A presidente da renomada universidade americana de Harvard, Claudine Gay, renunciou nesta terça-feira (2), após receber duras críticas pela gestão dos casos de antissemitismo no campus, além de acusações de plágio em seu trabalho acadêmico.
Claudine foi criticada nos últimos meses após relatos de que ela não citava adequadamente fontes acadêmicas nas pesquisas. Ela também se viu envolvida em polêmicas quando se recusou a dizer, de forma inequívoca, se pedir o genocídio dos judeus violava o código de conduta de Harvard. O caso foi durante uma audiência no Congresso ao lado dos reitores do MIT e da Universidade da Pensilvânia, em 5 de dezembro.
Claudine, que fez história como a primeira pessoa negra a liderar a poderosa universidade, e segunda mulher na função, afirmou em sua carta de renúncia que foi vítima de ataques pessoais e racismo.
"Tem sido angustiante levantarem dúvidas sobre meus compromissos em confrontar o ódio e sustentar o rigor acadêmico... E assustador ser sujeita a ataques pessoais e ameaças motivados por animosidade racial", escreveu.
A renúncia ocorre após a direção da universidade inicialmente respaldar Claudine após o desastre que o depoimento dela perante o Congresso representou para a instituição. O órgão, porém, criticou a resposta inicial da universidade aos ataques do Hamas de 7 de outubro, que, segundo Israel, resultaram na morte de 1,2 mil pessoas e no sequestro de 240.
A ofensiva israelense reduziu grande parte da Faixa de Gaza a escombros e matou pelo menos 22.185 pessoas, a maioria mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
Renúncia "com grande pesar"
Mais de 70 legisladores, incluindo dois democratas, pediram a renúncia de Claudine. Vários ex-alunos e doadores de alto perfil de Harvard também defenderam a saída. Ainda assim, mais de 700 professores de Harvard haviam assinado uma carta apoiando a presidente.
A renúncia, noticiada em primeira mão pelo jornal estudantil Harvard Crimson, foi confirmada logo depois, pela própria Claudine: "Com grande pesar, mas com profundo amor por Harvard, escrevo para compartilhar que deixarei o cargo de presidente."
Antissemitismo nos campi
Nos Estados Unidos, a controvérsia sobre o antissemitismo nos campi ocorre em meio a um aumento de ataques e da retórica violenta contra judeus e muçulmanos, inclusive nas universidades, desde o início da guerra entre Israel e o Hamas.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, um aliado próximo dos EUA, declarou que "uma enorme onda de antissemitismo se infiltrou nos campi universitários”. Yad Vashem, o memorial oficial do Holocausto de Israel, descreveu o fenômeno como "um câncer".
O ex-aluno e doador bilionário Bill Ackman afirmou em carta à administração de Harvard que "os fracassos da reitora Claudine resultaram no cancelamento e na pausa e retirada de doações à universidade na casa dos bilhões de dólares".
"Conduta lamentável"
Claudine Gay, de 53 anos, nasceu em Nova York, filha de pais imigrantes haitianos. Ela é professora de ciência política e se tornou, em julho passado, a primeira presidente negra de Harvard, universidade fundada há 368 anos.
"O fracasso de liderança e a negação do antissemitismo têm um preço. Espero que a gloriosa Universidade de Harvard aprenda com essa conduta lamentável", escreveu o novo ministro de Relações Exteriores israelense, Israel Katz, em resposta a informações sobre a saída de Claudine.