Enquanto Fortaleza vê expandir a oferta de voos partindo do Aeroporto Internacional Pinto Martins, a Polícia Federal avança na identificação das "mulas do tráfico". Com isso, o número de flagrantes por transporte de drogas no terminal de passageiros mais que dobrou neste ano. Até agora, agentes prenderam 31 pessoas prestes a embarcar com ilícitos, ao passo que em igual período de 2018 apenas 12 foram enquadradas. O acumulado de apreensões dos cinco primeiros meses deste ano representa um aumento de 158%.
Segundo levantamento parcial da PF, não foram somente as prisões que tiveram alta de um ano para o outro: gênero feminino e estrangeiros tiveram maior envolvimento na prática criminosa. Em igual intervalo de tempo, a participação de mulheres carregando entorpecentes cresceu 233%, passando de três para 10 detidas neste ano. Já o total de estrangeiros também teve um acréscimo, sobretudo daqueles vindos de países da fronteira com o Brasil, como Bolívia, Venezuela, Peru e Paraguai.
Reforçando o elevado número de mulheres presas na Capital, a Polícia Federal identificou, entre os dias 9 e 11 de maio, quatro passageiras que viajariam à Europa. Junto às duas últimas detenções no Aeroporto da Capital, estão uma peruana de 39 anos, que levaria 9,3 kg de cocaína distribuídos em 53 pacotes de alimentos industrializados para Amsterdã, na Holanda, e uma curitibana, 23, presa com 4,5 kg de cocaína escondidos dentro de camisas sociais.
O titular da Delegacia de Repressão aos Entorpecentes (DRE), da PF, Samuel Elanio de Oliveira Junior, pondera que o incremento de mulheres detidas "pode ser pelo fato de elas passarem mais despercebidas e de ser menos detectáveis". Segundo aponta, elas se aproveitam para "transportar a droga ou são esposas de alguma pessoa já presa por esse motivo, e podem estar atuando em prol do marido".
Já em relação ao elevado número de estrangeiros capturados em 2019, o delegado explica que a posição geográfica do Ceará favorece o repasse de entorpecentes pela proximidade com o continente europeu, que recebe a maior parte da mercadoria. Por servir como rota para o tráfico internacional, o Estado recebe continuamente viajantes de países vizinhos, cujo acesso à droga é mais facilitado.
"São países que produzem as próprias substâncias entorpecentes ou que estão próximos dos fornecedores. Talvez eles tenham o incentivo maior de levar essa droga pelo valor altíssimo que ela é vendida na Europa, levando em consideração o preço baixo que é comprada no país de origem. E o Brasil, como um todo, pela quantidade de voos, pode ter sido uma forma de incentivar a lucratividade", justifica.
Volume
Com os passageiros detidos, a Polícia Federal chegou a dois tipos de narcóticos. Destaque para o volume de maconha, que aumentou 857% neste ano a partir da apreensão de 67 kg no aeroporto. Em 2018, foram 7 Kg retidos entre janeiro e maio. Em contrapartida, a retenção de cocaína caiu de 89 para 38 kg, uma baixa de 57% em igual período.
Apesar da redução, uma nova forma de comercialização da droga chegou ao conhecimento dos agentes federais. Cerca de 2,9 kg de cocaína preta foram apreendidos no dia 9 de abril. O material de coloração escura estava na posse de um homem de 31 anos que chegou a Fortaleza vindo de Manaus, capital do Amazonas. Resinas e substâncias misturadas à pasta-base disfarçam o odor e a aparência do entorpecente, que de acordo com Samuel Elanio de Oliveira Junior, dificultam, mas não impossibilitam o seu reconhecimento no Raio X.
"A cocaína preta que está sendo traficada também surgiu neste ano pra gente. Ela chama a atenção pela própria cor e vem misturada ao café, que foi durante bom tempo utilizado para inibir o cheiro da cocaína. Eles aproveitaram essa possibilidade e depois fazem a é diluição em um processo químico para que ela volte à cor normal", sintetiza.
Outra alternativa usada pela "mulas do tráfico" nas últimas apreensões tabuladas é esconder a droga em cinta amarrada ao próprio corpo, misturada em bebidas isotônicas e, como é de costume, dentro da mala. Ao mesmo tempo, a alta movimentação de passageiros no aeroporto da Capital também demanda uma fiscalização mais minuciosa, como ressalta o titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes.
"Temos muitos voos internacionais e o número vai aumentar ainda. Consequentemente, se não tiver fiscalização diuturnamente, a tendência é que haja um aumento. Mas, naturalmente, se quem quer usar o Ceará como rota perceber dificuldade há uma tendência a diminuir, não é porque o tráfico diminuiu, talvez a rota por Fortaleza, sim, passou a não ser vantajosa".
A Delegacia de Repressão aos Entorpecentes iniciou em janeiro deste ano processo para aquisição de um ou dois cães farejadores que deverão atuar junto com os agentes federais na identificação de ilícitos. Contudo, a unidade ainda não foi informada se há disponibilidade em Brasília ou se os animais precisam ser comprados no exterior.