Os devastadores incêndios na Amazônia e o aumento das tensões comerciais no mundo concentraram as discussões no início do G7 de Biarritz, na França, uma cúpula sob clima tenso e de divisões. O G7 é a reunião dos sete países mais industrializados do mundo.
O presidente francês, Emmanuel Macron, anfitrião do encontro, apelou a "uma mobilização de todas as potências" para ajudar o Brasil e os demais países afetados a lutar contra os incêndios florestais na Amazônia e para investir no reflorestamento das regiões atingidas.
"Devemos responder ao apelo da floresta (...) da Amazônia, nosso bem comum (...), então vão agir", pediu em um discurso televisionado, antes de receber seus colegas.
As negociações podem ser delicadas, depois que Macron acusou o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PSL) de "mentir" sobre seus compromissos climáticos e de "inação" diante dos incêndios.
As críticas podem contrariar o presidente norte-americano Donald Trump, de quem Bolsonaro é um firme defensor no cenário internacional.
Berlim, por outro lado, manifestou relutância ao anúncio de que Paris bloquearia o projeto de acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, presente em Biarritz, reconheceu que seria "difícil imaginar" que a UE ratifique o acordo enquanto o Brasil "permitir a destruição" da região da Amazônia.
Governo brasileiro
Antes de viajar à França, Donald Trump telefonou ao presidente Jair Bolsonaro para oferecer ajuda. É a partir dessa aproximação entre os dois governos que o Palácio do Planalto, crítico ao assunto ser levado ao G7, espera a mínima interlocução no cenário mundial. Tentando evitar o isolamento político, Bolsonaro publicou nas redes sociais diálogos com outros chefes de nações sobre as queimadas.
"Tive ainda a oportunidade de conversar com os presidentes do Equador, do Chile, da Argentina e da Espanha, que se solidarizaram com o Brasil e com a campanha de notícias falsas que enfrentamos, e se colocaram à disposição para ajudar-nos no combate aos incêndios na Amazônia", escreveu no Twitter.
Bolsonaro confirmou ontem que conversou com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, sobre a possibilidade de chamar o embaixador do Brasil na França ao País. O Governo brasileiro estuda chamar o embaixador após os ataques que o presidente francês, Emmanuel Macron, fez ao presidente.
"Conversei com o Ernesto, estamos avaliando", disse Bolsonaro ao deixar o Alvorada pra um almoço com o vice-presidente, Hamilton Mourão, no Palácio do Jaburu. O encontro durou menos de uma hora. Questionado se procuraria Macron, Bolsonaro reagiu: "depois do que ele falou a meu respeito, você acha que vou falar com ele? Eu estou sendo muito educado, porque ele me chamou de mentiroso".
O presidente brasileiro não detalhou que tipo de ajuda os EUA podem dar ao Brasil, mas lembrou dos incêndios que ocorrem na Califórnia, causando uma catástrofe.
Manifestações
Ainda neste sábado (24), milhares de manifestantes protestaram em Bayonne, perto do resort na cidade francesa de Biarritz, local onde os chefes de Estado estão reunidos, para protestar contra o G7. Os ativistas antiglobalização e que se autodenominam defensores do meio ambiente se uniram a manifestantes com "coletes amarelos". Entre os principais assuntos do ato estavam as queimadas na Amazônia.
O protesto gerou confronto. A Polícia chegou a usar bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água para dispersão. Um helicóptero sobrevoou uma área com dezenas de manifestantes. Alguns jogavam pedras e gritavam contra linhas de proteção formadas por policiais, no centro histórico da cidade basca.
Centenas de novos incêndios continuaram sendo declarados na Amazônia brasileira, de acordo com dados oficiais ontem, em meio ao clamor mundial que levou o Governo brasileiro mobilizar as Forças Armadas para combatê-los.
As cifras oficiais mostram que 78.383 incêndios florestais foram registrados no Brasil neste ano, o pior registro para esse período desde 2013, o que os especialistas em meio ambiente atribuem ao avanço do desmatamento.
Guerra comercial e crise iraniana também em debate
Em meio às tensões envolvendo a floresta Amazônica, o grupo das potências econômicas também tem priorizado assuntos como a “guerra comercial”, o “Brexit” e a “crise nuclear iraniana” entre as pautas da reunião do fim de semana.
“As tensões comerciais são ruins para todos”: o presidente francês Emmanuel Macron lançou o alerta, enquanto Donald Trump fez ameaças, depois da China, a França e a Europa, com sanções comerciais.
O americano evocou a possibilidade de um imposto sobre os vinhos franceses pouco antes de desembarcar em Biarritz. “Taxas alfandegárias como nunca viram”, ressaltou. Represálias eram esperadas após a adoção pela França de um imposto sobre os gigantes digitais americanos.
O presidente francês espera também obter de seus colegas gestos de apaziguamento sobre a crise iraniana para salvar o acordo internacional de 2015, denunciado pelos Estados Unidos e do qual Teerã ameaça se liberar progressivamente.
Macron se encontrou na última sexta-feira (23) em Paris com o chefe da diplomacia iraniana, que disse que as coisas estavam indo “na direção certa”. O francês deveria discutir a questão no almoço que compartilhou com Donald Trump antes da cúpula.
A reunião do G7 é realizada na França entre os dias 24 e 26 de agosto com as presenças de Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido.