A diversão de Milene Pereira de Sousa virou um momento de dor na última segunda-feira (22). A mulher, de 23 anos, foi agredida somente por querer ser quem é, ao tentar entrar no banheiro de um bar no município de Tauá, no Centro-Sul do Ceará. Lá, ela foi atacada por usar roupas consideradas masculinas.
A vítima e sua companheira, Maria Aparecida de Oliveira, estavam em uma seresta que ocorria no empreendimento. Ao tentar ir ao banheiro, um homem a impediu de entrar: "Ele ficou querendo caçar briga comigo, porque eu entrei no banheiro, dizendo que eu era homem", relata.
Interpelada, ela recorreu ao proprietário do estabelecimento, que autorizou a entrada dela no local. "O dono do bar mandou ele ficar quieto, porque eu era mulher e poderia entrar dentro do banheiro", afirma, dizendo que o responsável pelo local se pôs na frente do agressor para que ela entrasse no recinto.
As ofensas se repetiram por pelo menos outras duas vezes em que ela se dirigiu ao toalete, o que a motivou a respondê-lo. "Eu disse a ele que eu era mulher, e cheguei até a pegar nos meus seios e dizer: 'eu sou mulher'", lembra.
O homem, em resposta, afirmou, segundo ela, que por ela estar "vestida com roupa de homem", teria o "direito" de usar o banheiro masculino. Mais uma vez, ela recorreu ao proprietário do estabelecimento, que conversou com o indivíduo. A partir daí, ela afirma não mais ter visto o agressor.
Agressão
Em dado momento, enquanto sentava à mesa, Milene foi importunada pelo homem, que a puxou pela camisa e passou a agredi-la fisicamente. "Ele me jogou por cima do carro e fui parar lá do outro lado", conta, dizendo que a família do homem o cercou enquanto ela tentava se defender dos golpes. A ação foi gravada em parte e divulgada em redes sociais.
Nesse momento, outro homem se apresentou como irmão dele à vítima, que alegou ter sido agredida. Em seguida, de acordo com Milene, o agressor a golpeou na perna.
"Eu não tive mais forças para nada", relata, acrescentando que os familiares deram de ombros para a agressão. No entanto, Maria Aparecida interveio e ajudou a retirar o agressor do local.
Joelho quebrado
Machucada, a vítima foi a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde tomou medicamentos e foi submetida a radiografia. No entanto, Milene foi transferida a um hospital, no qual teve de fazer outros exames, que atestaram fratura do joelho.
"No dia 20 de dezembro, eu tenho meu retorno. Se for o caso de os ossos do joelho não terem voltado pro lugar, vou ter de fazer uma cirurgia", destaca. Ainda conforme a vítima, ela aguarda o início de sessões de fisioterapia, a serem marcadas pela Secretaria da Mulher, Juventude, Idoso, Drogas e Família, da gestão municipal.
No momento, Milene está sem trabalhar — como trancista, ela tinha alguns clientes agendados para o período de fim de ano, mas não consegue ficar em pé sem usar muletas.
"Eu quero pedir Justiça, pois não se justifica eu ficar assim. Eu tenho minha profissão, vivo disso, e, mesmo morando na casa do meus pais, eu vivo com o que eu tenho", lamenta.
A Polícia Civil do Ceará (PCCE), em nota, informou ter instaurado inquérito, na Delegacia Regional de Tauá, para apurar uma denúncia de lesão corporal e LGBTfobia. Diligências e oitivas estão em andamento, conforme a Corporação.