Número de agentes penitenciários infectados por coronavírus dobra em uma semana

Pelo menos 130 servidores testaram positivo para a Covid-19. Mesmo assim, de acordo com a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), "não existe uma alteração significativa no quadro epidemiológico"

O número de infectados pelo novo coronavírus avança dentro e fora dos presídios. Do dia 28 de abril ao dia 5 de maio, segundo levantamento do boletim do IntegraSUS, os casos no Ceará tiveram crescimento de 65%. Neste mesmo período, as confirmações da Covid 19 entre agentes penitenciários que atuam no Sistema Prisional cearense apresentaram aumento de, pelo menos, 94%.

No último dia 28, a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) do Ceará informou que 67 agentes testaram positivo para a doença. Já nessa terça-feira (5), conforme o Sindicato dos Agentes Penitenciários do Ceará (Sindasp-CE), o número de policiais penais infectados havia chegado a 130. Para o Sindasp, a rápida disseminação da Covid-19 entre os agentes preocupa e interfere diretamente em uma baixa significativa no efetivo de vigilância dos presídios.

A reportagem do Sistema Verdes Mares solicitou à SAP o número atualizado de agentes e presos que testaram positivo para o vírus. Por nota, a Pasta se limitou a informar "que não existe alteração significativa no quadro epidemiológico de Covid-19 no sistema penitenciário do Ceará sobre aumento de casos e que permanece com um óbito da doença - o interno da CPPL 2 falecido no dia 27 de abril".

Retorno às atividades

Ainda segundo a Secretaria, estão registradas a cura e o retorno ao trabalho de 60 agentes penitenciários. Enquanto a SAP propaga um cenário de possível controle da doença dentro das unidades, os agentes que conhecem a rotina desses equipamentos reclamam sobre descaso e abandono por parte da Secretaria.

Um dos 130 agentes que contraiu o novo coronavírus e já teve alta se prepara para retornar ao serviço. Mesmo ainda convivendo com sequelas da doença, o servidor foi autorizado à retomar suas atividades. "Ainda estou sem resistência aeróbica. Me canso com algum esforço, mas a medida que o tempo passando vou melhorando", disse o agente, que prefere não ter sua identidade revelada. O policial penal chegou a passar mais de uma semana hospitalizado e, durante tratamento, teve metade da sua capacidade respiratória comprometida devido à infecção.

Se o novo coronavírus vem circulando com mais frequência dentre a categoria, é possível que o número de presos infectados também tenda disparar em pouco tempo por conta da superlotação nas unidades prisionais no Estado e aos ambientes insalubres das celas.

Conforme a presidente do Sindasp-CE, Joélia Silveira, há informação que no Instituto Penal Feminino (IPF), localizado na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), 20 presas foram diagnosticadas com Covid-19. "Um funcionário que trabalhava na cozinha testou positivo e a partir dele se sabe que 20 presas, que também trabalham ou frequentam esse setor, também se infectaram", disse Joélia. Até o fim do ano passado, data da última divulgação do levantamento estatístico sobre o quantitativo de população carcerária nas unidades, o IPF estava com excedente de 606 detentas.

"Sabemos que o controle é muito difícil porque há a questão da superpopulação carcerária. Além dos casos confirmados que fomos informados pelo próprio secretário, tem os casos suspeitos. Nós temos buscado junto à SAP ações para frear a disseminação do vírus". Ainda de acordo com a presidente do Sindicato, a distribuição de equipamentos de proteção individual por parte da Secretaria foi um ponto que melhorou após uma série de reclamações da categoria: "Formamos uma comissão entre Sindicato e SAP para acompanhar a situação. Pelo menos por agora não estamos com problema de material de higiene. A Secretaria vem fornecendo os devidos equipamentos, mas nós precisamos de uma segurança maior para proteger essas pessoas", pontuou.

Plano

A SAP informou ter adotado plano de ação contra o coronavírus. Conforme a Pasta, as medidas incluem manutenção dos apenados em isolamento por 14 dias para observação de quadro clínico, com acompanhamento da equipe de saúde da unidade, capacitação de agentes para a remoção dos casos suspeitos ou confirmados de Covid-19, distribuição de equipamentos de proteção individual e higiene e suspensão das visitas durante a pandemia.