O aumento no número de casos de Covid-19 no Ceará também é percebido dentro das unidades prisionais. Em menos de um mês, o número de presos infectados pelo coronavírus aumentou quase 35%. Conforme dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e Departamento Penitenciário (Depen), em março de 2021 o acumulado de presos contaminados era 1.576. Já em abril, até o último dia 22, os órgãos contabilizaram 2.085 internos infectados.
A doença também avança entre os servidores ligados ao Sistema Penitenciário do Ceará e, como consequência, aumentam os óbitos. Enquanto em 24 de março, CNJ e Depen registravam 719 servidores infectados, no último mês o número chegou a 1.015. Entre presos, servidores públicos e terceirizados, o quantitativo de mortes aumentou 83% passando de seis para 11 óbitos em um mês.
O balanço do CNJ e do Depen também mostra o comparativo entre os números de cada estado. Segundo as estatísticas, o Ceará é o 11º Estado do Brasil com maior população prisional infectada, e o 6º Estado com mais servidores que testaram positivo para Covid-19. Em ambos os públicos, São Paulo ocupa a primeira colocação.
A Secretaria da Administração Penitenciária do Ceará (SAP-CE) contabiliza que, até a última sexta-feira (30) foram registrados quatro óbitos de policiais penais, seis de internos e dois colaboradores da Pasta em decorrência da Covid-19. O número já está acima do contabilizado pelo CNJ e Depen. A SAP destaca que desde o início da pandemia realizou mais de 20 mil testes entre internos e servidores, como forma de rastreamento de novos casos e medidas precoces de isolamento.
Para o presidente do Conselho Penitenciário (Copen), Cláudio Justa, se observado o cenário fora das prisões no Ceará, o número de casos "ainda está abaixo da expectativa, por conta da adoção dos protocolos sanitários".
Cláudio Justa destaca que a permanente entrada e saída de presos ajuda o vírus a circular mais rapidamente. "O número de presos provisórios no Ceará ainda é muito alto. Dos 23 mil, 16 são flutuantes. Novas prisões ocorrem, presos saem das ruas e vão ao Sistema Penitenciário. Tudo isso, de alguma forma, é um fator de comprometimento à segurança sanitária.
Ouça entrevista do presidente do Copen
A advogada do Pastoral Carcerária, Ruth Leite, corrobora o problema da superlotação nas unidades prisionais do Ceará e pontua que a testagem só acontece depois que preso ou policial penal apresenta sintomas gripais.
"Se diz que estão sendo observados todos os procedimentos, que quando positivado é separado, que todas as medidas de segurança sanitária estão sob controle, mas ao mesmo recebemos telefonemas de familiares pedindo socorro. Não estamos com visita presencial, a última vez que entramos foi em dezembro. Estão acontecendo as inspeções virtuais", afirmou Ruth.
E aí como se isola algo que é superlotado? É um problema histórico, e que piorou com as cadeiras do interior sendo fechadas"
Enfrentamento
Em nota enviada à reportagem, a SAP ressaltou que permanece com a estrutura de Enfermaria Máxima de Saúde para isolar e tratar da forma mais adequada os internos com sintomas ou que testam positivo para Covid-19.
internos atualmente estão em tratamento para quadro leve da doença, todos são oriundos da Delegacia de Capturas
Ainda de acordo com a Pasta, como estratégia para tentar coibir a disseminação do vírus, seguem suspensas as visitas de familiares aos presos e o atendimento da Casa do Albergado. As visitas foram suspensas desde o dia 20 de fevereiro.
Vacinação
A SAP também já começou a vacinação de policiais penais e de detentos. Os primeiros presos idosos imunizados foram da Unidade Prisional Irmã Imelda Lima Pontes. Foram 225 doses do imunizante da Universidade de Oxford/AstraZeneca disponibilizada à Secretaria.
Já os primeiros servidores da SAP a receberam as 278 doses da vacina eram do Centro de Execução Penal e Integração Social Vasco Damasceno Weyne (CEPIS), da Enfermaria Máxima de Saúde, além das campanhas do Centro de Eventos e de alguns municípios.