Primos executados por PMs no Ceará: Polícia Civil investiga se mortes tiveram motivação política

Os jovens foram mortos a tiros na cidade de Morada Nova. As armas utilizadas no crime pertencem à PMCE, de acordo com as investigações da Polícia

Mais um crime praticado, supostamente por motivação política, foi registrado no Ceará. Desta vez, policiais militares são os suspeitos pelas mortes. Os primos Carlos Cavalcante, 21, e Edvaldo Lima, de 23 anos foram alvejados a tiros quando voltavam de um evento político no Interior do Ceará, horas após o fim do primeiro turno das eleições.

As vítimas comemoravam a vitória do Partido dos Trabalhadores (PT) para o Governo Estadual e pararam em um posto de combustíveis, na cidade de Morada Nova. Segundo as investigações, os dois foram surpreendidos pelos soldados Ari Johny da Conceição Abreu e João Gilberto Cruz de Lima e o aluno-soldado da Polícia Militar do Ceará Thaian Vasconcelos da Silva.

Os militares foram presos nessa segunda-feira (10) por determinação da Justiça. O trio está recolhido no Presídio Militar, em Fortaleza. A defesa dos PMs não foi localizada pela reportagem.

A reportagem apurou que uma das linhas de investigação da Polícia Civil do Ceará é a motivação política. Vítimas e suspeitos teriam discutido em um posto de combustíveis, na madrugada de 3 de outubro de 2022. O motivo da discussão é o que está sendo investigado. 

Foi por meio de uma perícia nas cápsulas encontradas no local do crime é que as autoridades descobriram quais armas foram utilizadas no crime. O armamento pertence à PMCE e, a partir dessa informação, foi possível descobrir quem portava o armamento, que foi apreendido na segunda-feira (10).

O instante dos disparos foi flagrado por uma câmera de segurança do posto de combustíveis. As imagens estão em posse dos investigadores

Carlos e Edvaldo não tinham passagens pela Polícia e eram conhecidos na região como dois trabalhadores. A família das vítimas diz não ter ficado surpresa ao saber que são policiais militares os suspeitos pelo caso, porque Carlos já teria sido perseguido e ameaçado por um policial.

PERSEGUIÇÃO

Carlos havia se mudado para Fortaleza há poucos meses. Iria casar no próximo mês. Ele só foi até a Morada Nova para votar, no dia 2 de outubro de 2022. Um parente de uma das vítimas, com identidade preservada, recorda de um episódio quando Carlos foi seguido por um militar.

"Não lembro direito quando isso aconteceu, mas faz tempo já. Ele foi seguido. Gostava de brincar com a moto, empinar e era uma boa pessoa. Trabalhador. Acho que nesse dia da moto, ele respondeu o policial, que não gostou da resposta. Por isso eu não me surpreendi quando falaram que tinham policiais envolvidos nas mortes. Eu só não sei o motivo para terem feito isso e não sei se o policial da perseguição é algum desses de agora"
Parente de uma das vítimas

O familiar conta ainda que no celular do pai de Carlos tinham muitas chamadas registradas instantes antes da execução: "Carlos era um menino bom. Eu só soube de manhã que ele e o Edvaldo tinham morrido".

Edvaldo trabalhava em uma fábrica na região de Morada Nova e aproveitava o último dia de férias, quando foi morto.

INVESTIGAÇÃO

A reportagem apurou ainda que os militares investigados não falaram em depoimento sobre o que teria motivado o duplo homicídio. A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) diz que de acordo com as investigações conduzidas pela Delegacia Municipal de Morada Nova da Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE), após saírem do serviço na cidade, os policiais foram até um posto de combustíveis. 

"No mesmo local, estavam as duas vítimas. Quando os dois rapazes foram embora, ainda no caminho, ambos foram mortos com disparos de arma de fogo efetuados pelos suspeitos. Durante o cumprimento dos mandados de prisão preventiva, foram apreendidas quatro armas de fogo, entre elas, três pertencentes à Polícia Militar do Ceará", informou a SSPDS.

Celulares também foram apreendidos e anexados ao inquérito policial

A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos da Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) também acompanha o caso. Por nota, a CGD disse que determinou imediata instauração de processo disciplinar para devida apuração na seara administrativa, estando este, atualmente, em trâmite.