O soldado Wanderson de Holanda Nogueira, de 19 anos, morreu devido a uma doença cardíaca, de acordo com laudo da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce). O jovem foi a óbito em treinamento do Exército Brasileiro (EB) em Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), na tarde do último dia 21 de outubro.
Segundo o documento, feito pelo Núcleo de Patologia Forense (Nupaf), a vítima morreu por cardiomiopatia hipertrófica, um tipo comum de doença cardíaca. A enfermidade é caracterizada pelo engrossamento do músculo do coração, o que inviabiliza o bombeamento de sangue pelo órgão.
Com o resultado, o falecimento do jovem por violência ou fatores externos foi descartado. As informações foram divulgadas nesta quarta-feira (10).
Corpo não apresentava lesões
O médico perito legista Anderson da Silva Costa, supervisor do Nupaf, destacou que não foram detectadas lesões externas no corpo durante o exame de necropsia.
Após a não detecção de lesões, a Coordenadoria de Medicina Legal (Comel) solicitou exame histopatológico à Coordenadoria de Análises Laboratoriais Forense (Calf). Esta identificou a causa da morte em razão da doença, que o soldado já tinha.
Inicialmente, conforme o supervisor do Nupaf da Pefoce, havia suspeita de que a vítima sofrera um empurrão e batido a cabeça, o que teria causado um traumatismo cranioencefálico. O médico, porém, ressaltou que o fato não foi confirmado durante as perícias realizadas.
“A gente fez a averiguação e o exame patológico, composto por três fases: a macroscopia, realizada nos órgãos que pudessem estar envolvidos/lesionados; em seguida, amostras desses órgãos passaram por um processador de tecidos e laminação. Por fim, foram analisados microscopicamente, etapa em que foram localizadas as alterações características da cardiomiopatia hipertrófica”, explicou o médico.
Conclusão do exame
Na análise detalhada dos tecidos do coração de Wanderson, os músculos cardíacos estavam anormalmente espessos devido à doença. Assim, o coração ficou com as paredes aumentadas, não conseguindo bombear o sangue adequadamente. "Muito provavelmente teve uma arritmia por conta da cardiomiopatia hipertrófica e veio a falecer", avaliou o especialista.
Os laudos periciais foram encaminhados para a Delegacia Metropolitana de Maranguape da Polícia Civil do Ceará (PCCE), que instaurou um inquérito policial.
No momento, segundo a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), a unidade realiza oitivas e diligências para concluir o procedimento, registrado como morte suspeita inicialmente.
Suspeitas sobre a morte
Na última quarta-feira (3), familiares e amigos do jovem protestaram por respostas sobre o caso em sessão da Câmara Municipal de Capistrano, município cearense onde Wanderson nasceu. O grupo não acreditava na possibilidade de "morte natural", informada a eles.
"Ele era um menino saudável, o Exército disse que foi morte por causa natural. Mas eu acredito que nenhuma morte é natural — existe algo por trás disso. A mãe dele entregou ele vivo e saudável", destacou Antonielda Holanda, tia da vítima, que também era praticante de muay thai.
Dias antes da morte, o soldado pediu à mãe, a comerciante Liduína Holanda, que ela viesse a Fortaleza para visitá-lo. O motivo, segundo o jovem, seria o esforço que a semana seguinte exigiria dele.
"Ele falou que seria muito difícil, que a semana mais difícil do Exército seria essa. Como ele tava se sentindo com medo do que o pessoal tava dizendo, que lá é muito pesado, ele tava com receio. Mas como ele não queria dar o braço a torcer, ele foi", relatou a mãe.