Amazônia atrai doação para apagar fogo, em meio à rixa diplomática

G7 (clube dos países mais ricos) promete desbloquear recursos para o combate aos incêndios florestais, enquanto Jair Bolsonaro e o presidente francês Emmanuel Macron voltam a trocar farpas devido à crise ambiental

O esforço para combater as queimadas na Amazônia recebeu, ontem, garantia de doações de recursos, enquanto os presidentes do Brasil e da França voltaram a trocar acusações.

O G7, grupo de países mais ricos do mundo, decidiu, ontem, desbloquear uma ajuda de urgência de 20 milhões de euros, o equivalente a cerca de R$ 91 milhões, para combater os incêndios florestais no Brasil. A verba será usada principalmente para o envio de aviões para apagar o fogo.

Já o presidente do grupo francês LVMH, Davide Marcovitch, anunciou que o conglomerado doará 10 milhões de euros para ajudar no financiamento do combate aos incêndios. O anúncio foi feito para o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), durante almoço oferecido, ontem, na capital paulista, pela Câmara de Comércio França-Brasil. O grupo congrega empresas como Louis Vuitton e Moët Chandon.

Manifestações de solidariedade à parte, ontem, o presidente francês, Emmanuel Macron, voltou a subir o tom contra o presidente Jair Bolsonaro, dizendo esperar que "os brasileiros tenham logo um presidente que se comporte à altura" do cargo.

Em entrevista ao lado do presidente chileno Sebastián Piñera, no âmbito da cúpula do G7, o chefe de Estado francês afirmou que "é triste" ver ministros brasileiros insultarem líderes estrangeiros.

No último fim de semana, o titular da Educação, Abraham Weintraub, disse que Macron "é apenas um calhorda oportunista buscando apoio do lobby agrícola francês".

"Os franceses elegeram esse Macron. Porém, nós já elegemos Le Ladrón, que hoje está enjauladón...Ferro no cretino do Macron, não nos franceses...", publicou Weintraub, na sequência.

Já Bolsonaro zombou da mulher do francês, Brigitte Macron, em comentário na internet. "Penso que as mulheres brasileiras sentem vergonha ao ler isso, vindo de seu presidente, além das pessoas que esperam que ele represente bem seu país", afirmou o líder europeu, classificando as palavras do brasileiro como "extremamente desrespeitosas".

"Como tenho uma grande amizade e respeito pelo povo brasileiro, espero que tenham logo um presidente que se comporte à altura do cargo", disse Macron.

Ao lado do líder francês, durante a declaração, o chileno Piñera se manteve em silêncio e não comentou a briga entre os governos de Paris e Brasília - ele é considerado um aliado regional de Bolsonaro.

Crise diplomática

Durante participação em um programa televisivo, a ministra da Justiça da França, Nicole Belloubet, havia qualificado como "baixezas" os insultos de políticos brasileiros a Macron e sua mulher.

Comentaristas da mídia francesa também falaram em "vulgaridades no limite da decência". Bolsonaro respondeu às críticas, ontem. "Não podemos aceitar que o presidente Macron dispare ataques descabidos e gratuitos à Amazônia, nem que disfarce suas intenções atrás da ideia de uma 'aliança' dos países do G7 para 'salvar' a Amazônia, como se fôssemos uma colônia ou uma terra de ninguém", publicou o presidente em rede social.

Brasil e França vivem a mais séria crise diplomática desde a década de 1960. Os desentendimentos entre os dois líderes se acirraram desde que o brasileiro ameaçou deixar o Acordo de Paris sobre o Clima e o francês reagiu prometendo barrar o acordo comercial firmado entre a União Europeia e o Mercosul.