Trajetória da bala que atingiu empresária pode reforçar hipótese de feminicídio, diz médico

Médico que atendeu Jamile de Oliveira Correia afirma que ela chegou consciente ao hospital, mas não falou nada. O caso, a princípio tratado como suicídio, pode ter sido, na verdade, um homicídio

A suposição de que a empresária Jamile de Oliveira Correia teria sido vítima de homicídio foi reforçada por um dos médicos que a atenderam no Instituto Dr. José Frota (IJF). Segundo o cirurgião Jamil Zarur, a suspeita teve início quando observou que a posição do ferimento pelo disparo teria vindo de cima para baixo. "Achei estranha a trajetória do projétil. Mas ela estava muito calma e geralmente quem tenta suicídio se comporta dessa forma, fica mais calada. Ela estava consciente, mas não falou nada", relatou. 

Jamile foi morta em 29 de agosto, após ser atingida por um tiro dentro do próprio apartamento no Bairro Meireles, em Fortaleza. A princípio, a morte era tratada como suicídio, mas a Polícia Civil já trata a possibilidade de um feminicídio. O namorado de Jamile, o advogado Aldemir Pessoa Júnior, é o principal suspeito. 

Jamil Zarur esteve na tarde desta terça-feira (17) no 2º Distrito Policial, na Aldeota. Além dele, um outro médico também presente no atendimento compareceu à delegacia, mas não conversou com a imprensa. 

Quem também esteve na unidade policial foi o filho de Jamile, prestando o terceiro depoimento. O jovem, de 14 anos, ajudou a socorrer a mãe depois do ferimento, como visto em câmeras de segurança. Ele esteve na delegacia acompanhado por dois tios paternos e um representante do Conselho Tutelar. Ele também não se manifestou à imprensa. 

Possibilidade de feminicídio

O caso considerado como um suicídio começou a mudar de rumo nas apurações do 2º DP (Aldeota), da Polícia Civil. O depoimento do advogado não convenceu os investigadores. Aldemir contou que ele e o adolescente tentaram evitar o disparo, mas a trajetória da bala no corpo de Jamile não condiz com o relato do suspeito, de acordo com o laudo cadavérico, segundo uma fonte (identidade preservada). Na última sexta-feira (13), ele foi apontado como suspeito de ser o autor do feminicídio. A arma, que teria sido usada na morte, foi apreendida.

A delegada Socorro Portela e o delegado Felipe Porto, responsáveis pela investigação, não quiseram dar entrevista nem fornecer detalhes do caso. A Polícia Civil informou, em nota, que o caso está em andamento e não vai se pronunciar para não comprometer o trabalho policial.

Vídeos de segurança mostram o advogado agredindo a vítima no estacionamento do condomínio horas antes da morte. Nas imagens, o suspeito faz movimentos bruscos contra a companheira, antes de estacionar o veículo, na noite de 29 de agosto deste ano. Em seguida, a mulher corre e entra em um elevador sozinha. O homem aparece logo depois, mas não chega a tempo de pegar o mesmo elevador.

Outro vídeo, divulgado também com exclusividade pelo Sistema Verdes Mares, mostrava que Jamile Correia foi baleada no peito, em casa, minutos depois. Aldemir Júnior, com ajuda de um filho adolescente da mulher, colocou Jamile no elevador e a levou para o Instituto Doutor José Frota (IJF), onde informou que ela tinha tentado suicídio. A mulher ficou sozinha no hospital até a noite do dia 30 de agosto último e morreu na manhã do dia seguinte.