Polícia investiga golpe do 'falso investimento' que fez dezenas de vítimas no Ceará; entenda

Aplicativo parou de funcionar, e o dinheiro dos investidores sumiu. Suspeito afirma que irá ressarcir os clientes em até 60 dias

Uma promessa de realizar um investimento financeiro e receber retornos semanais convenceu muitas pessoas a aplicarem o seu dinheiro em uma empresa digital, com sede em Fortaleza. Porém, nos últimos dias, o serviço parou de funcionar, e o responsável pela empresa "sumiu". As vítimas procuraram a Polícia Civil do Ceará (PCCE), que investiga o caso.

Em nota emitida nesta quinta-feira (9), a PCCE informou apenas que "analisa denúncias de crimes praticados por uma empresa de investimentos financeiros. Boletins de ocorrência foram registrados com a finalidade de formalizar as denúncias. Com isso, as oitivas e diligências sobre esse caso estão em andamento".

Após as denúncias serem divulgadas no programa CETV1, da TV Verdes Mares, nesta quinta-feira (9), o proprietário da empresa, identificado pelas vítimas como Kennedy Alencar Lessa, reativou a página I9 Clube no Instagram e publicou um vídeo em que alega que a empresa "passou por uma crise, causada por difamações nas redes sociais, 'fake news', discursos de ódio".

"Mediante a isso, a gente fez um comunicado para vocês, encerrando as atividades momentaneamente. Nesse comunicado, a gente informou um e-mail, para que vocês mandem seus dados, para que sejam ressarcidos os prejuízos. Estamos fazendo um planejamento, com o financeiro da empresa, para que, daqui a 45 a 60 dias, a gente comece o ressarcimento parcial dos prejuízos de vocês."

A reportagem do Diário do Nordeste tentou contato com Kennedy Alencar Lessa, mas o telefone fornecido por ele aos clientes estava desligado.

Uma vítima, que preferiu não se identificar e realizou Boletim de Ocorrência (BO) na Delegacia Eletrônica, contou à Polícia que investiu mais de R$ 63 mil na empresa I9 Clube, de abril para cá. No último dia 3 de maio (uma sexta-feira), ela solicitou um saque pelo aplicativo, mas foi informada que o serviço já tinha excedido o limite de saques, o que seria resolvido na segunda-feira (6).

Já a autônoma Karolynne Torres, de 23 anos, investiu cerca de R$ 20 mil na I9, de janeiro para cá. "Toda sexta-feira era dia de saque. Mas, na última sexta-feira, o dinheiro não caiu. Eles (funcionários da empresa) tentaram tranquilizar as pessoas, dizendo que estavam passando por um problema na processadora que faz os pagamentos, e que até segunda-feira ia cair", conta. 

Deu segunda-feira, o saque de ninguém caiu. Eles disseram que até quarta, ia cair. Mas segunda-feira à noite, ele (proprietário) colocou uma nota dizendo que ia encerrar as atividades da empresa, mas não ia deixar ninguém no prejuízo, e deixou um e-mail para que as pessoas pudessem enviar o seu nome, quanto investiu e o usuário da plataforma."
Karolynne Torres
Autônoma

Investimento ou pirâmide financeira?

O médico Carlos Farias, 55, que investiu R$ 3 mil na plataforma, explica como foi atraído a investir na I9 Clube: "Eu estava circulando no Instagram, quando vi um rapaz que eu seguia indicar, e entrei (no negócio) com ele. Ele me explicou que era uma empresa de gestão de tráfego, que vendia determinado produto e entregava uma porcentagem de 2% ao dia do valor. Então, eu resolvi entrar, porque achei muito bom naquele momento. E convidei outras pessoas, que também entraram".

"Comecei em fevereiro. No início, tava ótimo. A empresa tava pagando direitinho. Toda sexta-feira, era dia de rendimento, a galera sacava. De uns meses para cá, começou a dar problema nas contas. Uma galera pediu estorno, depois de uma denúncia no YouTube de que a I9 era pirâmide. Muitas pessoas criticaram, mas ele (youtuber) estava certo."

A empresa prometia aos clientes que atuava com tráfego pago, com o anúncio de "encapsulados, infoprodutos e igames". As vítimas entrevistadas pela reportagem afirmam que o golpe fez centenas de vítimas, com prejuízos de até R$ 500 mil.