Um crime que impressionou autoridades e populares e até hoje repercute na sociedade cearense. 14 mortos, 15 sobreviventes e 15 pessoas acusadas de participar da matança. O episódio ocorrido no dia 27 de janeiro de 2018 que ficou conhecido como ‘Chacina das Cajazeiras’ está prestes a completar dois anos. No entanto, quase 24 meses depois, a ação penal permanece em trâmite na Justiça cearense, sem que os denunciados tenham sido pronunciados e sem nenhuma data prevista para o julgamento acontecer.
Para a mãe de uma das jovens sobreviventes, que pediu para não ser identificada por temer represálias, a demora no ‘fazer Justiça’ demonstra descaso com todos que foram vítimas da matança. Segundo a mulher, a filha não vem recebendo apoio do Estado. No dia da chacina, a adolescente foi atingida por três disparos de arma de fogo. Ficou sob outro corpo, quieta, como se já não estivesse mais com vida.
“Ela se fingiu de morta para não levar o tiro de misericórdia. Levou três tiros. Um no fêmur, um na canela e o outro nas costas. Essa bala das costas continua lá até hoje. Foi uma decisão dos médicos. Disseram que não tinha problema deixar lá. Há um mês, a bala começou a sair do lugar e foi rasgando de um lado para o outro. Nós estamos jogados às traças. Não temos a ajuda de ninguém. Eu estou cansada de ficar sentada esperando por coisas que não vêm. Quero processar o Estado”, disse a mãe da jovem.
A mãe pede que a Chacina não caia no esquecimento e fala sobre as consequências enfrentadas até hoje: “Minha filha não dorme de luz apagada, só de luz acesa porque diz que tem gente atirando dentro de casa. Ela estava fazendo o EJA (Educação de Jovens e Adultos), no 7º ano. Não consegue mais voltar a estudar. Sai pouco e quando sai a gente não se aquieta até ela voltar. É sempre uma aflição”.
Fase de instrução
O Tribunal de Justiça afirma que atualmente o processo encontra-se em fase de instrução e seguindo trâmite regular na 2ª Vara do Júri de Fortaleza. A Justiça acolheu a denúncia ofertada pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) em dezembro de 2018. Segundo o MP, o crime foi praticado a mando dos chefes da facção Guardiões do Estado (GDE), que pretendiam matar integrantes do grupo rival Comando Vermelho (CV).
Em setembro do ano passado, houve desmembramento do processo requerido pela defesa de Deijair de Souza Silva, um dos acusados. A ação principal permaneceu com 14 denunciados. Segundo o TJCE, “em razão da complexidade e da grande quantidade de réus, não é possível afirmar quando será proferida sentença de pronúncia”. Os prazos processuais estão suspensos até o próximo dia 6 de janeiro, quando o Poder Judiciário retorna após recesso forense.
Desde 2018, família e sobrevivente são atendidas pela Defensoria Pública do Ceará. A mãe reclama que a Defensoria não repassou para a família o número do processo e não fornece mais informações sobre o andamento do caso.
Segundo a mulher, na semana passada, ela esteve à procura da defensora responsável e obteve informação que a servidora não mais integrava a equipe. A Defensoria esclareceu que a informação repassada à mãe da sobrevivente se tratou de um equívoco, e que, na verdade, ocorreu uma mudança de endereço do Núcleo de Direitos Humanos e Ações Coletivas (NDHAC).
O órgão informou que vem ofertando apoio psicológico, assistência jurídica e, no que tange à instauração de processo judicial de indenização cível, o Núcleo de Direitos Humanos aguarda a finalização da ação penal.