Corrupção policial no Ceará: Estado lidera casos no Nordeste, diz Rede de Observatórios da Segurança

O levantamento foi divulgado nesta quinta-feira (6) e traz estatísticas de sete Estados do Brasil

De extorsão mediante sequestro à prática de integrar organização criminosa. O Ceará está no topo do ranking do Nordeste como o estado da região com mais casos noticiados de corrupção policial, monitorados pela Rede de Observatórios da Segurança.

O levantamento foi divulgado nesta quinta-feira (6) e traz estatísticas de sete Estados do Brasil. Conforme a Rede, em 12 meses foram contabilizadas oito ocorrências de corrupção no Ceará, envolvendo agentes da Segurança Pública.

No Nordeste, a Rede também analisou Bahia, Maranhão, Pernambuco e Piauí. Não constam dados dos estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas e Sergipe. Em nível nacional, há ainda mais casos do tipo nas localidades do Rio de Janeiro e São Paulo.

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A pesquisa cita a ampla participação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Ceará (MPCE) para tornar público os crimes, como nas fases da 'Operação Gênesis' e no caso que elucidou um esquema de corrupção protagonizado por policiais na Delegacia de Combate ao Tráfico de Drogas (DCTD).

O promotor de Justiça e coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), Adriano Saraiva, aponta que o trabalho do Grupo visa "não apenas combater a corrupção dos servidores públicos, mas principalmente diminuir a atuação das facções criminosas que muitas vezes eram acobertadas pela parceria com esses policiais.".

"O papel do Ministério Público na ação contra corrupção é de extrema importância. A Operação Gênesis tem oito fases, com 31 policiais denunciados, vários respondendo a processos e alguns sentenciados e condenados. A atuação é justamente para frear a corrupção no seio da Segurança Pública. Percebemos nessas operações a atuação de vários policiais em um verdadeiro consórcio no crime organizado. Fazendo o crime organizado atuar livremente. Essas denúncias fizeram com que a própria Controladoria Geral de Disciplina, através de processos administrativos, demitisse vários desses policiais"
Adriano Saraiva
Promotor de Justiça e coordenador do Gaeco

REFLEXO SOCIAL

O sociólogo Luiz Fábio Paiva, estudioso da Rede de Observatórios e membro do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará (UFC), destaca que as situações de policiais envolvidos em esquemas ilegais não é uma exclusividade do Ceará e que o ranking é feito a partir do que se consegue evidenciar.

"Temos que fazer essa análise que o Ceará vem conseguindo evidenciar esses casos. Essas situações merecem atenção e é preciso analisar o que vem gerando esse tipo de conduta"
Luiz Fábio Paiva
Sociólogo

Para o especialista, além de o problema de agentes participarem de esquema criminoso, há a questão que com a participação dos servidores, fica mais difícil elucidar os casos.

"Os policiais são a ponto de um processo de responsabilização. Se há agentes participando, isso gera a facilitação para que o esquema se reproduza. Quando tem uma grande quantidade de pessoas fazendo a mesma coisa é sinal que existe um problema ali na instituição", diz o sociólogo.

REPERCUSSÃO

Um dos casos mencionado na pesquisa e que foi noticiado em 'primeira mão' pelo Diário do Nordeste é o que ficou conhecido como 'Corrupção na Denarc'. Duas delegadas, 23 inspetores da Polícia Civil do Ceará e um ex-inspetor (atualmente delegado no Piauí)  foram denunciados pelo MPCE, em um esquema criminoso, com repercussão nacional.

A denúncia contra os agentes, assinada por seis promotores do Gaeco, foi apresentada no dia 18 de agosto de 2021 e aceita um mês depois pela Vara de Delitos e Organizações Criminosas.

Dentre os outros casos acompanhados pela Rede estão o de três policiais militares presos após invadirem uma residência, sequestrar um homem e pedirem uma quantia em dinheiro para libertação da vítima. O registro foi em Itapipoca, Interior do Ceará.

Outra ocorrência é a dois soldados da PM detidos por extorsão mediante sequestro e porte ilegal de arma de fogo em Fortaleza. Eles são suspeitos de roubar dois carros de um lava-jato e ameaçaram o proprietário do estabelecimento, um homem de 28 anos, no bairro Dionísio Torres.