Internado em estado grave há pouco mais de 15 dias após sofrer uma parada cardíaca, o cantor Maurílio, da dupla sertaneja com Luiza, teve uma nova piora devido a uma infecção grave no pulmão e morreu nesta quarta-feira (29). O artista, de 28 anos, teve um choque séptico diagnosticado.
O choque séptico é um estágio mais avançado e mais grave da chamada sepse, uma reação inflamatória mais conhecida como infecção generalizada, desencadeada por uma infecção grave.
Agravamento da infecção
O paciente com sepse tem um quadro infeccioso e começa a apresentar disfunções de alguns órgãos, com aumento dos leucócitos, elevação da frequência cardíaca, alteração da respiração e aumento de outros fatores inflamatórios.
Resumindo, "o paciente começa a dar sinais de que está evoluindo com a infecção para o que comumente a gente chama de infecção generalizada", explica o cirurgião vascular e presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Vascular - Regional Ceará, Vicente Freire.
Portanto, reitera o médico, o choque séptico é "uma complicação da sepse. É o agravamento de uma infecção que já se tornou generalizada".
Nesse momento, o paciente passa a apresentar uma disfunção circulatória, resultando em uma hipotensão grave. E o risco de morte se torna ainda maior.
"O paciente começa a perder a capacidade de manter a sua própria pressão, então fica com a pressão muito baixa e isso pode acabar evoluindo para uma complicação muito maior, que é, por exemplo, uma parada cardíaca, e pode até morrer", diz.
O risco se torna maior porque, nesse estágio, outros sistemas podem falhar simultaneamente, como o sistema respiratório, levando o paciente a ser entubado; o sistema renal, tornando necessária a diálise, entre outros. Logo, é necessária a adoção de uma abordagem diagnóstica e terapêutica imediata.
Sinais/sintomas do choque séptico
O paciente com sepse e, consequentemente, com choque séptico apresenta comumente sinais como:
- Frequência cardíaca aumentada;
- Leucócitos aumentados;
- Foco infeccioso;
- Baixa pressão arterial.
Quando há choque séptico, é comum que algumas medidas sejam tomadas, sem resposta. Pode haver a reposição de volume, com a administração de soro, mas a pressão do paciente permanece baixa.
Por isso, é necessário o uso de drogas vasoativas, medicações que conseguem manter a pressão arterial sob controle. A mais utilizada é a noradrenalina.
Com a diminuição da pressão arterial, é comum que pessoas em choque séptico também tenham maior dificuldade em manter a circulação do sangue. A baixa oxigenação do cérebro pode fazer com que surjam alterações do estado mental.
Esses pacientes devem ser tratados e monitorados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).
Causas
O choque séptico, conforme o médico-cirurgião, é causado pelo agravamento da infecção, que não está sendo combatida pelos antibióticos até então utilizados ou porque é uma infecção mais grave, extensa e demanda intervenção cirúrgica.
"O choque séptico vem do agravamento de uma infecção ou porque a bactéria é resistente ou porque existe uma causa da infecção que a gente precisa debelar".
Quem tem mais risco de ter um choque séptico
Portadores de doenças crônicas e idosos estão entre os grupos de pessoas com maior chance de serem afetadas por uma infecção grave e desenvolver choque séptico. Sobretudo, as que ficam internadas em UTIs, tais como o cantor Maurilio.
"O que mais piora essa situação [de risco] é quando o paciente tem outros órgãos já em choque séptico. Por exemplo, o paciente que está precisando de ventilação mecânica, um dialítico que já faz hemodiálise. Nesses pacientes o choque [séptico] é muito mais agressivo, é muito maior a chance de as medidas não serem eficazes e o paciente, infelizmente, vir a falecer".
Uma publicação do Hospital Albert Einstein aponta que a mortalidade por choque séptico pode variar de 20% a 60%, conforme a gravidade do caso.
Tratamento
Para tratar o choque séptico, indica Vicente Freire, é importante primeiro encontrar o foco da infecção para debelá-lo.
Outra medida necessária é o uso de antibióticos mais potentes e de amplo espectro, ou seja, capazes de atingir vários tipos de bactérias.
Por fim, o tratamento do choque demanda a reposição de volume, com soro, e o uso de medicamentos vasoativos para controlar a pressão arterial.
"A gente começa a dar essa medicação de maneira contínua, instala uma bomba e coloca para correr continuamente. Pode aumentar [a dosagem] várias vezes, até certo ponto, para conseguir manter esse paciente com uma pressão adequada".