A escalada sucessiva de ameaças e ataques russos na Ucrânia aumenta os temores sobre a segurança mundial. Após a Rússia invadir o espaço aéreo da Suécia nesta quarta-feira (2), os Estados Unidos alertaram para o perigo de uma possível guerra nuclear.
No Conselho de Segurança das Nações Unidas, países detentores das temidas bombas assinaram um documento em que se comprometem a não iniciar o conflito atômico. Mesmo assim, ainda há chances de uma guerra nuclear? Como o Brasil seria afetado?
No mundo, existem mais de 13 mil ogivas, que são foguetes, projéteis ou mísseis com armas nucleares encapsuladas – e o número já foi muito maior: durante a Guerra Fria, União Soviética e Estados Unidos tinham, juntos, mais de 60 mil ogivas.
Atualmente, a Rússia, herdeira da União Soviética, é detentora do maior número, com pelo menos 5,9 mil ogivas. Em seguida, os Estados Unidos, com 5,4 mil. Só então temos a China no ranking, com 350 ogivas. Ou seja, mais de 90% dessas armas estão concentradas na Rússia e Estados Unidos.
Depois dos bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, foram criados diversos tratados e organizações, como a própria Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), para evitar outros ataques nucleares. No entanto, países considerados como grandes potências, como Rússia e Estados Unidos, continuaram a se armar e investir em armamentos nucleares.
Qual seria o estrago de uma bomba nuclear nos dias de hoje?
Desde as explosões no Japão, as armas nucleares evoluíram. O professor doutor Carlos Alberto Almeida, do departamento de Física da Universidade Federal do Ceará (UFC), afirma que o estrago atualmente seria muito maior.
"As bombas de hoje são 100 vezes maiores que a bomba atômica que destruiu Hiroshima. Imaginem então que uma única bomba atual pode destruir facilmente uma grande cidade do mundo com 5 milhões de pessoas", disse.
Marcelo Uchôa, professor de Direito Internacional Público da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), acredita que a possibilidade de uma guerra nuclear é remota. No entanto, "a história já provou que a humanidade é capaz de usar bombas nucleares e fazer isso consigo e com o planeta. Não dá para brincar com a ameaça". Caso se torne uma guerra nuclear, "não terá fim".
O confronto nuclear total destruiria toda a humanidade e, segundo o professor Carlos Alberto, mataria, inicialmente, 2 bilhões de pessoas, se localizada no Hemisfério Norte.
Sarah Lima, especialista em Direito Internacional, não vê a possibilidade como tão remota assim.
"Apesar de improvável, eu não diria que as chances são tão remotas, com base nas ameaças do estado russo e dos treinamentos que vêm sendo realizados", afirma.
No entanto, não descarta a possibilidade da ameaça nuclear "estar sendo utilizada como blefe para barrar a interferência de outros países".
Uchôa também concorda com a especialista e diz que "a ponderação da possibilidade é mais um confronto de palavras do governo russo".
Outra consequência de uma guerra nuclear em grandes proporções é o inverno nuclear, pontua o físico Carlos Alberto. "Ele [o inverno nuclear] se constitui numa mudança radical do nosso meio-ambiente, devido ao calor e radiação gerados numa guerra nuclear de grandes proporções", explica
"A camada de ozônio seria parcialmente destruída, uma enorme quantidade de poeira levantada pelas explosões bloquearia a luz solar, levando a temperaturas glaciais em todo o planeta por várias semanas. Nenhuma parte do planeta estaria protegida", emenda o professor. Essa teoria, no entanto, não tem unanimidade entre os cientistas.
Como o Brasil seria afetado?
O Brasil não possui bombas atômicas, apenas usinas nucleares, a exemplo da localizada em Angra dos Reis, Rio de Janeiro.
No caso das bombas nucleares, o urânio utilizado precisa ser enriquecido até cerca de 90%. Conforme o professor Carlos Alberto, apesar do Brasil possuir a tecnologia para o enriquecimento do urânio a essa porcentagem, ainda teria que desenvolver o aparato técnico para posteriormente fazer bombas atômicas.
"Mas desde um acordo de salvaguardas com a Argentina (em 1991), os dois países se comprometeram a nunca desenvolver armas atômicas e manter a América do Sul desnuclearizada", detalhou o especialista.
No caso de um ataque com bombas nucleares, Sarah Lima diz que um efeito imediato no Brasil seria "o aumento da inflação e dos preços de diversos produtos, assim como a possibilidade de escassez de determinados produtos importados. Além disso, definitivamente não haveria qualquer espaço para "neutralidade"", afirma.
Para Uchôa, o Brasil não vai conseguir fugir do conflito, apesar de não participar diretamente, isso porque há relações de comércio bilaterais com a Rússia. "O Brasil forma o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) com a Rússia. Já se vê que os commodities vão elevar o preço, petróleo, ferro, minérios em geral. Com a Rússia caindo no seu poder, haverá um efeito cascata no mundo todo", afirma.