Uma engenheira de 31 anos morreu dias após se submeter a uma cirurgia para colocação de um balão gástrico em Belo Horizonte, Minas Gerais. A família de Laura Fernandes Costa denuncia negligência médica e pede investigação. As informações são do g1.
O dispositivo é inserido no interior do estômago para ocupar espaço e levar o paciente a comer menos, facilitando a perda de peso. O noivo da mulher, Matheus Turchete, disse que ela decidiu fazer o procedimento para emagrecer antes do casamento, marcado para setembro deste ano.
Onze dias após a cirurgia, realizada em 26 de abril, a engenheira foi internada com fortes dores e precisou passar por uma intervenção de emergência, mas não resistiu. Na certidão de óbito consta que ela teve uma infecção generalizada, causada por um furo no estômago.
Familiares de Laura afirmam que ela não poderia ter feito o procedimento e recebeu uma assistência inadequada durante o pós-operatório. Já no dia seguinte à cirurgia, ela começou a vomitar sangue.
"A clínica poderia não só ter dado um suporte melhor, mas também ter evitado. Especialistas falaram que ela não poderia ter passado por esse procedimento, por causa do Índice de Massa Corporal (IMC) dela, que não comportava essa cirurgia. Ela tinha 70 quilos", afirmou Matheus Turchete.
Devido aos sintomas, quatro dias após ser operada, a própria paciente pediu que o médico fizesse a retirada imediata do balão. No entanto, a remoção só aconteceu em 2 de maio, em outra unidade da clínica, na Região Centro-Sul da capital mineira. "Ela ainda insistiu para o médico retirar: 'Minha vida vale mais que um balão'", contou o noivo.
A engenheira continuou passando mal e, em 6 de maio, foi levada pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para um hospital em Nova Lima, na Grande BH, onde foi constatada a perfuração no estômago. Laura foi levada às pressas para uma cirurgia de emergência e morreu no dia seguinte.
Médico nega negligência
O médico responsável pela operação foi Mauro Lúcio Jácome, especialista em endoscopia digestiva e gastroenterologia. Ao g1, ele negou a acusação de negligência médica. Em nota divulgada no nome da clínica onde o procedimento foi feito, esclareceu que a paciente atendeu os requisitos para o procedimento, realizado "sem qualquer intercorrência".
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) afirmou ter instaurado inquérito para apurar as circunstâncias e a causa da morte da engenheira. "A instituição irá realizar as oitivas de testemunhas e envolvidos, solicitar os prontuários médicos da paciente, e realizar todas as diligências", disse a polícia.
Veja nota da clínica Cronos na íntegra:
Em relação aos fatos, cumpre esclarecer que o procedimento de colocação de balão intragástrico é indicado para pacientes com sobrepeso ou obesidade, conforme literatura médica (IMC 25/consenso brasileiro de balão intragástrico), sendo que todos os requisitos para tal procedimento foram atendidos no caso em questão.
Houve a contratação da clínica para realização do referido procedimento, realizado em 26/04/2024, por médico especialista em endoscopia e cirurgia há mais de 20 anos, sendo referência profissional na área.
Importante esclarecer que no Termo de Consentimento assinado deste procedimento são descritos os possíveis riscos constantes da literatura médica como complicações, sendo que todas as orientações e esclarecimentos foram informados à paciente.
O procedimento ocorreu sem qualquer intercorrência, sendo a paciente liberada com acompanhante, sem sintomas, com agendamento de retorno para o dia seguinte, para fins de acompanhamento, mas sem comparecimento da paciente. A paciente não atendeu aos chamados da clínica para retorno.
Após, a pedido da paciente, o balão intragástrico foi retirado, em 02/05/2024, também sem qualquer intercorrência. A paciente deveria retornar à clínica no dia seguinte, 03/05/2024, conforme retorno agendado, mas não retornou.
Ocorre que, apesar da insistência por comunicação, a paciente não retornou contato, tampouco compareceu na Clínica. Após 5 dias, houve informação sobre o procedimento cirúrgico a qual a paciente foi submetida, junto ao Hospital de Nova Lima, e, mais tarde, no mesmo dia, houve informação sobre o falecimento da paciente.
Segundo consta, houve aspiração pulmonar na intubação oro traqueal (IOT). A clínica e os seus profissionais não obtiveram ciência do estado de saúde da paciente, apesar da insistência, pois não houve comunicação, e, infelizmente, não foi possível auxílio, apesar da disponibilidade da clínica e seus profissionais.
Toda conduta médica resta registrada no prontuário da paciente. A clínica e os seus profissionais estão à disposição da família ou autoridades para prestar todo esclarecimento e apresentar toda documentação necessária, a fim de comprovar a inexistência de erro médico, omissão de socorro ou qualquer ato que desabone a conduta ilibada da clínica e do seu corpo médico.