Acontece nesta sexta-feira (15) a fase de debates orais entre acusação e defesa, na terceira sessão do júri da 'Chacina do Curió'. Pela manhã, promotores do Ministério Público do Ceará (MPCE) apontaram contradições nos depoimentos dos policiais militares réus, quanto às armas que eles usavam no dia das mortes na Grande Messejana.
A acusação rejeita a tese da defesa de que os denunciados só não prestaram socorro às vítimas vistas no chão, "porque já haviam ambulâncias e outras viaturas da PM no local quando eles passaram".
Os promotores exibiram em um telão documentos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) indicando que só duas ocorrências foram atendidas por eles na região, na madrugada da chacina, não tendo registro de idas às demais em outros pontos do bairro.
Ainda nos debates, a acusação questionou o porquê de anteriormente os réus terem dito não ter "se encontrado em abordagem em conjunto" na data do crime, e agora, durante os interrogatórios, falarem que em determinado momento atuaram em conjunto abordando uma das vítimas sobreviventes.
MPCE e Defensoria Pública do Ceará, que atua como assistência de acusação, concluíram a apresentação pedindo a condenação dos oito militares acusados.
PMS RÉUS NESTE JÚRI:
- Antônio Carlos Marçal
- Clenio Silva da Costa
- José Wagner Silva de Souza
- José Oliveira do Nascimento
- Antônio Flauber de Melo Brazil
- Francisco Helder de Souza Filho
- Maria Barbara Moreira
- Igor Bethoven Sousa de Oliveira
O QUE DIZ A DEFESA
Na tarde desta quinta-feira (15) é a vez da defesa dos réus falarem no plenário. Por volta das 15h, advogados retomaram o debate com a versão de que existe uma falsa acusação.
"Repito mãezinhas, suplico, busquem o direito das senhoras e dos senhores e não deixem a fumaça, o engano fazer com que seus filhos falecidos sejam esquecidos por essa farsa da acusação", disse um dos advogados.
Eles defendem a tese que a própria fala de um dos sobreviventes ouvido durante interrogatório é "o que irá inocentar os PMs", comparando depoimentos anteriores deste sobrevivente.
Os advogados também se valeram de vídeos para afastar a acusação de omissão de socorro. Dentre eles um que supostamente mostra a viatura da Cavalaria, onde estavam os PMs Maria Bárbara Moreira e Francisco Helder de Souza Filho escoltando uma ambulância.
"Policiais devem ser absolvidos, porque não se omitiram e não torturaram psicologicamente o mentiroso. Esses policiais são inocentes"
FAMILIARES DE VÍTIMAS AGUARDAM JUSTIÇA
Existe expectativa que o júri termine ainda neste fim de semana. As mães e outros familiares das vítimas da Chacina do Curió acompanham o terceiro julgamento do caso no Fórum Clóvis Beviláqua.
"Esperamos justiça. Não podemos esperar outra coisa. Mesmo com esse resultado [anterior] frustrante, a gente não se abalou, porque o nosso abalo já vem desde aquela madrugada. Então, não tem como se abalar mais. A gente não coloca esse resultado passado como uma derrota. Buscamos justiça, o que é muito diferente", destaca Sílvia, mãe de dois sobreviventes.
PRIMEIRO E SEGUNDO JULGAMENTO
No primeiro julgamento, quatro policiais militares foram condenados a mais de mil anos de prisão, se somadas as penas, por participação na chacina. Ideraldo Amâncio, Wellington Veras Chaves e Marcus Vinícius Sousa da Costa saíram do 1º Salão do Júri do Fórum Clóvis Beviláqua presos e foram levados ao Presídio Militar. Já Antônio José de Abreu Vidal Filho foi detido nos Estados Unidos, em agosto último.
No segundo momento, após quase 100 horas de julgamento, oito PMs foram absolvidos da acusação de omissão de socorro no massacre: Gerson Vitoriano Carvalho , Thiago Veríssimo Andrade Batista de Carvalho, Josiel Silveira Gomes, Thiago Aurélio de Souza Augusto, Ronaldo da Silva Lima, José Haroldo Uchoa Gomes, Gaudioso Menezes de Mattos Brito Goes e Francinildo José da Silva Nascimento.