"Moto preta furtada, com adesivo, se aproximando da Avenida Alberto Craveiro, 'QSL'?" A fala, com uso de código próprio das transmissões de radiocomunicação, é trecho de uma conversa real presenciada na Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops) da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Naquele momento, acontecia mais uma tentativa da Polícia em chegar rapidamente até uma dupla de criminosos que havia furtado um veículo na capital cearense.
Conforme o superintendente de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp), Aloísio Lira, o tempo médio até que um veículo com queixa de roubo ou furto seja recuperado no Ceará é de cinco a 10 minutos. O prazo é contabilizado a partir do momento que a vítima registra o crime via Ciops ou em alguma delegacia. Quanto mais rápido o registro for feito, mais chances de o bem ser retomado.
Desde maio de 2017, quando o Sistema Policial Indicativo de Abordagem (Spia) começou a ser utilizado no Ceará, a velocidade com a qual os veículos alvos de furtos ou roubos são recuperados mudou. O ritmo de buscas é frenético. Passam, diariamente, nas quase 3.300 câmeras integradas ao Spia, aproximadamente, quatro milhões de veículos em todo o Estado.
Apesar de ainda alto, de acordo com estatísticas da SSPDS, o quantitativo de buscas vem caindo porque os criminosos perceberam que a mobilidade deles ao cometer delitos tem sido comprometida devido à eficácia do Sistema. A Secretaria afirma que em pouco mais de dois anos de Spia, foram recuperados 25.143 veículos. O índice de carros e motos que são roubados ou furtados e em seguida localizados e devolvidos ao proprietário é de, aproximadamente, 90%.
Aloísio Lira explica que o Spia está presente em 43 dos 184 municípios do Estado. As 3.300 câmeras são de diversos órgãos, como Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC). Para o superintendente da Supesp, o sucesso do Sistema Policial está diretamente ligado à integração feita com os órgãos para haver o compartilhamento de imagens de cada um dos equipamentos. "Fizemos um estudo e vimos que geralmente o veículo roubado era utilizado para cometer outros delitos, então, quando a gente começou a fazer os cercos virtuais, passamos a recuperar os veículos antes que eles fossem utilizados para outros delitos", explicou Aluísio.
Diariamente, quase quatro milhões de veículos são acompanhados por câmeras que compõem o Spia, espalhadas em 43 municípios
Ele acrescentou que houve mudança tática de policiamento com o uso da tecnologia. "O cidadão liga, o operador joga no sistema e a partir daí o sistema faz a busca, quando localiza, o sistema volta a informação para o operador e essa pessoa vê todo o policiamento que está no entorno e o guia para fazer o cerco de busca e captura. O operador vê se está engarrafado e a partir disso pode passar para viatura ou motopatrulhamento", contou.
Indústria 4.0
No Ceará, a política de combate à mobilidade do crime vem acontecendo por meio do conceito da indústria 4.0. Lira explica que o conceito constrói todo o processo de como uma tarefa deve ser executada para alcançar os resultados desejados. Na indústria 4.0 é dito o que é melhor o homem fazer e o que é melhor ser feito pelas máquinas. Acompanhar o tráfego de quatro milhões de veículos ao dia, por exemplo, é tarefa da máquina. A partir das informações colocadas no Sistema, o operador recebe direcionamentos e em cima disto busca o veículo.
A tecnologia das câmeras que integram o Spia é capaz de identificar além das placas dos veículos. Lira conta que praticamente todos os crimes podem ser evitados com o uso do Sistema, porque "se quebra a mobilidade do crime e o campo de ação, assim o criminoso passa a atuar perto de onde ele se esconde".
Segundo a Secretaria, o investimento no Spia no valor de R$ 20 milhões é baixo quando comparado ao montante de bons resultados observados. Agora, o Governo avalia a necessidade de implementar mais câmeras.
"O grande ganho do projeto é trazer imagens de câmeras que já existiam para ajudar na Segurança Pública. Talvez um passo importante seja a integração com câmeras privadas. Estudamos a viabilidade de transformar todas as câmeras em uma potencial fonte para alimentar o Spia", adiantou o superintendente.