Investigado na Operação Saratoga e considerado uma liderança do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Ceará, Leandro de Sousa Teixeira teria criado a sua própria organização criminosa para dominar o tráfico de drogas na região sudoeste do Município de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), conforme apurou o Diário do Nordeste.
Leandro de Sousa, que já se encontrava preso na Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor José Jucá Neto (CPPL III), em Itaitinga, foi um dos alvos da Operação "Saratoga", deflagrada na última quinta-feira (14) pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) e pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
O grupo criminoso criado no sudoeste de Caucaia era uma espécie de 'filial' do PCC. Leandro tinha domínio sobre a quadrilha, mas continuava devendo fidelidade ao PCC, o que era concretizado a partir do pagamento da 'cebola' (denominação dos criminosos para a mensalidade paga pelos membros da facção que estão fora da prisão) e da negociação e da distribuição de drogas e armas feita em conjunto.
A principal atividade da organização criminosa era o tráfico de drogas, mas também praticava roubos, homicídios, ameaças, receptação e comércio de armas de fogo, com o objetivo principal de manter o domínio da venda de entorpecentes na região.
Leandro de Sousa contava com o apoio do primo, Francisco Márcio Teixeira Perdigão, outro líder do PCC no Ceará, nas atividades criminosas. Márcio Perdigão é ainda mais conhecido da Polícia cearense, com passagens por roubo a banco, sequestro e tráfico de drogas, e também se encontra recolhido na CPPL III.
A investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do Ministério Público, iniciada em 2015, se utilizou de interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça dos dois primos, entre outros recursos, para desarticular o grupo criminoso. Através de ligações, os dois homens apontados como líderes do PCC negociavam ações criminosas nas ruas e nos presídios. Conforme apurou a reportagem, em uma conversa entre os dois primos, em dezembro de 2015, interceptada com autorização judicial, Leandro reclama a Márcio Perdigão de um homem que se identificava como membro do PCC, dentro do presídio, mas era aliado a outra facção. Os primos concordaram que ele podia ser assassinado.
Delegado
O delegado de Polícia Civil Francisco Enéas Barreira Maia, titular da Delegacia Metropolitana de Caucaia, virou alvo da Operação "Saratoga" a partir da prisão de dois suspeitos de integrarem a organização criminosa liderada por Leandro Perdigão.
A quadrilha já vinha sendo monitorada pelos investigadores e, no dia 14 de abril de 2016, uma equipe da Polícia Militar foi acionada e prendeu em flagrante os dois homens, no momento em que um deles (um mototaxista), a mando de Márcio Perdigão, ia pegar uma droga na residência do outro, que tinha acertado a entrega com Leandro. A detenção ocorreu no bairro Araturi, em Caucaia.
Um soldado da Polícia Militar e uma advogada, que têm um relacionamento e também se tornaram suspeitos de integrarem a organização criminosa, aparecem nas interceptações telefônicas para tentar livrar os dois presos, que receberam voz de prisão do delegado Enéas Barreira, na Delegacia de Caucaia.
Perdigão liga para o casal e sugere que seja oferecido R$ 20 mil para o delegado para liberar o mototaxista e para facilitar a situação do outro suspeito, que responderia apenas pelo crime de tráfico de drogas e se livraria da associação para o tráfico. Enéas Barreira teria aceitado e, sete horas depois de colocar o mototaxista como 'infrator', no Sistema de Informações Policiais (SIP), teria alterado a qualificação para 'testemunha'.
A investigação ainda aponta o delegado como responsável por apagar todos os arquivos de um celular apreendido com um dos suspeitos, retornando ao estado de fábrica, como constatou o laudo pericial da Perícia Forense do Ceará (Pefoce).
O delegado Enéas Barreira foi preso, na deflagração da Operação "Saratoga", na manhã da última quinta-feira (14).
O soldado e a advogada que têm um relacionamento não foram encontrados e estão foragidos. Já Leandro de Sousa e Márcio Teixeira Perdigão, que já estavam detidos na CPPL III, tiveram o mandado de prisão cumprido também, além de entrarem no Regime Diferenciado de Disciplina (RDD), com várias restrições.