´Mulas´ bolivianas são assassinadas no Ceará

Os corpos das irmãs Liliane e Lílian Hurtado foram deixados em uma estrada, em Pacatuba, com muitos tiros

O mistério em torno de um duplo homicídio ocorrido há quatro dias na Região Metropolitana de Fortaleza pode indicar o envolvimento de narcotraficantes no crime. Os corpos de duas mulheres executadas sumariamente a tiros numa estrada de terra no Município de Pacatuba foram identificados ontem. Eram de duas irmãs bolivianas que haviam sido presas, como ´mulas´, em Fortaleza, no dia 8 de fevereiro de 2008, sob a acusação de integrar uma organização internacional do tráfico de cocaína entre a América do Sul e a Europa.

As mulheres assassinadas eram as irmãs Maria Liliane e Lilian Fabiano Delgadillo Hurtado, de 23 e 21 anos, respectivamente. Elas permaneciam no Ceará depois de terem sido condenadas pela Justiça Federal por tráfico internacional de drogas. A prisão delas decorreu de uma longa e sigilosa investigação levada a cabo pela Polícia Federal com a ajuda do escritório local da Interpol.

O crime

Na madrugada do último sábado, os corpos das duas irmãs foram deixados na estrada com mais de 20 ferimentos a bala pelo corpo, a maioria no rosto. Segundo a Polícia, um carro preto teria sido usado pelos criminosos para realizar a ´desova´.

Desde então, os cadáveres permaneciam no necrotério do Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), em Messejana, na condição de indigentes, já que, com as vítimas, não foram encontrados documentos. Ontem, finalmente, elas foram identificadas.

O subtenente PM Wellington Alves, da Companhia Provisória de Itaitinga, recebeu a informação de que as duas irmãs estavam morando na Rua José Soares Cavalcante, no bairro de São Miguel, em Itaitinga. Lá, os policiais militares, sob o comando do tenente-coronel PM Geovani Pinheiro, comandante da 3ª Companhia do 6º BPM (Maracanaú), entraram na residência e encontraram pistas que poderão ajudar a elucidar o duplo assassinato.

Na casa, foram localizados um caderno com anotações, supostamente, referentes à contabilidade da venda de drogas, comprovantes de depósitos bancários, um chip de aparelho celular e um cartão de memória. Os PMs descobriram ainda que as irmãs estavam morando com outras duas mulheres, naturais do Paraná, que haviam sido presas pela PF na mesma operação realizada em 2008.

As paranaenses Sthephany Cristine Silveira Mendes, 23; e Ana Paula Ferreira, 29, também cumpriam pena no regime semiaberto e, assim como as duas irmãs bolivianas, trabalhavam em unidades prisionais situadas em Itaitinga como forma de redução do tempo de prisão.

Ao procurar a direção das prisões onde Sthephany e Ana Paula cumprem pena, os militares descobriram que as duas não comparecem às unidades desde o último sábado. "Obtivemos a informação de que Ana Paula passou na casa, ontem (anteontem), pegou suas coisas e sumiu", revelou o oficial.

Uma das irmãs bolivianas trabalhava como zeladora da Casa de Privação Provisória de Liberdade (CPPL) III, e a outra no Manicômio Judiciário Otávio Lobo, em Itaitinga. Conforme Pinheiro, todas as informações obtidas durante o dia de ontem, assim como o material apreendido, serão repassadas para a Divisão de Homicídios.

Tráfico internacional

As quatro mulheres foram presas em 2008, juntamente com mais dez pessoas no Aeroporto Internacional Pinto Martins, em Fortaleza. Com a quadrilha, a PF apreendeu 42 quilos de cocaína pura. A droga seria levada para à Suíça. O esquema envolveria também o tráfico de mulheres para prostituição na Europa, além do envio de cocaína para países europeus.

FERNANDO RIBEIRO/EMERSON RODRIGUES
EDITOR DE POLÍCIA/REPÓRTER