Empresário nega manter relações comerciais com médicos

Ao depor após cumprimento de mandado de prisão temporária contra ele, Deivid Guedes Aguiar declarou desconhecer repasses feitos a ortopedistas, bem como não existir remuneração para que profissionais comprem produtos

Único preso após a deflagração da Operação 'Fratura Exposta', na última quinta-feira (14), o empresário Deivid Guedes Aguiar, de 37 anos, negou que mantenha relações comerciais com médicos investigados no inquérito policial ou que saiba por que alguns profissionais receberam repasses de sua empresa. As declarações constam no depoimento dado por ele na Superintendência da Polícia Federal (PF), no mesmo dia da prisão, ao qual a reportagem do Sistema Verdes Mares teve acesso.

Administrador de empresas, Deivid diz que trabalha na Ortogênese Comércio e Importação de Materiais Médicos e Cirúrgicos Ltda. Há oito anos, mas há apenas dois se tornou sócio-minoritário, detendo cerca de 10% da empresa. Além disso, atualmente, ocupa nela o cargo de diretor comercial. Segundo ele, a Ortogênese não possui parceria na venda de produtos ortopédicos e nem contrata ortopedistas para apresentar ou representar seus produtos.

O empresário descreveu que as vendas costumam ser feitas por representantes que visitam médicos, hospitais e planos de saúde. Contudo, existe ainda a venda através de licitações públicas com base na tabela SUS, como ocorre nos quatro hospitais públicos citados na investigação: Instituto Dr. José Frota (IJF), Hospital Geral de Fortaleza (HGF), Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) e Hospital Regional do Cariri (HRC).

Além disso, a empresa fornece materiais a planos de saúde por meio de cotação, leilão de compra ou tabela. Outros produtos ficam à disposição para emergências, em regime de consignação. Deivid alegou que não existe pagamento ou qualquer outra forma de remuneração para que médicos ou funcionários dos planos de saúde exijam ou comprem produtos da Ortogênese.

Transferências

Embora tenha declarado conhecer a maioria dos ortopedistas mencionados na investigação, o administrador ressalta que não mantém qualquer tipo de parceria comercial com eles. Contou ainda desconhecer repasses feitos aos médicos, visto que seu sócio Sílvio Cavalcante seria o responsável pelo setor financeiro do empreendimento.

Por isso, disse não recordar, "até pelo tempo", o motivo das transferências de R$ 3,6 mil e R$ 6 mil a dois médicos, em 2013 e 2014. Já em relação a uma transferência de R$ 40 mil ao médico Eduardo Guedes Fernandes, informou que "gostaria de deixar pra explicar o motivo depois que conversar com seu advogado".

A defesa de Deivid preferiu não se manifestar, afirmando que o material está em sigilo e que as investigações ainda estão em curso. Contudo, destaca que o empresário prestou os devidos esclarecimentos e já foi liberado pela PF.

O advogado Leandro Vasques, que representa outros médicos ortopedistas, disse que "como a investigação está em fase embrionária e tramita em sigilo, não nos pronunciaremos". Porém, adianta que "existem equívocos de interpretação com relação à conduta de alguns investigados, se individualmente analisados".