magalhães França, uma das moradoras, disse ao RJ2, da TV Globo, que nunca tinha visto um entregador ser barrado no elevador. Ela também explicou que a placa de elevador de serviço foi substituída por outra, em que consta a palavra "funcional". Ela disse ainda que o uso é comum.

A discussão só terminou após o porteiro chegar no local e pedir para que João saísse do elevador para evitar desgastes. A vítima seguiu a orientação, mas levou o caso para a polícia.

Pena pode chegar a 3 anos de prisão

A agressão sofrida pelo entregador foi registrada como injúria por preconceito, artigo 11 da Lei do Racismo. A norma prevê prisão de 1 a 3 anos para quem impedir o acesso às entradas sociais de edifícios públicos ou residenciais e elevadores ou escadas de acesso.

"Ela fez tanta questão de uma coisa tão fútil, sabe? Um pouco pela minha cor também e pela classe social, talvez por eu ser entregador. É triste, é desgastante também. Desgaste emocional, to um pouco abalado", disse o entregador. "A gente acorda cedo para trabalhar, para correr atrás do pão de cada dia e se depara com pessoas assim", afirmou.