A Polícia Civil de São Paulo (PCESP) acredita que o assassinato de Cláudia Regina da Rocha, funcionária da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Bauru (SP), pode ter sido motivado por desvio de verbas e disputa de poder dentro da entidade. Apesar de a hipótese ter sido levantada, as investigações do caso ainda não foram concluídas.
Conforme informado pelo G1, Cledson do Nascimento, delegado à frente da apuração policial, afirmou que a corporação presume que o assassinato pode ter sido motivado por desvio de dinheiro e desavenças entre a secretária-executiva e o presidente da associação, Roberto Franceschetii, principal suspeito do caso.
“As investigações faltam em relação à motivação, que, para a gente, é a má gestão, o desvio de verba, a disputa de poder que existia ali”, declarou ele, durante coletiva de imprensa realizada nessa segunda-feira (26).
A fala foi reforçada por documento apresentado pela corporação à imprensa, em que a possibilidade do crime ter sido passional foi descartada.
“Apesar de parte da grande mídia e opinião pública cogitarem para uma possível questão passional para o crime e o Roberto direcionar a investigação para 'traficantes' que cobravam familiares de Cláudia, passamos a trabalhar com os fortes indicativos de rombo no caixa da entidade assistencial, má gestão e conflitos de interesse entre presidente e secretária executiva”, afirmou a polícia, no documento.
DESVIO DE DINHEIRO
Em relação ao suposto desvio de verbas, o Setor Especializado de Combate aos Crimes de Corrupção, Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro (Seccold) iniciou uma investigação para apurar possíveis fraudes financeiras dentro da instituição.
A hipótese surgiu após a coordenadora financeira da Apae confirmar que Roberto fornecia “adiantamentos” para a secretária-executiva. A movimentação era registrada no sistema como “pagamento para fornecedores”.
No computador da vítima, a Polícia encontrou planilhas pessoais de contabilidade, que mostram inconsistências financeiras, envolvendo, até mesmo, valores em aberto relacionados ao presidente. “Diante disso, em diligências visando a coleta de material genético da desaparecida, apreendemos também o seu notebook, além da quantia de R$ 10 mil em espécie que havia sido deixada por Claudia na casa da filha”, informou a corporação através do documento divulgado à imprensa.
ASSASSINATO
Ainda durante a coletiva, a PCESP explicou que as investigações indicam que a secretária foi morta por um único tiro, disparado por Roberto, em um veículo da associação.
Imagens registradas por câmeras de segurança mostram os dois dentro do automóvel. Em determinado momento, a dupla troca de lugar. "O Roberto sai do banco do passageiro e assume a direção, indo a Cláudia para o banco de trás, tranquilamente, sem nenhum tipo de ameaça ou pressão. Esse veículo fica parado por cerca de três minutos. Para nossa investigação, é nesse momento que acontece o disparo, porque, daí, ele já sai direto para a região rural do bairro Pousada da Esperança”, contou o delegado.
Após a ação, o presidente teria entrado em contato com Dilomar Batista, funcionário do almoxarifado da instituição, para descartar o corpo. Em depoimento prestado à corporação na última sexta-feira (23), o trabalhor confessou ter ajudado o chefe a queimar o corpo da vítima, sob ameaça.
No dia em que foi preso, em 15 de agosto, Roberto chegou a confessar informalmente a culpa pelo assassinato. Durante o depoimento formal, no entanto, ele negou a acusação.
RELEMBRE O CASO
Claudia Regina, de 55 anos, desapareceu no dia 6 de agosto, após deixar o local de trabalho. De acordo com a filha da funcionária, a mãe teria dito a uma colega que sairia para resolver assuntos relacionados ao trabalho, sem levar bolsa ou celular.
Em imagens de câmeras de segurança instaladas na rua da instituição, é possível observar a secretária caminhando até o carro com um envelope na mão.
O veículo foi encontrado estacionado em outro local no dia seguinte, sem a motorista e com a chave depositada no quebra-sol. Um vestígio deixado no automóvel foi analisado pelas autoridades e identificado como sangue.