Elizabeth Holmes, fundadora da empresa de biotecnologia Theranos, é condenada por fraude nos EUA

Executiva foi considerada culpada pelo júri em quatro das 11 acusações que enfrentava

Escrito por AFP ,
Elizabeth Holmes hoje
Legenda: Holmes foi acusada de fraude eletrônica por envolvimento em um esquema multimilionário para fraudar investidores com o laboratório de exames de sangue
Foto: AFP

A fundadora da empresa americana de biotecnologia Theranos, Elizabeth Holmes, 37, foi considerada culpada de fraude nessa segunda-feira (3) em um tribunal da Califórnia. Holmes pode ser sentenciada a anos de prisão. Ela permanecerá em liberdade e na semana que vem haverá outra audiência para fixar as condições de sua fiança. 

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O júri demorou uma semana analisando o caso e concluiu que Holmes foi culpada de enganar investidores para que colocassem dinheiro em sua startup, com sede nessa região da Califórnia, que prometia revolucionar os exames de sangue com ferramentas mais rápidas e baratas do que as utilizadas por laboratórios tradicionais.

Mas o painel de 12 pessoas, que ouviu durante semanas argumentações da defesa e da promotoria, inocentou a executiva de outras acusações e não conseguiram chegar a um acordo sobre várias das onze acusações que ela enfrentava.

"O veredicto de culpa neste caso reflete a culpabilidade de Holmes nesta fraude de investidores em larga escala e agora deve enfrentar a sentença por seus crimes", disse a promotora Stephanie Hinds em um comunicado lido nos arredores do tribunal por uma representante.

Holmes não deu declarações ao sair da corte, quando perguntada se tinha intenções de apelar.

A ex-promessa do Vale do Silício fundou a Theranos aos 19 anos. Ela garantia que a empresa revolucionaria a indústria de testes diagnósticos com máquinas que poderiam entregar resultados rápidos com apenas algumas gotas de sangue, um projeto que atraiu grandes investidores e a tornou uma bilionária aos 30 anos.

Império em ruínas

Antes do nascer do sol, uma fila de jornalistas e espectadores já tinha se formado para aguardar sua chegada à sala de audiências em frente ao tribunal federal de San José, no coração do Vale do Silício.

Quando Holmes apareceu, de mãos dadas com sua mãe, a multidão se aproximou para tirar fotos e gritar palavras de ordem a favor da acusada, preocupando o juiz Edward Dávila sobre a influência que poderia ter sobre o júri.

Uma sósia de Holmes, vestida como ela e com o cabelo puxado para trás e roupas pretas, se uniu à multidão.

A mulher chegou a ser considerada a próxima personalidade do mundo da tecnologia e arrecadou milhões de dólares de investidores que apostaram em sua empresa, mas seu império ruiu depois que o jornal Wall Street Journal publicou que suas máquinas de diagnóstico não funcionavam como prometido e que a executiva poderia ter enganado investidores e pacientes.

Holmes incluiu os logotipos de gigantes farmacêuticas como Pfizer e Schering-Plough nos informes da Theranos que elogiavam a tecnologia da sua empresa para analisar exames de sangue e que eram depois enviados aos investidores.

Isso foi feito sem a autorização das empresas, o que foi a peça-chave nas argumentações da promotoria, segundo as quais ela tentou deliberadamente aumentar a credibilidade da Theranos para ganhar apoio financeiro.

'Fingir até conseguir'

A Theranos atraiu importantes personalidades, como o magnata da mídia Rupert Murdoch, o ex-secretário de Estado Henry Kissinger e o  ex-secretário da Defesa James Mattis.

Embora todos estivessem na lista de testemunhas, a defesa só convocou  Holmes, e argumentou que ela acreditou na Theranos e trabalhou intensamente no projeto, mas falhou.

Holmes também responsabilizou seu ex-sócio e ex-namorado Ramesh "Sunny" Balwani, um empresário quase vinte anos mais velho do que ela, que era seu braço direito na Theranos.

À beira das lágrimas, a americana assegurou ao júri que Balwani a maltratou e obrigou a ter relações sexuais com ele, acusações que ele rechaçou.

Balwani enfrentará outro julgamento por seu papel na Theranos, cujas acusações ele rechaça.

O caso repercutiu nos Estados Unidos por levar para o banco dos réus uma personalidade do mundo da tecnologia e pôr na mira a ambiciosa cultura dos empreendedores.

Não é comum ver empreendedores fracassados do Vale do Silício enfrentar acusações de fraude.

Um dos clichês mais repetidos do mundo das novas empresas é "finja até conseguir", que sustenta a ideia de que dá certo convencer as pessoas de investir grandes quantidades de dinheiro com a esperança de que um dia vão alcançar o sucesso prometido.

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