Filha do apresentador Tiago Leifert e da esposa dele, Daiana Garbin, a pequena Lua está com um tipo raro de câncer nos olhos, o retinoblastoma. O anúncio foi feito pelo casal neste sábado (29) por meio das redes sociais, acendendo grande alerta entre os pais, sobretudo de crianças – público-alvo principal da doença.
Médico oftalmologista, Jovanni Gomes explica que o retinoblastoma é um dos três tumores oculares principais, juntamente ao melanoma de coróide e o linfoma ocular (estes mais frequentes em adultos). No caso daquele presente na filha de Leifert – com forte incidência até os cinco anos de idade – é possível encontrar ainda outros três tipos de tumores: unilateral, bilateral e trilateral.
“O unilateral acontece quando afeta só um olho; já o bilateral quando afeta os dois olhos; o trilateral, por sua vez, tem origem nas células nervosas do cérebro, afetando a criança de modo mais interno”, contextualiza o estudioso. Os tumores unilaterais estão presentes na maioria dos casos, enquanto os bilaterais geralmente são de origem genética. Podem ser detectados por meio de um exame bastante comum hoje, o Teste do Olhinho.
Realizado nas maternidades por um pediatra ou clínico geral, é muito importante quando feito assim que a criança nasce. Até os três primeiros meses de vida, ele diagnostica não somente o retinoblastoma, mas também problemas como a retinopatia da prematuridade e outros tumores oculares. Segundo o médico, o retinoblastoma de origem hereditária é o menos comum, correspondendo de dez a vinte por cento dos casos.
“Na maioria das vezes, a doença só vai aparecer após o primeiro ano de idade, e a questão principal é exatamente essa: a incidência de setenta a oitenta por cento das vezes em crianças entre um e cinco anos”.
Sinais e a importância do exame oftalmológico
Sendo assim, o exame oftalmológico é essencial, sobretudo quando feito periodicamente na criança. Começa com o Teste do Olhinho, a partir do primeiro ano de vida; depois, a cada dois anos. A atenção deve ser redobrada principalmente na fase em que a criança está no período de alfabetização – felizmente, é a fase na qual a maioria dos pais costuma levar os filhos para o oftalmologista.
“Estabele-se a rotina de acordo com a necessidade, mas esse acompanhamento deve ser feito a cada dois anos com o oftalmologista. No caso especificamente do retinoblastoma, é uma doença que ocorre até os cinco anos e, na maioria dos casos, afeta a criança após o primeiro ano de idade. Logo, reitero: é essencial que o exame seja feito após esse primeiro ano. E, anualmente, refazê-lo, otimizando o diagnóstico precoce”, destaca o médico.
Mas, afinal, como saber se a criança está acometida por retinoblastoma? O sinal mais típico é o surgimento do Leucocoria, reflexo branco geralmente detectado quando batemos uma foto com flash. Normalmente, o reflexo é vermelho, mas não nesses casos.
Outro fator relevante é se a criança apresentar algum tipo de estrabismo – caracterizado como um desequilíbrio na função dos músculos oculares, fazendo com que os dois olhos não fixem o mesmo ponto ou objeto ao mesmo tempo. Caso o pequeno tenha um desvio ocular principalmente para a lateral, é hora de dar maior atenção. O sinal é importante para demonstrar que aquele olho da criança não está enxergando e fixando bem.
“Tem também a questão da visão em si, quando a criança que até então enxergava bem começa a apresentar alguns sinais. Isso tudo pode ser detectado pelos pais. De modo geral, não existe a dor ocular, esse é um sintoma muito inespecífico. Geralmente, só vai ocorrer nos estágios avançados”, localiza Jovanni Gomes.
Para ele, inclusive, o sintoma mais típico é mesmo o famoso Olho de Gato, como é conhecido popularmente o reflexo branco, detectado geralmente nas fotos. O estrabismo é um sintoma mais tardio, uma vez que o olho que já não está enxergando começa a se desviar.
Prevenção: Teste do Olhinho e exame ampliado
A médica oftalmo-pediatra Renata Girão pontua que uma das melhores formas para detectar qualquer doença na visão é a criação de uma rotina anual de consultas com um especialista da primeira infância. Ela alerta que o Teste do Olhinho, feito por pediatras, é apenas uma triagem e precisa ser aprofundada — caso o exame apresente algum princípio de problema.
"O Teste do Olhinho mostra pra gente o que provavelmente está tudo bem na retina. Ele mostra o reflexo vermelho. Já o oftalmo-pediatra faz o Teste do Olhinho complementado com o Teste do Olho amplificado. Esse exame é feito com dilatação da pupila da criança. Fazemos com a utilização de um colírio e conseguimos visualizar as estruturas da retina", explica a oftalmo-pediatra.
Segundo a profissional de saúde, a dilatação da pupila é importante para mostrar todos os problemas e pode ser feito com o bebê acordo ou dormindo. "Na dilatação da pupila conseguimos nervo, mácula e as estruturas da retina, exatamente onde tumor fica localizado. Com isso, conseguimos diagnosticar precocemente o retinoblastoma e encaminhar para uma melhor opção de tratamento".
Não à toa, a necessidade do diagnóstico precoce, fazendo com que a doença seja detectada quando ainda está restrita ao olho, à retina. O tratamento, por sua vez, é realizado de acordo com o nível do tumor e depende do exame oftalmológico, a fim de situar a complexidade do caso. Detalhe importante: o aumento do globo ocular é outro sintoma da retinoblastoma, embora tardio. É sinal de que o tumor já está crescendo dentro do olho.
Há outro exame importante relacionado à prevenção da doença. A retinografia faz uma espécie de fotografia do olho, sendo relativamente simples, consistindo no dilatamento da pupila e posterior registro panorâmico do olho. O mapeamento de retina também é indicado – verificando, por exemplo, se a córnea da criança está bem e se as estruturas oculares estão normais desde as pálpebras.
Em Fortaleza, anexo ao Hospital Albert Sabin, existe o Centro Pediátrico do Câncer, dirigido pela Associação Peter Pan. O ambulatório de retinoblastoma é gratuito para a população.
Tratamento
O tratamento consiste na radioterapia – na qual se utilizam radiações ionizantes (raio X, por exemplo) para destruir um tumor ou impedir que as células dele aumentem. Também está ligado à própria nucleação ou até mesmo à retirada do olho, preservando a vida do paciente.
“O maior fator de risco é ter casos na família, mas esses são mais raros. Depois disso, cerca de 70 a 80% dos casos são decorrentes de uma mutação aleatória. Sendo assim, infelizmente não tem como estabelecer fatores de risco. São coisas que ocorrem e que realmente fogem do nosso controle. Não há uma atitude que se possa ter concretamente para prevenir”, aponta o médico.
Ao mesmo tempo, a medicina vem evoluindo e trazendo novas alternativas de tratamento. A médica oftalmo-pediatra Renata Girão explica que existem opções de tratamento que conseguem ser feitos injetando a medicação no foco tumoral, que se chama quimioterapia intra-arterial.
"Nesse tratamento injetasse a medicação, como se fosse um cateterismo, no qual a substância e levada no vaso até o tumor onde ela é injetada. A criança acaba não passando por todos os efeitos colaterais que uma quimioterapia poderia trazer. Claro, isso variar em cada caso", explica a profissional de saúde.
Consequências e letalidade
A perda da visão é uma das consequências do retinoblastoma. Nos casos mais avançados, o tumor pode oferecer um alto grau de mortalidade à criança. Por isso mesmo, Jovanni Gomes enfatiza a necessidade da prevenção por meio do exame oftalmológico – prevenindo não apenas o retinoblastoma, mas várias outras intercorrências ligadas ao olho.
“Muitas vezes elas são diagnosticadas tardiamente e isso, obviamente, leva a um tratamento da doença num estágio já avançado. Assim, até os três, quatro anos de idade, recomendamos fazer de dois a três exames oftalmológicos. Depois, continuar na fase dos cinco, seis, sete, oito anos de idade, chegando na pré-adolescência — quando costumam aparecer casos de miopia. Lembrando que tudo deve ser feito por meio de um médico oftalmologista”, salienta.