A OMS (Organização Mundial da Saúde) decidiu, nesta quarta (11), declarar que há uma pandemia do novo coronavírus em curso no mundo.
"Consideramos que a covid-19 pode ser caracterizado como uma pandemia", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em entrevista coletiva em Genebra.
Ações mais agressivas
Ghebreyesus afirmou que declarar pandemia não significa que a situação está fora de controle nem que mundo deve abandonar as medidas de contenção e passar a pensar em mitigação. Ele pediu ações mais agressivas.
Em 28 de fevereiro, a OMS mudou a avaliação da ameaça internacional do coronavírus Sars-CoV-2 de "alta" para "muito alta", a mais grave do novo sistema de alerta de quatro fases da entidade.
"Esse é um alerta para todos os governos do planeta", disse Michael J. Ryan, diretor do programa de saúde emergencial da OMS. "Acordem. Prontifiquem-se. O vírus pode estar a caminho."
A avaliação se refere aos riscos da dispersão sem controle do vírus e do impacto que isso possa causar. Ryan disse também que a mudança reflete a dificuldade de alguns países conterem a disseminação da doença. A entidade, porém, não explicou em seu site ou nas redes sociais quais são as quatro fases do sistema de alerta e o que essa última implica exatamente.
Na época, um porta-voz disse que grupos em várias organizações estavam trabalhando para definir o status de pandemia para esse novo vírus, o que podia demorar.
A entidade define epidemia como um surto regional de uma doença que se espalha de forma inesperada. Em 2010, a OMS definiu pandemia como o espalhamento mundial de uma nova doença que afeta um grande número de pessoas.
No Brasil
O Brasil registra 37 casos confirmados de infecção. No pior cenário, a previsão do ministério é que em até duas semanas e meia, o país tenha aumentado exponencialmente os registros, que se manteriam em um platô por mais oito semanas.
Diante de uma projeção de aumento de casos do novo coronavírus nas próximas semanas, o Ministério da Saúde pediu a cinco hospitais filantrópicos de excelência no país que usem recursos e pessoal envolvidos hoje em projetos desenvolvidos no SUS no enfrentamento da epidemia.
Nesse período, o governo estima um grande aumento da demanda por atendimento hospitalar, ainda mais levando em conta a possibilidade de o momento coincidir com o pico de casos de gripe por influenza. A projeção foi descrita pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em reunião na última segunda-feira (9), em Brasília, com gestores de cinco hospitais: Sírio-Libanês, Albert Einstein, Oswaldo Cruz e Hospital do Coração (HCor), de São Paulo, e Moinhos de Vento, de Porto Alegre.
As cinco instituições convocadas para a reunião integram o Proadi (Programa de Apoio e Desenvolvimento Institucional do SUS), o maior projeto público-privado na área da saúde no país. Existente desde 2009, ele atua em várias frentes, de capacitação pessoal à assistência especializada.
"Foi pedido para que fiquemos atentos à curva de aumento de casos, nos resguardarmos de estrutura e pessoas e redirecionarmos os recursos do Proadi, durante a crise [do coronavírus], para projetos de atendimento e suporte dos hospitais públicos", diz o médico Paulo Chapchap, diretor-geral do Sírio-Libanês.
Um dos projetos do Proadi é o "Lean nas Emergências", que tem a meta de sanar o problema de superlotação e o longo tempo de espera nas emergências do SUS. Neste ano, cem hospitais públicos devem participar do projeto. Outros 59 já passaram por treinamentos.
"Naqueles hospitais onde estou fazendo o 'Lean', vou dar suporte para que as emergências consigam absorver o grande número de casos da epidemia", explica o diretor.
Outro projeto que deve estar envolvido na contenção da epidemia, por meio da telemedicina, é o "Saúde em Nossas Mãos", que tem como objetivo reduzir casos de três tipos de infecções hospitalares em 119 instituições públicas do país.
"Vamos fazer o que for necessário. Os 'gaps' [brechas] vão aparecer, as necessidades vão ficar claras se epidemia vier na intensidade vista nos outros países. O ministério vai nos apontar as necessidades e a gente vai tentar ajudar."
Segundo Ana Paula Marques de Pinho, superintendente de Responsabilidade Social do Hospital Oswaldo Cruz, a ideia é que as instituições ligadas ao Proadi usem a capilaridade dos projetos que já estão em curso no SUS.
"Você estende o mesmo nível de controle, a mesma lógica do privado, e o conhecimento fica mais equânime."
O cenário leva em conta a possibilidade de que nas próximas semanas o país já tenha transmissão comunitária do novo coronavírus.
"Os primeiros casos contaminaram de duas a três pessoas. Agora a progressão é geométrica, não tem jeito. É um para dois, dois para quatro, quatro para oito, oito para 16. A gente espera que a situação seja menos grave no Brasil por causa do clima, mas temos obrigação de estarmos preparados para o grave", afirma Chapchap.
Segundo o diretor do Sírio Libanês, a orientação é que, caso o pior cenário se confirme, cirurgias eletivas (como de hérnias, vesícula, quadril, joelho entre outras) sejam adiadas para que os leitos fiquem reservados às vítimas de coronavírus.
"Numa hora de estresse, são procedimentos que podem ser adiados sem prejuízo aos pacientes", diz Chapchap.
Outra preocupação é com a proteção dos profissionais de saúde, mais suscetíveis à contaminação. No Irã, 40% dos profissionais de saúde se infectaram.
Na Itália, até profissionais não treinados, como bombeiros e pessoal do exército, estão ajudando no atendimento de pacientes. O país registra a maior taxa de letalidade até agora: 5%.
"A mensagem é: vamos nos preparar para o pior para evitarmos sustos. A gente não quer subsestimar a situação. Se não acontecer, ótimo, vamos celebrar", diz ele.
No Sírio-Libanês, eventos já foram cancelados e médicos proibidos de viajar de avião, inclusive no Brasil.
"Você entra num avião e não sabe quem tem e quem não tem [o coronavírus]. Se eu ficar sem o profissional, fico sem conseguir atender os pacientes", afirma o diretor.