Carta citada por James Cameron para OceanGate falava de riscos do submarino: 'apresentação enganosa'

O documento foi revelado pelo The New York Times na quarta-feira (21)

O cineasta James Cameron, que dirigiu o filme 'Titanic' (1997) e é um experiente explorador submarino, mencionou, em entrevista à BBC News, nesta sexta-feira (23), a existência de uma carta enviada por lideranças da indústria de tecnologia marinha à OceanGate sobre riscos no desenvolvimento dos submersíveis da empresa ainda em 2018. 

A carta a que Cameron se referiu foi revelada pelo periódico norte-americano The New York Times na quarta-feira (21). O documento avisava ao CEO da empresa, Stockton Rush, uma das cinco vítimas da implosão do submarino Titan, que a abordagem da OceanGate poderia provocar consequências "catastróficas".

Escrita pela Sociedade de Tecnologia Marinha, uma associação de engenheiros, educadores e oceanógrafos, a carta falava em "preocupação unânime quanto ao desenvolvimento do Titan e da Expedição ao Titanic" e buscava alertar a OceanGate para uma série de parâmetros de segurança necessários para a viagem aos destroços da famosa embarcação que naufragou em 1912.

Veja o que se sabe até agora

Quando o submarino Titan desapareceu?

A comunicação com o submersível, de 6,5 metros de comprimento, foi perdida no último domingo (18), quase duas horas após o equipamento iniciar a descida em direção ao que restou do Titanic.

Quem estava no submarino Titan?

Estão a bordo do submersível o bilionário e aviador britânico Hamish Harding, presidente da empresa de jatos particulares Action Aviation; o empresário paquistanês Shahzada Dawood, vice-presidente do conglomerado Engro, e seu filho Suleman; o mergulhador francês Paul-Henri Nargeolet, e Stockton Rush, CEO da OceanGate Expeditions, a companhia responsável pelo Titan, que cobra 250 mil dólares (aproximadamente R$ 1,2 milhão) por turista.

A quantos quilômetros de profundidade está o Titanic?

O que sobrou do Titanic está no fundo do oceano, a quase 4 mil metros de profundidade e a cerca de 600 quilômetros da costa do Canadá.

James Cameron, diretor do filme Titanic, já visitou o navio?

Sim. O cineasta já mergulhou 33 vezes para visitar os destroços da embarcação. Ele, inclusive, lançou um documentário sobre isso, em 2003: "Fantasmas do abismo". Procurado pelo canal americano CNN, Cameron não comentou o desaparecimento do Titan no último domingo (18).

"Sua apresentação é, no mínimo, enganosa para o público e viola um padrão profissional do código de conduta que todos nos esforçamos para atender [...] No entanto, recomendamos que, no mínimo, você institua um programa de teste de protótipo revisado e testemunhado pela DNV-GL. Embora isso possa exigir tempo e despesas adicionais, é nossa opinião unânime que este processo de validação por um terceiro é um componente crítico nas salvaguardas que protegem todos os ocupantes submersíveis", diz o comunicado.

Comparando a história atual à de 1912, Cameron disse à BBC que, "agora, temos outro naufrágio que se baseia, infelizmente, nos mesmos princípios de não atender aos avisos [...] O OceanGate foi avisado".

'Eu não teria entrado naquele submarino'

Ainda na entrevista, Cameron afirmou que suspeitou da tecnologia utilizada pela OceanGate para a expedição. "Eu não teria entrado naquele submarino", opinou o cineasta, que já fez 33 mergulhos submersíveis aos destroços do Titanic.

Além disso, ele contou que entendeu que o submarino implodiu no momento em que tomou conhecimento da história. "Eu senti em meus ossos o que tinha acontecido. Para a eletrônica do submarino falhar e seu sistema de comunicação falhar, e seu transponder de rastreamento falhar simultaneamente... o submarino se foi", relatou.

Entenda o caso

Destroços do submersível Titan foram encontrados no fundo do oceano na manhã de quinta-feira (22), a cerca de 500 metros da proa do Titanic, segundo a Guarda Costeira dos Estados Unidos.

"Os detritos encontrados hoje eram consistentes com a perda catastrófica da câmara de pressão no submersível", disse Paul Hankins, especialista em salvamento da Marinha dos EUA. No entanto, não se sabe ainda como a implosão aconteceu. As autoridades e o governo americano seguem com as investigações.