Mulher foge com cinco filhos de seita religiosa no Quênia que já matou mais de 225 pessoas

Fuga ocorreu em março deste ano após mãe não aceitar que filhos ficassem em jejum

A sobrevivente da seita evangélica que já deixou mais de 225 mortos, Salema Masha, fugiu dentro de uma floresta no Quênia junto com cinco filhos para evitar que crianças morressem por inanição. Em entrevista à BBC, ela detalhou que não concordava com crença de que conheceria Jesus através do jejum.

Apesar de ter se juntado ao grupo por influência do marido, logo percebeu que não poderia continuar. "Meu filho estava morrendo de fome. Eu disse a mim mesma: Se me sinto tão mal quando jejuo, imagina meu filho", disse.

Em abril deste ano, corpos de vítimas do chamado Massacre da Floresta de Shakahola foram descobertos. Alguns, inclusive, apresentaram ausência de órgãos. Conforme informado por relatório emitido pelas autoridades locais, o pastor evangélico Mackenzie declarava que fiéis, através do jejum, “conheceriam Jesus”.

Participação de seita religiosa

Salema chegou ao local depois do marido dela atender ao "chamado" de Mackenzie. O esposo se tornou um dos assistentes do pastor e contribuiu com a ação de enterrar os corpos dos mortos. 

Por ordem de Mackenzie, as crianças deveriam ser as primeiras a "partir", posteriormente viriam os solteiros, as mulheres, os homens e, por último, os líderes da igreja. 

Em reuniões semanais, Salema era orientada a parar de comer. Caso alguém questionasse o jejum, eram informados de que o portão do céu estaria fechado pela demora em morrerem. 

“Quando a criança chorava ou pedia comida ou água, éramos orientados a pegar uma bengala e bater nelas para que pudessem ir comer no céu”.
Salema Masha
Sobrevivente de seita evangélica

Na floresta, Salema chegou a dar a luz para uma filha, que hoje tem um ano. O local era oferecido como um santuário para a suposta aproximação de um apocalipse.

Fuga da seita

Ainda em entrevista à CNN, Salema detalhou que, após sete dias de jejum, ouviu a "voz de Deus" dizendo que aquilo não era a vontade dele, e que ela ainda tinha pendências no mundo. 

A fuga aconteceu em um dia que o marido saiu para "trabalhar", ou seja, enterrar os mortos.

“Meus filhos jejuaram por quatro dias sem comida e água, e eles estavam chorando. Então, quando vi que eles estavam tão fracos, dei água a eles e disse a mim mesma que não podia permitir que meus filhos morressem.”
Salema Masha
Sobrevivente

Salema pegou os filhos e entrou na floresta. Ao chegar na estrada principal, conseguiu percorrer vários quilômetros a pé até pegar carona com uma pessoa que passava. Logo levou os filhos a um local seguro. 

Além dela, outras pessoas tentaram fugir, mas foram detidas por "seguranças" homens que usavam facões. Os fugitivos eram espancados e levados de volta para a floresta. 

Após escapar, os assistentes do pastor ainda procuraram por ela uma semana depois. No entanto, ela não aceitou. Na conversa, Salema reforçou que não foi ameaçada.