Médico cearense ganha retratação na Justiça após colega acusá-lo de roubo de carimbos e falsificação

A mensagem que circulou no WhatsApp informava que o profissional, à época estudante, ainda praticava abuso de poder para favorecer conhecidos

O médico cearense Valderlon Freitas da Silva, de 29 anos, ganhou na Justiça uma nota de retratação após um colega de profissão o acusar de roubar carimbos médicos para atuar ilegalmente e falsificar atestados para faltar o trabalho. As mensagens caluniadoras circularam em 2022, entre grupos de profissionais da saúde e estudantes, mas o caso só foi resolvido no último dia 29 de abril, em audiência de conciliação no Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania do Fórum Clóvis Beviláqua. 

Ficou definido pela juíza de direito Marileda Frota Angelim Timbó que o médico acusador deveria publicar uma nota em suas redes sociais e também fixar o texto em local público na Maternidade Escola Assis Chateaubriand (MEAC) da Universidade Federal do Ceará (UFC), pois à época dos fatos, o alvo ainda era estudante e interno da unidade de saúde.

Outras acusações ainda estavam presentes no texto calunioso, como uso de abuso de poder para favorecer conhecidos e instrução de pacientes com informações falsas. 

Valderlon ainda move uma ação por danos morais na área Cível, que ainda tramita. Em entrevista ao Diário do Nordeste, ele relata que desde que os boatos sobre sua conduta começaram ele teve "perdas inestimáveis", além de ter precisado de psicoterapia para se estabilizar. No ano do ocorrido, o então estudante estava, inclusive, afastado da universidade e do seu internato, pois havia passado por um procedimento cirúrgico e ainda se recuperava.

O texto ganhou repercussão e afetou minha vida em vários sentidos. Comecei a sofrer perseguição e sofrer atos que não eram condizentes com minha conduta. Nada que eu falava era considerado. Fiz psicoterapia, tive ansiedade e minha mãe teve um quadro depressivo por conta do medo. Foi uma situação realmente muita constrangedora e com danos irreparáveis
Valderlon Freitas da Silva
Médico

O médico que espalhou os boatos é Rafael Castelo Luz, que segundo a vítima era residente de Saúde da Família em um posto de saúde à época dos fatos. Ele teria admitido, inclusive, durante audiência que não tinha como provar o que falou, e que teria recebido as informações de outras duas pessoas, também médicas, mas que trabalhavam no mesmo local que Valderlan. 

Como resultado da conciliação, nessa terça-feira (14), Rafael publicou uma nota de retratação pública no Instagram. Ele se disse arependido de ter veiculado o texto difamatório e "assegura" não ter indícios sobre condutas antiéticas por parte de Valderlon, 'tendo a mensagem elaborada por mim no dia 31/07/2022 se baseado EXCLUSIVAMENTE em conjecturas e boatos de outros colegas da faculdade publicados em grupos do aplicativo WhatsApp". 

"Que esta nota pública sirva como exemplo para que outras pessoas não comentam o mesmo erro que cometi, uma vez que o Sr. VALDERLON FREITAS DA SILVA é profissional digno de respeito nos meios acadêmico e profissional", diz o texto. 

Veja a nota de retratação:

Por nota, o advogado do profissional de saúde, Arimá Rocha, pontua que o mérito criminal foi encerrado em uma conciliação para que fosse encerrado o "litígio que causou tanto transtorno para ambas as partes". Sobre a ação cível, ele pontua que ela se encontra na fase de memoriais finais, para que comece o julgamento. 

'Fui chamado de bandido' 

Em entrevista ao Diário do Nordeste ele relata que desde que os boatos sobre sua conduta começaram ele sofreu diversos ataques: "Ouvia que eu era bandido e que era isso acontecia quando colocavam pobres na universidade".  

Derlon disse ainda que precisou de psicoterapia para se estabilizar. No ano do ocorrido, o então estudante estava, inclusive, afastado da universidade e do seu internato, pois havia passado por um procedimento cirúrgico e ainda se recuperava.

O médico ainda alega ter sido vítima de perseguição pelo colega, o qual não conhecia. Ele conta que Rafael ia na coordenação de sua faculdade e tentava pedir para professores documentos acadêmicos dele, a fim de tentar chamar pessoas para depor contra o estudante. 

"Foi uma situação extremamente absurda. Ele me perseguia, ligava para professores, ia à coordenação pedindo documentos. Queria chamar pessoas para depor contra mim. Não quis continuar criminalmente, quis a retratação para fazer com que minha voz seja ouvida e que pessoas que passam por situações semelhantes vejam que têm voz. Eu poderia ter sido expulso da faculdade, mas nada me aconteceu, pois eu tinha a convicção de quem eu era.  Estudei muito. Tentei quatro anos o vestibular, passei em 4º lugar", desabafa.