Um blogueiro militar russo e defensor da ofensiva militar na Ucrânia foi morto e outras 25 pessoas ficaram feridas após explosão em um café em São Petersburgo, no noroeste da Rússia, nesse domingo (2).
"Hoje, um dispositivo de natureza desconhecida explodiu em um café no centro de São Petersburgo", anunciou o Comitê Investigativo russo, responsável pelas principais investigações na Rússia, em comunicado.
"Uma pessoa morreu e 25 ficaram feridas, 19 das quais estão hospitalizadas", disse o governador de São Petersburgo, Alexander Beglov, no Telegram.
Segundo os investigadores, que abriram "uma investigação criminal" por "assassinato por meios perigosos", a vítima é "o blogueiro militar conhecido sob o pseudônimo de Vladlen Tatarsky".
Explosão após presente
"Uma mulher presumivelmente" levou o dispositivo explosivo até o local, segundo uma fonte citada pela agência de notícia Ria Novosti. "Havia uma estatueta na caixa: um presente destinado ao Sr. Tatarsky", acrescentou esta fonte.
"Ela lhe deu" e, depois, "de repente, houve uma explosão", disse à AFP Alissa Smotrova, uma mulher que presenciou o ocorrido. "Havia sangue, pedaços de vidro por todos os lados".
Outra fonte, também citada pela Ria Novosti, informou que a mulher em questão era "conhecida" do blogueiro e que os dois já tinham se encontrado "em eventos", sem dar mais detalhes.
"Todas as medidas necessárias estão sendo tomadas para identificar os envolvidos", acrescentou o Comitê Investigativo russo.
Suspeita foi detida
Os investigadores anunciaram a detenção de Daria Trepova, de nacionalidade russa e apresentada como militante da Fundação Anticorrupção, pertencente ao opositor russo Alexei Navalny, e considerada ilegal no país desde 2021.
A Rússia acusou nesta segunda-feira (3) a Ucrânia de ter organizado, com a cumplicidade de partidários de Navalny, o atentado que matou Vladlen Tatarsky.
A polícia divulgou um vídeo no qual a mulher, de 26 anos, admite que transportou a estatueta com explosivo que matou o blogueiro. Aos ser questionada por um policial sobre quem entregou a bomba para ela, a jovem respondeu que explicaria "mais tarde".
Navalny, detido há mais de dois anos, cumpre uma pena de nove anos de prisão por fraude e também é acusado de extremismo.
Apoiador da ofensiva na Ucrânia
Com 40 anos e nascido no Donbass, leste da Ucrânia, Vladlen Tatarsky, cujo nome verdadeiro é Maxim Fomin, era uma figura conhecida na blogosfera militar na Rússia, com mais de meio milhão de seguidores em seu canal do Telegram.
Com o início da ofensiva militar russa na Ucrânia, em fevereiro de 2022, Tatarsky desenvolveu sua comunidade no Telegram através da publicação de vídeos de análise da situação no campo de batalha e nos quais também dava conselhos aos soldados mobilizados, segundo a agência de notícias Tass. Ele afirmava ser um apoiador da intervenção da Rússia na vizinha Ucrânia.
Em 2014, Tatarsky lutou por vários meses em milícias separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia, de acordo com a agência de notícias local Fontanka.
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia prestou homenagem na noite deste domingo a um "defensor da verdade".
"Os jornalistas russos sentem constantemente a ameaça de represálias do regime de Kiev", disse a porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova. "É graças aos correspondentes de guerra russos que o mundo vê as imagens reais das operações e descobre o que está acontecendo na Ucrânia."
Vladlen Tatarsky era "perigoso" para a Ucrânia e morreu "no cumprimento do seu dever", continuou a porta-voz, segundo a qual a ausência de reação dos governos ocidentais, "apesar da sua preocupação com o bem-estar dos jornalistas e da imprensa livre, diz muito".
O grupo Cyber Front Z, que se descreve nas redes sociais como um agrupamento de "soldados de informação da Rússia", disse que alugou o café na noite deste domingo para um evento. "Houve um ataque terrorista. Tomamos algumas medidas de segurança, mas infelizmente não foram suficientes", disse o grupo no Telegram.
"Terrorismo interno"
Um assessor da presidência ucraniana, Mykhaïlo Podoliak, reagiu rapidamente, afirmando que "o terrorismo interno [como] um instrumento de luta política interna na Rússia era apenas uma questão de tempo".
Em agosto de 2022, o FSB, o serviço de segurança russo, acusou seu contraparte ucraniano de ter matado Daria Douguina, filha de um ideólogo considerado próximo ao Kremlin, falecida na explosão de seu carro perto de Moscou.
No entanto, tais eventos na Rússia têm sido muito raros desde o início da ofensiva militar na Ucrânia há mais de um ano.