Dr. Jairinho buscou executivo da área da saúde para evitar que corpo de Henry Borel fosse ao IML

Vereador teria buscado executivo ainda antes de a criança ter morte confirmada

O médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho, ligou para um advogado que seria alto executivo da área da saúde com o intuito de impedir o encaminhamento do corpo do enteado, Henry Borel, de quatro anos, ao Instituto Médico Legal (IML). As informações são do jornal Extra.

Tanto Dr. Jairinho quanto a professora Monique Medeiros, namorada dele e mãe da vítima, foram presos na manhã desta quinta-feira (8) no Rio de Janeiro. Ambos são suspeitos pela morte da criança e devem ser indiciados por homicídio duplamente qualificado.

O advogado relatou, em depoimento prestado no 16º Distrito Policial (DP), na Barra da Tijuca, ter sido contatado pelo parlamentar às 4h57 do dia 8 de março.

Jairinho havia chegado ao Hospital Barra D'Or com a namorada, a professora Monique Medeiros, e o filho dela às 3h50, embora a morte da criança tenha sido atestada às 5h42 pela equipe médica.

Tentativa de contato

O advogado relatou que Jairinho enviou as seguintes mensagens: “amigo, me dê uma ligada”; “coisa rápida”; e “preciso de um favor no Barra D’Or”. O retorno, porém, veio às 7h17, quando o executivo disse que o vereador poderia ligar.

Ainda segundo a testemunha, o Dr. Jairinho teria dito, em "tom calmo, tranquilo e sem demonstrar nenhuma emoção", que "tinha acontecido uma tragédia", relatando a morte de Henry em seguida e pedindo "agilização do óbito" — conforme o relato, Monique "estava sofrendo muito", segundo o vereador.

Durante a conversa, o parlamentar teria solicitado ao executivo que o atestado de óbito fosse fornecido pela própria unidade de saúde. O advogado, então, pediu o nome da criança.

Checagem no hospital

Ao checar informações com o hospital, ele foi informado de que a criança chegara "em PCR, previamente hígida, apresentando equimoses pelo corpo” e que teve óbito "sem causa definida".

O executivo soube, por meio da equipe responsável pelo atendimento, que Henry era “filho de pais separados e que o pai queria levá-lo ao IML, e o padrasto é médico e queria o atestado”.

Ainda em ligação com os profissionais do hospital, o advogado recebeu mais mensagens de Jairinho: “Agiliza ou eu agilizo o óbito? E a gente vira essa página hoje”; “vê se alguém dá o atestado para a gente levar o corpinho”; “virar essa página”.

Após explicar a situação, o advogado teria sido replicado pelo parlamentar: “Tem certeza de que não tem nenhum jeito? Se não tem jeito, vamos fazer o que tiver que ser feito”, recebendo, em seguida, quatro telefonemas.

Segundo as pediatras que atenderam Henry na emergência, o menino já chegou morto ao hospital, com as lesões descritas no laudo de necropsia. Os documentos indicam que o menino sofreu hemorragia interna e laceração hepática provocada por ação contundente. O corpo dele ainda apresentava equimoses, hematomas, edemas e contusões.

Doméstica denunciou violência

Uma conversa de Monique com a babá de Henry Borel, Thayná de Oliveira Ferreira, também teve importância na prisão dos dois suspeitos. De acordo com a Polícia Civil do Rio de Janeiro, o celular da mãe da vítima tinha uma captura de tela de conversa em que a babá relatava machucados no garoto. Henry, inclusive, queixava-se das agressões.

Pouco menos de um mês antes do crime, Thayná avisou Monique que a criança foi pegue pelo braço e levou um chute do padrasto. "A própria babá fala que o Henry mancava, que ao dar banho uma vez, ele não deixou lavar a cabeça devido à dor", afirmou Henrique Damasceno, delegado titular do 16° DP.

Os policiais apreenderam o celular da babá em diligência ocorrida nesta quinta. Ela, no início das investigações, mentira para a Polícia, não relatando situações de violência.