Morte de jovem em parque completa cinco anos, sem julgamento

Família de Tiago Fernandes Barreto reclama da morosidade dos processos cível e criminal, na Justiça estadual. Laudo pericial apontou afrouxamento de parafusos e falhas em manutenção de brinquedo como causas da morte

Já se vão cinco anos desde que Tiago Fernandes Barreto, de 26 anos, caiu de um brinquedo no parque de diversão Golden Park, no bairro Edson Queiroz, bateu a cabeça e morreu. Não bastasse a tragédia, a família também sofre com a lentidão dos processos criminal e cível, que tramitam na Justiça estadual, sem julgamento até agora. "O que mais me dói também é que, até hoje, nada foi resolvido", afirma o pai da vítima, Tarcísio Barreto.

Tiago tinha ido ao parque com duas amigas (que eram irmãs), na noite de 13 de agosto de 2014. Por volta de 21h15, o trio decidiu entrar no brinquedo Chaos, mas uma falha mecânica no equipamento provocou a queda dos três. O jovem teve traumatismo cranioencefálico e morreu no local.

"É uma dor muito grande, não sei explicar. Até hoje, ele deixa muita saudade para nós. A coisa que a gente mais ama é nossos filhos e queria todos vivos. Infelizmente, o Tiago se foi muito cedo. Meu filho era muito alegre. A vida dele era uma diversão. É assim que eu quero guardar para sempre, até quando Deus me permitir", relata o pai.

Dez dias após a morte, o Golden Park fechou as portas em Fortaleza. A análise da Perícia Forense do Ceará (Pefoce) sobre o brinquedo concluiu que ocorreu "o afrouxamento, cisalhamento e soltura dos parafusos de fixação do rotor principal do carrossel, resultando na queda do mesmo".

Ainda segundo o laudo, o problema mecânico se deu "aliado a falhas por parte da administração do Golden Park, provenientes do não cumprimento dos critérios estabelecidos nas normas e procedimentos de instalação, operação e manutenção, de cunho obrigatório, determinados e requeridos por normas pertinentes a esse tipo de equipamento de diversão".

Processos

Na seara criminal, o Ministério Público do Ceará (MPCE) denunciou o proprietário do parque de diversão, José de Carvalho Peixoto, pelo homicídio que vitimou Tiago Barreto e por dois crimes de lesão corporal cometidos contra as duas irmãs. A peça acusatória foi apresentada no dia 22 de fevereiro de 2016 e recebida pela 11ª Vara Criminal, seis dias depois. Mais de três anos se passaram e a ação penal ainda está na fase de instrução. A defesa do réu foi procurada, mas não atendeu às ligações.

Já na área cível, a família do jovem morto entrou com ação de indenização por danos morais e materiais contra o Golden Park e os dois supostos sócios-proprietários, Antônio de Carvalho Peixoto e José de Carvalho Peixoto, em um valor total de R$ 2,29 milhões, em 29 de setembro de 2014. O Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) informou que o processo possui complexidade, pois foram emitidas cartas precatórias (comunicação entre unidades Judiciárias), mas está seguindo o trâmite normal. A previsão é de que o julgamento ocorra até outubro deste ano.

"O processo vem se dando de forma muito lenta e, a princípio, a gente percebe que tem uma questão de poder, força, especialmente aquisitiva. Porque o processo mudou de Vara várias vezes, sem nenhuma explicação. Desde março, a gente está esperando só uma decisão do juiz para a primeira instância, porque queremos finalizar esse processo o quanto antes", reclama o irmão gêmeo de Tiago, Diego Fernandes Barreto. A defesa dos três requeridos não quis se pronunciar sobre o caso e alegou, no processo, que Antônio e José "não possuem qualquer relação com os fatos". Alegou ainda que eles "não participaram de qualquer ação comissiva ou omissiva que resultasse no acidente que vitimou o filho dos autores (do pedido de indenização) e não fazem parte do quadro societário da primeira promovida (Golden Park)".

O documento pede à Justiça que os dois homens não sejam condenados. Os memoriais finais afirmam ainda que o Golden Park "adotou e adota todas as medidas de segurança e cautela necessárias a resguardar a vida de seus clientes".