Apesar de assombrarem a população cearense com ameaças e ações criminosas, as facções têm uma lógica diferente do terrorismo, segundo Nabupolasar Alves Feitosa, superintendente da Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp) - órgão vinculado à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS).
O superintendente, que é graduado em Ciências Sociais e tem pós-doutorado em História pela Universidade Federal do Ceará (UFC), possui formações complementares em Gerenciamento de Operações de Inteligência e Análise do Terrorismo e Produção do Conhecimento.
Questionado se ataques criminosos praticados por facções contra o Estado - como ocorreu no Ceará em dois períodos de 2019 e ações isoladas nos anos seguintes - podem ser comparados a atos terroristas, Nabupolasar Feitosa responde que "não, até poderia parecer, porque causa terror para a população".
Mas existe uma diferença muito importante entre a lógica do terrorismo e a lógica desse tipo de criminalidade. O terrorismo clássico tem uma lógica política, quer passar um recado. Não era para enriquecer, para andar com cordão de ouro, que é a lógica do crime organizado. Toda atividade criminosa tem como fim o enriquecimento, seja na droga, no roubo de cargas, de banco."
Sobre as séries de ataques registradas no Ceará em janeiro e setembro de 2019, o superintendente da Supesp afirma que "explodir uma barragem, uma antena de energia, é um terrorismo como tática, e não como lógica".
"E 2019 é um dos anos mais tranquilos do Estado do Ceará, em termos de homicídios, na série histórica que acompanhamos. O que aconteceu naquele momento, com a chegada do secretário Mauro Albuquerque, houve um desmantelamento da estrutura criminosa, que estava organizada com um cara dentro do presídio, de onde ele dava ordens, mandava soltar, mandava matar. Quando corta o poder de comunicação, desorienta toda a estrutura", explica.
A Supesp contribui com dados e tecnologias para os trabalhos das Forças de Segurança Pública no combate às facções criminosas. Segundo Nabupolasar, "as organizações criminosas têm padrões de comportamento. A ciência busca padrão. A Supesp procura esses padrões, traduz em números e propõe ações. A gente propõe áreas de patrulhamento, horário. Mas não é só o papel da Supesp dizer o que fazer, porque o homem da rua tem que saber o que fazer. E as Inteligências vão dizer como atuar".
Tecnologias e projetos da Supesp
A Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública participa do desenvolvimento de uma tecnologia de reconhecimento facial, a ser implantada no Sistema de Videomonitoramento espalhado pelo Ceará. Entretanto, ainda não há um prazo para instalação da ferramenta.
"O reconhecimento facial é importante estar muito bem feito, para acontecer. Nós precisamos nos preocupar com pessoas foragidas, com mandados de prisão em aberto. É um serviço muito importante, gostaríamos de ter essa ferramenta em breve. Visitei outros estados para ver a tecnologia. E precisamos fazer alinhamentos com o banco de dados, armazenar imagens. Precisamos fazer testes, criar protocolos, porque a gente não pode errar. Se a gente prender 1.000 pessoas, sendo uma inocente, isso não é bom", revela o superintendente do Órgão.
Nabupolasar Alves Feitosa divulgou outras duas ações fomentadas pela Supesp, neste mês de fevereiro: o I Encontro de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública do Ceará e a ampliação da divulgação de dados públicos da Segurança Pública.
O Encontro, marcado para os dias 20 e 21 de junho deste ano, irá reunir resumos de artigos científicos sobre temáticas ligadas às áreas de pesquisa, estratégia e políticas públicas em segurança pública. As inscrições podem ser feitas pelo site da Supesp, de 26 de fevereiro a 27 de março de 2024, e pelo e-mail supespencontro@gmail.com, até 10 de abril deste ano.
A Supesp irá também ampliar a divulgação de dados abertos da Segurança Pública no Ceará. O site da SSPDS, que já dispõe de estatísticas de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs), Crimes Violentos contra o Patrimônio (CVPs), Feminicídios, Lei Maria da Penha, Crimes Sexuais, Furtos, e Apreensões de Armas de Fogo e de Entorpecentes desde 2013, irá aglutinar dados de 2009 a 2012.
Ainda serão acrescentados dados do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará (CBMCE), como ocorrências de Incêndios e de Busca e Salvamento no Estado.
A transparência da Segurança Pública do Ceará foi destaque na pesquisa nacional “Segurança Pública em Dados: guia prático para jornalistas”, realizada pelo Instituto Sou da Paz, em colaboração com as instituições Fogo Cruzado, Fiquem Sabendo e Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Apenas oito estados foram considerados "transparentes": Ceará, Paraíba, Pernambuco, Pará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e Mato Grosso do Sul.